Conciente_Fevereiro2017
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É inegável o quanto a cultura do consumo se<br />
tem tornado a nossa própria cultura, moldando<br />
as nossas mentes e corpos, afirmando-se em<br />
todas as superfícies e plataformas, retaliando<br />
contra os que procuram distanciar-se da sua<br />
influência, tentando, pouco a pouco, desintegrálos<br />
e diferenciá-los do núcleo social. Como um<br />
poderoso mecanismo de compensação<br />
emocional, na generalidade das pessoas, o<br />
impulso para o consumo parece funcionar como<br />
um sedativo, trazendo consigo uma sensação de<br />
alívio do mal-estar psicológico. Os enredos<br />
desta cultura de consumo excessivo parecem<br />
emergir da maneira como construímos a nossa<br />
perceção de nós próprios… Se acreditamos que<br />
não somos suficientemente bons, atrativos e<br />
competentes aos olhos dos outros, a nossa<br />
mente vai procurar colmatar essa desvantagem,<br />
levando-nos a sentir necessidade de possuir os<br />
recursos que os outros têm, de superá-los. E<br />
aqui surge uma das motivações do consumo, o<br />
desejo de alcançar um estatuto social superior,<br />
de estar bem posicionado no ranking social, de<br />
satisfazer de uma forma enviesada uma<br />
necessidade primária – a de pertença e de<br />
aceitação pelo nosso grupo.<br />
Evolucionariamente, o ser-humano sempre<br />
beneficiou da vida em grupo, quer pelas<br />
vantagens no que se refere à proteção contra<br />
predadores e ameaças físicas, quer na criação de<br />
vínculos afetivos e na transmissão de<br />
conhecimentos e fundamentos culturais. Porém,<br />
a vida em grupo pressupõe uma organização<br />
hierárquica que, por mais ténue que nos pareça,<br />
muitas vezes se torna fonte de emoções<br />
negativas e de sofrimento psicológico.<br />
Independentemente dos recursos do país em<br />
que vivamos e do seu grau de desenvolvimento,<br />
sabemos intrinsecamente que a persecução de<br />
objetivos socialmente valorizados nos tornará<br />
mais aceites pelo nosso grupo, e mais bem<br />
posicionados na sua hierarquia, e que o<br />
contrário significará alienação, exclusão e<br />
sentimentos de desvalorização e de<br />
desesperança. Assim, onde quer que nos<br />
encontremos estamos sujeitos à influência de<br />
vários grupos, a que estão subjacentes modelos<br />
de liderança e subordinação, pressupostos que<br />
nos orientam no sentido de nos sentirmos mais<br />
ou menos bem integrados. Ao longo da sua vida,<br />
o ser-humano precisa de continuar a sentir-se<br />
incluído e de construir uma identidade<br />
enquanto membro do seu grupo. É claro que<br />
mais facilmente o fará se as necessidades<br />
básicas de vinculação e segurança lhe tiverem<br />
sido asseguradas ao longo do seu<br />
desenvolvimento, sentindo-se confiante para<br />
partir à descoberta do seu papel na<br />
comunidade, para explorar novas<br />
oportunidades e lidar com as adversidades.<br />
Porém, quando estas necessidades básicas não<br />
estão satisfeitas, tudo se torna mais difícil, mais<br />
doloroso, ou mais exigente…<br />
‘..o impulso<br />
para o<br />
consumo<br />
parece<br />
funcionar como<br />
um sedativo..’<br />
Fevereiro CONSCIENTE 9