Arquivo Professoras da Chapa 2 nas Eleições de 1985 do Sindicato dos Professores. HISTÓRIA SINDICAL | <strong>por</strong> Denilson Cajazeiro 80 anos com muita participação feminina Mulheres assumem protagonismo nas lutas do Sinpro Minas 6
O Sinpro Minas completou, em fevereiro de <strong>2013</strong>, 80 anos de história. Durante essa trajetória, centenas de professores, entre eles muitas mulheres, assumiram a difícil tarefa de dirigir uma entidade sindical que esteve envolvida nas grandes lutas do povo brasileiro. Da campanha a favor da anistia aos cassados pelo regime militar às greves <strong>por</strong> uma educação de qualidade, com melhores salários e condições de trabalho dos professores, não foram poucas as batalhas de que o sindicato participou. Uma dessas lutas ficou conhecida como o “lobby do batom”. Em meados da década de 80, lideranças feministas passaram a circular pelos corredores do Congresso para pressionar os parlamentares a incluírem, na Constituinte, propostas de interesse das mulheres. Em novembro de 1987, as diretoras do Sinpro Minas Lavínia Rosa, Elizabeth Mateus e Maria da Conceição Miranda também participaram de um encontro, em Brasília, que aprofundou o debate acerca de uma Constituição mais igualitária. Durante três dias, cerca de 470 mulheres, representando diversas categorias profissionais, discutiram, no “I Encontro Nacional A Mulher e as Leis Trabalhistas”, temas como jornada de trabalho, direitos da reprodução, garantia de emprego, a situação das trabalhadoras domésticas e rurais, entre outros. Dali saíram diversas resoluções que ajudaram na elaboração dos dispositivos previstos na Constituição. Ao longo dessas oito décadas de história, duas mulheres presidiram o Sinpro Minas. Uma d<strong>elas</strong> é Inês Assunção Teixeira, que esteve à frente da entidade entre 1983 e 1986, anos em que o sindicato e a sociedade civil participaram das Diretas Já, uma das maiores manifestações populares do país que reivindicava a realização de eleições presidenciais diretas no Brasil. “Foram muitos desafios, alguns inesperados, mas foi um tempo muito feliz, bonito. O sindicato nos coloca a serviço do coletivo”, afirma Inês Teixeira, ao lembrar das greves e assembleias de professores. A ex-presidente conta que, na época da eleição para a diretoria do sindicato, chegou a esconder a gravidez, com medo de perder votos. “Achei que poderiam pensar que uma mulher grávida não teria condições de se dedicar à luta sindical”, revela Inês Teixeira, que hoje é professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e trabalha, entre outros temas, com o cinema na sala de aula. Segundo ela, as mulheres que participam do mundo sindical enfrentam desafios maiores, quando comparados aos dos homens. “A luta sindical é desafiante, mas para a mulher é dobrado. Em geral, na vida da mulher, o tempo é sempre menor para a formação profissional, política”, aponta a professora. Em sua avaliação, as mulheres sindicalistas possuem muita representatividade, mas enfrentam mais barreiras. “Você tem desafios multiplicados. Temos a mesma capacidade de negociação, de defender uma proposta, mas enfrentamos mais resistência. Quando um homem fala, como diz Focault, ele já está legitimado. A mulher tem de ir se legitimando, construir uma respeitabilidade pública”, afirma. De acordo com ela, as entidades precisam oferecer mais condições para que as mulheres participem da luta sindical. “Os sindicatos precisam pensar em formas de facilitar a participação feminina, lembrar que somos diferentes, mas somos iguais no direito. Temos os mesmos direitos de participar da esfera pública”. A outra mulher que presidiu o Sinpro Minas é Celina Alves Padilha Arêas. Atual diretora do sindicato e secretária de Formação e Cultura da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Celina Areas foi presidenta entre 1995 e 2000, em duas gestões. Foram anos difíceis para os trabalhadores brasileiros, devido às políticas neoliberais da década de 90, o que não inibiu a luta do sindicato em defesa dos professores. “Acho que, no Sinpro Minas, com todas as dificuldades, fazemos uma gestão compartilhada, onde nós, mulheres, temos mais condições de dar opinião”, afirma a diretora. Segundo ela, a experiência de presidir o sindicato, que representa uma categoria majoritariamente feminina (cerca de 80% do total), foi gratificante. “Sempre tivemos o respeito da categoria. A experiência valeu a pena. É uma escola. Valeu, mas acho que ainda temos de fazer uma política de inclusão das mulheres no movimento sindical e na política, pois as condições não são iguais”, diz Celina Areas, e lembra ainda que, das cinco centrais sindicais hoje reconhecidas, nenhuma d<strong>elas</strong> tem uma mulher na presidência. A diretora defende também que os sindicatos ampliem as ações de gênero, como a revista <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong>. “O Sinpro Minas vem numa luta crescente. Desde a retomada [em 1980], o sindicato vem crescendo. É a continuidade de uma concepção sindical classista, em que se tem consciência de que é preciso lutar tanto na questão econômica, quanto na política e ideológica. Penso que estamos no caminho certo”, afirma, otimista, a diretora do Sinpro Minas, entidade na qual quase a metade da atual direção é composta <strong>por</strong> mulheres.ø <strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - março <strong>2013</strong> 7