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editorial<br />
Armando Ferrentini<br />
aferrentini@editorareferencia.com.br<br />
<strong>de</strong>stravar<br />
tão esperada retomada dos negócios, que tradicionalmente ocorre entre<br />
nós após o Carnaval, parece estar parcialmente comprometida es-<br />
A<br />
te ano, em virtu<strong>de</strong> do imenso nó górdio que foi imposto ao país pelo setor<br />
podre da classe política brasileira.<br />
Não que não tenha melhorado. Um pouco, mas melhorou. Assistimos, em<br />
meio ao segundo semestre do ano passado, à primeira etapa <strong>de</strong>sse processo,<br />
que foi a paralisação da queda contínua e em ca<strong>de</strong>ia da economia, que<br />
abrangeu praticamente todos os setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s.<br />
A partir daí, inauguramos um período <strong>de</strong> ascensão, lenta e gradual, o que<br />
animou sobremodo os players do mercado em geral.<br />
Paralelamente, porém, o lado escuro da vida nacional, representado pelo<br />
que há <strong>de</strong> pior na classe política, aqui se incluindo profissionais <strong>de</strong> todos<br />
os partidos, esse grupo, que é maioria, <strong>de</strong>cidiu resistir aos sintomas <strong>de</strong> melhora<br />
do paciente Brasil, pois, como urubus humanos, não se sente bem<br />
em ambientes higienizados.<br />
De lá para cá, tem se criado um choque gigantesco <strong>de</strong> interesse, com o<br />
povo, no seu melhor contingente, querendo acabar com a crise e retomar<br />
o caminho no mínimo da esperança. De outros vários lados, frações ainda<br />
po<strong>de</strong>rosas <strong>de</strong> sugadores do sangue alheio movimentaram-se no sentido <strong>de</strong><br />
evitar o seu ameaçado fim.<br />
Por terem mais po<strong>de</strong>r do que todos nós juntos, pois <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m as leis que<br />
<strong>de</strong>vem sair e as que não <strong>de</strong>vem, e como interpretá-las a seu favor quando<br />
dúvidas ou mesmo certezas os ameaçam, conseguem no mínimo atrapalhar<br />
a retomada, muitos até disfarçando suas intenções, com vistas a não<br />
comprometerem seu futuro político, que, apesar <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> nós<br />
que um dia teremos todos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a votar. Cabe, a propósito, neste<br />
momento do texto, uma sugestão: não <strong>de</strong>vemos reeleger ninguém em outubro,<br />
absolutamente ninguém. Se dois ou três <strong>de</strong>les merecerem, paciência.<br />
Pagarão pelo fato <strong>de</strong> não terem conseguido brecar o ímpeto dos maus,<br />
embora sendo minoria.<br />
Por tudo isso, rapidamente aqui <strong>de</strong>monstrado, começamos a per<strong>de</strong>r o controle<br />
do jogo, que era nosso até o fim do ano passado.<br />
Já dá para sentir que muitos sonhos tão bem sonhados pela maioria do<br />
povo brasileiro não passarão disso. Aí está a reforma da Previdência, que<br />
qualquer cidadão, minimamente aculturado, sabe que a manutenção do<br />
atual status vai nos arrebentar a curto prazo. Os leitores lembram do que<br />
suce<strong>de</strong>u – e não faz muito – à Grécia e a Portugal.<br />
O que queremos? Queremos – não apenas queremos, como necessitamos<br />
com urgência – que o Brasil possa resistir aos <strong>de</strong>scalabros que prosseguem<br />
a olhos vistos, que em outubro tomemos consciência <strong>de</strong> que o ato <strong>de</strong> votar<br />
não começa e termina na ida até a urna eletrônica, mas muito antes <strong>de</strong>la,<br />
ao escolhermos cuidadosamente nossos candidatos, e <strong>de</strong>pois da urna, revelados<br />
os resultados, em movimentação constante <strong>de</strong> cobrança dos eleitos,<br />
mesmo que não tenham sido os nossos candidatos.<br />
Se nos representam, têm <strong>de</strong> nos ouvir. O voto nada mais é do que uma<br />
procuração pública que se passa a um grupo <strong>de</strong> cidadãos, para agirem em<br />
nosso nome, sem per<strong>de</strong>rmos o direito <strong>de</strong> cobrá-los constantemente sobre<br />
os seus <strong>de</strong>veres para conosco.<br />
Embora controvertido e muito criticado durante a sua gestão, Ronald Reagan,<br />
ex-presi<strong>de</strong>nte dos Estados Unidos, cunhou uma inesquecível frase na<br />
sua campanha: “Somos nós, o povo, que dizemos ao governo o que fazer,<br />
não o contrário”.<br />
Faz sentido? Faz todo sentido. É assim que é ou, no mínimo, <strong>de</strong>veria ser.<br />
Eles apren<strong>de</strong>ram rapidamente a agir em nosso nome, porém como querem.<br />
Da nossa parte, temos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r mais rapidamente ainda a lhes dar as<br />
or<strong>de</strong>ns sobre o que realmente queremos. Utopia? Não, apenas o estrito<br />
cumprimento do <strong>de</strong>ver, <strong>de</strong> parte a parte.<br />
***<br />
O ex-prefeito <strong>de</strong> São Paulo Gilberto Kassab <strong>de</strong>veria assistir ao elogiável longa<br />
Três Anúncios para um crime, candidato ao Oscar como Melhor Filme,<br />
Atriz (Frances McDormand), Ator Coadjuvante (Sam Rockwell e Woody<br />
Harrelson), Roteiro Original, Montagem e Trilha Sonora.<br />
Kassab perceberia que o seu projeto Cida<strong>de</strong> Limpa, que baniu as placas <strong>de</strong><br />
outdoor da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, foi generalista e profundamente arbitrário<br />
com o segmento econômico do outdoor. Sua lei fechou empresas que funcionavam<br />
há anos, gerou <strong>de</strong>sempregos e prejudicou a informação pública<br />
em um momento <strong>de</strong> São Paulo em que a população não estava ainda <strong>de</strong>vidamente<br />
digitalizada. E hoje está em maior número, mas não totalmente.<br />
Explico: perceba o leitor a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se localizar uma artéria na capital<br />
paulistana, sem os recursos da web. As placas indicativas estão <strong>de</strong>stroçadas<br />
e os números dos edifícios, armazéns, lojas e resi<strong>de</strong>nciais nem sempre<br />
estão afixados e/ou visíveis.<br />
Voltando ao longa: ao assisti-lo, Kassab perceberia o valor incalculável<br />
<strong>de</strong>sse meio <strong>de</strong> comunicação, que o filme explora muito bem, sendo até<br />
mesmo o ponto <strong>de</strong> partida e recorrência <strong>de</strong> toda a trama.<br />
Publicitário ou não, o leitor não <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> assistir a Três Anúncios<br />
para um Crime, título fraco, embora com tradução fiel do original em inglês,<br />
para um longa forte e extremamente atual, não apenas em cida<strong>de</strong>zinhas<br />
do meio-oeste americano on<strong>de</strong> a história se <strong>de</strong>senrola, mas principalmente<br />
nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s dos países emergentes como o Brasil, on<strong>de</strong><br />
a atuação do Estado sempre <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>sejar.<br />
***<br />
Assumindo a presidência do Bra<strong>de</strong>sco no próximo dia 12, o executivo Octavio<br />
<strong>de</strong> Lazari Júnior <strong>de</strong>u uma entrevista à Folha (11/2) que é uma antevisão<br />
<strong>de</strong> como preten<strong>de</strong> exercer a sua nova função no tradicional banco, on<strong>de</strong><br />
está <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>19</strong>78. Destaco para o leitor a frase-título da matéria: Não adianta<br />
ser uma empresa rica num país pobre.<br />
***<br />
A matéria <strong>de</strong> capa <strong>de</strong>sta edição do PROPMARK aborda o discutido tema<br />
das fake news, que aumentam <strong>de</strong> volume nas re<strong>de</strong>s sociais abertas, com<br />
boatos causando confusão e anunciantes ameaçando cortar investimentos.<br />
Nossa reportagem ouviu categorizados profissionais do mercado e<br />
presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> diversas entida<strong>de</strong>s do segmento da comunicação, sobre<br />
essa onda que preocupa, inclusive e talvez ainda mais, os usuários <strong>de</strong>ssas<br />
plataformas.<br />
***<br />
Este Editorial é em homenagem à bebê Melina Ferrentini <strong>de</strong> Oliveira,<br />
nascida na última quinta (15) em São Paulo, filha <strong>de</strong> Júnia Milani Ferrentini<br />
e Cassiano <strong>de</strong> Oliveira, símbolo da novíssima geração <strong>de</strong> brasileiros,<br />
à qual <strong>de</strong>vemos lutar para entregar um país melhor, se possível<br />
o quanto antes.<br />
jornal propmark - <strong>19</strong> <strong>de</strong> <strong>fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 3