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marketing & negóciOs<br />
ValeryBrozhinsky/iStock<br />
O ataque dos<br />
sites zumbis<br />
As frau<strong>de</strong>s na publicida<strong>de</strong> digital po<strong>de</strong>m<br />
superar os US$ 16 bilhões neste ano<br />
Rafael Sampaio<br />
Duas matérias investigativas sobre as<br />
frau<strong>de</strong>s na internet, feitas pelo portal<br />
BuzzFeed News, <strong>de</strong>monstraram que os criminosos<br />
digitais estão cada dia mais sofisticados<br />
e sabem usar muito bem os intricados<br />
meandros do universo das adtechs para<br />
organizar esquemas capazes <strong>de</strong> enganar<br />
anunciantes, agências e até as empresas<br />
sérias da internet. Fazem isso através <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> sites falsos, que mimetizam a <strong>de</strong>nominação<br />
e a aparência <strong>de</strong> sites verda<strong>de</strong>iros<br />
e confiáveis para gerar tráfego inexistente<br />
– movimentados pelos adbots <strong>de</strong> última<br />
geração –, que enganam toda a ca<strong>de</strong>ia envolvida<br />
e ficam com recursos <strong>de</strong> marcas<br />
atraídas pelas promessas <strong>de</strong> alta precisão<br />
na exibição <strong>de</strong> seus ví<strong>de</strong>os comerciais.<br />
Mas é tudo falso: o nome do site, seu<br />
conteúdo e os clicks <strong>de</strong> pretensos consumidores,<br />
que na verda<strong>de</strong> proveem das “fazendas”<br />
<strong>de</strong> clicks feitos por computadores que<br />
simulam <strong>de</strong> forma sofisticada o comportamento<br />
das pessoas. Esses sites zumbi, que<br />
são em número <strong>de</strong>sconhecido, mascaram<br />
sua ativida<strong>de</strong> do começo ao fim, inclusive<br />
utilizando serviços conhecidos <strong>de</strong> aferição<br />
<strong>de</strong> tráfego na net e aparecendo como extensões<br />
ou parceiros <strong>de</strong> sites reais.<br />
Eles se aproveitam das falhas do sistema,<br />
que inclusive leva gran<strong>de</strong>s anunciantes<br />
globais e suas agências a serem complacentes<br />
com essas frau<strong>de</strong>s, para evitar<br />
terem expostas as falhas <strong>de</strong> seus processos<br />
<strong>de</strong> seleção, checking e pagamento <strong>de</strong> clicks<br />
efetivados. Essa complacência faz com que<br />
as ações contra esses piratas da internet<br />
não sejam levadas às últimas consequências,<br />
tanto porque não se <strong>de</strong>nuncia o crime<br />
às autorida<strong>de</strong>s competentes e nem mesmo<br />
admite-se publicamente que o problema<br />
aconteceu – provavelmente para evitar responsabilização<br />
por parte <strong>de</strong> seus clientes<br />
(no caso <strong>de</strong> agências e veículos) como <strong>de</strong><br />
seus acionistas (no caso dos anunciantes).<br />
As excelentes matérias (que po<strong>de</strong>m ser<br />
acessadas buscando-se “zombies websites”<br />
no BuzzFeed) dão “nome a todos os<br />
bois”, <strong>de</strong> empresas adtechs a empresários<br />
digitais, bem como dos sites sérios que foram<br />
parasitados pelo esquema e das <strong>de</strong>zenas<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s anunciantes prejudicados.<br />
Entre os exemplos mais rumorosos<br />
<strong>de</strong>staca-se o do MySpace, a pioneira re<strong>de</strong><br />
social <strong>de</strong> sucesso, que praticamente <strong>de</strong>sapareceu<br />
e hoje pertence à Time Inc., mas<br />
que explodiu em acessos, na faixa <strong>de</strong> quase<br />
10 milhões, no verão (americano) passado,<br />
através <strong>de</strong> um novo serviço <strong>de</strong> exibição <strong>de</strong><br />
ví<strong>de</strong>os que se mostrou totalmente falso.<br />
Quando a matéria do BuzzFeed foi ao ar,<br />
a extensão foi retirada da homepage imediatamente<br />
e a <strong>de</strong>sculpa dada foi <strong>de</strong> que era<br />
apenas um teste e todos os esforços seriam<br />
feitos para que a situação não ocorresse novamente.<br />
O esquema criminoso funciona no sistema<br />
<strong>de</strong> sourced traffic, ou seja, audiência<br />
gerada por uma imensa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> outros sites<br />
acoplados e, quando <strong>de</strong>scoberto, os responsáveis<br />
afirmam que os eventuais prejuízos<br />
para os anunciantes teriam sido mínimos e<br />
serão apurados.<br />
Como vem ocorrendo nos últimos anos,<br />
quando esquemas semelhantes foram <strong>de</strong>scobertos<br />
e as “apurações” não <strong>de</strong>ram em<br />
nada, os criminosos do setor costumam<br />
ficar impunes, continuam se aproveitando<br />
das imensas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se escon<strong>de</strong>rem<br />
atrás do intricado ecossistema<br />
da internet e seguem agindo, inventando<br />
formas cada vez mais sofisticadas <strong>de</strong> pegar<br />
uma parte consi<strong>de</strong>rável das verbas publicitárias<br />
– geralmente advinda <strong>de</strong> jornais,<br />
revistas, rádio e guias, já que a TV tem se<br />
mostrado mais imune a essa sangria criminosa<br />
<strong>de</strong> seus recursos.<br />
Cálculos indicam que as frau<strong>de</strong>s na publicida<strong>de</strong><br />
digital po<strong>de</strong>m superar os US$ 16<br />
bilhões neste ano e, segundo a entida<strong>de</strong><br />
mundial dos gran<strong>de</strong>s anunciantes, a WFA,<br />
em poucos anos só per<strong>de</strong>rá em termos <strong>de</strong><br />
volume para o tráfego internacional <strong>de</strong><br />
drogas.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafael.sampaio@uol.com.br<br />
18 6 <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2017</strong> - jornal propmark