SENTIDOS SOCIAIS Cultura de Por Cláudia Oliveira ‘Se acreditamos que não somos suficientemente bons, atrativos e competentes aos olhos dos outros, a nossa mente vai procurar colmatar essa desvantagem’ 8 CONSCIENTE Fevereiro
É inegável o quanto a cultura do consumo se tem tornado a nossa própria cultura, moldando as nossas mentes e corpos, afirmando-se em todas as superfícies e plataformas, retaliando contra os que procuram distanciar-se da sua influência, tentando, pouco a pouco, desintegrálos e diferenciá-los do núcleo social. Como um poderoso mecanismo de compensação emocional, na generalidade das pessoas, o impulso para o consumo parece funcionar como um sedativo, trazendo consigo uma sensação de alívio do mal-estar psicológico. Os enredos desta cultura de consumo excessivo parecem emergir da maneira como construímos a nossa perceção de nós próprios… Se acreditamos que não somos suficientemente bons, atrativos e competentes aos olhos dos outros, a nossa mente vai procurar colmatar essa desvantagem, levando-nos a sentir necessidade de possuir os recursos que os outros têm, de superá-los. E aqui surge uma das motivações do consumo, o desejo de alcançar um estatuto social superior, de estar bem posicionado no ranking social, de satisfazer de uma forma enviesada uma necessidade primária – a de pertença e de aceitação pelo nosso grupo. Evolucionariamente, o ser-humano sempre beneficiou da vida em grupo, quer pelas vantagens no que se refere à proteção contra predadores e ameaças físicas, quer na criação de vínculos afetivos e na transmissão de conhecimentos e fundamentos culturais. Porém, a vida em grupo pressupõe uma organização hierárquica que, por mais ténue que nos pareça, muitas vezes se torna fonte de emoções negativas e de sofrimento psicológico. Independentemente dos recursos do país em que vivamos e do seu grau de desenvolvimento, sabemos intrinsecamente que a persecução de objetivos socialmente valorizados nos tornará mais aceites pelo nosso grupo, e mais bem posicionados na sua hierarquia, e que o contrário significará alienação, exclusão e sentimentos de desvalorização e de desesperança. Assim, onde quer que nos encontremos estamos sujeitos à influência de vários grupos, a que estão subjacentes modelos de liderança e subordinação, pressupostos que nos orientam no sentido de nos sentirmos mais ou menos bem integrados. Ao longo da sua vida, o ser-humano precisa de continuar a sentir-se incluído e de construir uma identidade enquanto membro do seu grupo. É claro que mais facilmente o fará se as necessidades básicas de vinculação e segurança lhe tiverem sido asseguradas ao longo do seu desenvolvimento, sentindo-se confiante para partir à descoberta do seu papel na comunidade, para explorar novas oportunidades e lidar com as adversidades. Porém, quando estas necessidades básicas não estão satisfeitas, tudo se torna mais difícil, mais doloroso, ou mais exigente… ‘..o impulso para o consumo parece funcionar como um sedativo..’ Fevereiro CONSCIENTE 9