Edição Março/Abril - 2018
Edição de Março/Abril 2018 da Revista Ferroviária
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“Revisamos tudo em nosso<br />
trabalho no dia a dia. Fazemos<br />
uma varredura. Os ajustes<br />
quase não ocorrem durante a<br />
semana. Usamos mais as madrugadas.<br />
De sábado para domingo,<br />
trabalhamos das 21h<br />
às 4h. Nos domingos, trabalhamos<br />
ainda quase que o dia<br />
todo, e é por isso que os trens<br />
chegam a intervalos de até 30<br />
minutos”, explica o supervisor geral. É o nosso primeiro<br />
contato tête-à-tête. Nos encontramos em um pequeno estacionamento<br />
para carros dos funcionários da CPTM, em<br />
uma área coligada à estação. Por uma escada, chegamos<br />
ao piso superior, com acesso às catracas.<br />
Começando a jornada<br />
Para definir o dia da troca do jacaré, entre outros ajustes<br />
nos trilhos, Martinho aciona alguns departamentos da<br />
operadora. Em geral, o Almoxarifado, Compras e o Centro<br />
de Controle de Operações, que dá o aval para o conserto<br />
em razão da demanda estimada de passageiros. Já são 26<br />
anos de CPTM e mais 15 na extinta Fepasa, empresa que<br />
respondia anteriormente pela chamada Linha Sul. A dinâmica<br />
de serviço é bem conhecida. O supervisor é técnico<br />
de agrimensura. Ele é capaz de medir e demarcar terras,<br />
fazer levantamentos topográficos e assim dar subsídios<br />
(informações) para projetos arquitetônicos e urbanísticos.<br />
“Para ampliar os conhecimentos, estou estudando engenharia<br />
civil”, conta Martinho, que não vê problema em<br />
estar na faculdade na terceira idade.<br />
Sob supervisão de Martinho, os funcionários da CPTM<br />
trazem as peças (utilizadas nos ajustes dos trilhos) da estação<br />
Presidente Altino, a cerca de meia hora de distância<br />
da estação Villa-Lobos. Eles saíram às 7h30 da base do<br />
setor de manutenção da Linha 9, em um caminhão de linha<br />
(veículo rodoferroviário). O grupo recebe pagamento<br />
de horas extras, pois as atividades costumam levar entre<br />
9 e 12 horas nos domingos. Mas para reduzir custos, as<br />
práticas mais pesadas de substituições nas vias são feitas<br />
por prestadores de serviços terceirizados, há alguns anos.<br />
A decisão do alto comando da companhia causa certo<br />
incômodo – a área de manutenção da operadora perdeu<br />
67 funcionários em 2016, conforme o último Relatório de<br />
Administração publicado no site da CPTM. Ainda assim,<br />
o líder do setor age com resiliência e reforça o respeito<br />
Trem da Linha 9-Esmeralda tem velocidade limitada a 70 km/h<br />
durante manutenção da via próxima à estação Villa-Lobos<br />
à hierarquia. O largo conhecimento<br />
do sistema como um<br />
todo, das decisões políticas às<br />
técnicas, faz com que ele coordene<br />
também os consertos na<br />
Linha 8-Diamante, entre as estações<br />
Júlio Prestes e Itapevi.<br />
Às 10h, descemos escadas e<br />
chegamos à passarela de embarque.<br />
Há poucos passageiros<br />
e um intervalo de 30 minutos<br />
entre os trens. Os sinais de cansaço e impaciência do público<br />
são evidentes. Existem pessoas com corpos inclinados<br />
para frente nos bancos. Alguns estão com as mãos<br />
segurando o queixo. A operação do sistema de transporte<br />
sobre trilhos privilegia a lógica da rotina de trabalho, durante<br />
a semana. Aos finais de semana, há a manutenção<br />
e o público, em geral com menos compromissos e sem<br />
horário apertado, precisa esperar mais.<br />
Ainda na passarela de embarque, direcionamos os olhares<br />
para um ponto de apoio para consertos de bicicletas<br />
junto à estação Villa-Lobos. Descobrimos, então, que a<br />
relação da equipe de manutenção da CPTM com os donos<br />
das “magrelas” não é lá muito prazerosa. “Para nos deslocarmos<br />
de uma estação à outra de forma ágil, com nossos<br />
equipamentos pesados, muitas vezes vamos de carro pela<br />
ciclovia. O nosso tempo geralmente é curto. Sempre foi<br />
assim antes de criarem a via para os ciclistas. Infelizmente<br />
isso causa um impacto negativo no nosso trabalho”, comenta<br />
Martinho. Logo ele desce da passarela de embarque,<br />
passa por uma portinhola e uma escada, cruza a via<br />
férrea e se desloca até um carro de apoio, que está próximo<br />
à área de consertos das bicicletas.<br />
O supervisor age de forma breve e retorna com uma caixa.<br />
Nela estão os itens obrigatórios de segurança para chegarmos<br />
às linhas. O portão frágil, já sem cadeado, e uma<br />
placa destacando o perigo ainda separam a reportagem da<br />
Revista Ferroviária da escada para o acesso aos trilhos. Há<br />
um segurança também no entorno, munido de cassetete.<br />
Segurança na via<br />
Com um par de botas, colete amarelo e capacete,<br />
partimos às 10h20 para a caminhada bem ao lado das<br />
vias permanentes. Uma delas está fechada e os trens<br />
obedecem a um revezamento. Ora sentido Osasco, ora<br />
sentido Grajaú. O ponto exato da troca do jacaré – que<br />
leva cerca de uma hora – está a 500 metros da estação,<br />
REVISTA FERROVIÁRIA | <strong>Março</strong>/<strong>Abril</strong> DE <strong>2018</strong> 27