Conciente_Fevereiro2017
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Para os consumistas o desejo de posse surge<br />
como central nas suas vidas, acreditando que dos<br />
bens-materiais depende a sua felicidade, sendo o<br />
número e a qualidade destes o critério pelo qual<br />
julgam o seu próprio sucesso e o dos outros.<br />
Contudo, segundo um estudo dos investigadores<br />
Richins e Dawson em 1992, o prazer provindo da<br />
aquisição de bens-materiais e benefícios<br />
rapidamente se esvai, funcionando como um<br />
ciclo vicioso que de imediato nos leva a desejar<br />
mais. Por conseguinte, o consumismo parece<br />
minar gradualmente a nossa saúde mental,<br />
levando-nos a sentirmo-nos menos satisfeitos<br />
com a nossa vida, connosco próprios e com os<br />
outros, mantendo-nos cativos de sentimentos de<br />
baixa autoestima e solidão, e, muitas vezes,<br />
conduzindo ao consumo abusivo de substâncias<br />
psicoativas.<br />
Há várias décadas que a investigação no âmbito<br />
das neurociências e das ciências<br />
comportamentais tem estabelecido que o<br />
assegurar da satisfação das nossas necessidades<br />
psicológicas mais inatas – de afeto, autonomia e<br />
competência – tem um efeito positivo na nossa<br />
saúde mental, tornando-nos mais resilientes.<br />
Neste seguimento, uma das formas de reduzir a<br />
tendência para comportamentos de consumo<br />
pode partir do encorajamento da prática de<br />
meditação e de exercícios de redução do stress,<br />
aos quais tem sido associado um efeito contrário<br />
ao do materialismo. Ou seja, ao passo que o<br />
consumismo nos orienta para um estado de<br />
autossuficiência, em que todos os nossos esforços<br />
são colocados a favor dos nossos objetivos<br />
pessoais, alienando-nos dos outros e tornandonos<br />
mais competitivos e egoístas, a meditação<br />
permite um alívio do sofrimento desnecessário,<br />
ancorando-se numa compreensão mais profunda<br />
da nossa mente e do mundo exterior.<br />
Em termos terapêuticos, nas últimas décadas,<br />
têm sido sistematicamente reconhecidos os<br />
benefícios da meditação, atualmente convertidos<br />
nas abordagens terapêuticas focadas no<br />
mindfulness. O mindfulness pode ser entendido<br />
como uma qualidade da consciência que nos<br />
permite direcionar a nossa atenção para “o aqui e<br />
agora”, numa postura de aceitação plena, sem a<br />
interferência de experiências prévias e de<br />
preocupações com o futuro. Desta forma,<br />
permite-nos viver o momento presente,<br />
reconhecendo a natureza temporária dos nossos<br />
pensamentos e sentimentos, estimulando um<br />
estado de consciência mais claro e um maior<br />
insight sobre o mundo exterior.<br />
Numa investigação recente, Wang e<br />
colaboradores demonstraram que indivíduos que<br />
se envolvem frequente e continuamente no<br />
treino de estratégias de mindfulness conseguem<br />
mais facilmente descentrar-se dos seus desejos<br />
materialistas e percebê-los apenas como estados<br />
mentais transitórios, conseguindo assim<br />
suspender a influência negativa do consumismo.<br />
A estabilidade que o treino de mindfulness<br />
permite desenvolver parece, pois, enfraquecer a<br />
ligação existente entre a motivação e o<br />
comportamento, particularmente forte nos<br />
indivíduos com problemas de consumismo,<br />
permitindo um julgamento mais racional e<br />
menos automatizado perante estímulos que<br />
apelem ao consumo. Adicionalmente, o<br />
desenvolvimento de competências de<br />
mindfulness parece facilitar a persecução de<br />
objetivos consistentes com as nossas<br />
necessidades psicológicas mais básicas,<br />
prevenindo problemas depressivos, de ansiedade<br />
e de impulsividade, assim como, outras<br />
vulnerabilidades psicológicas.<br />
Fevereiro CONSCIENTE 11