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RESPONSABILIDADE SOCIAL JULHO <strong>2018</strong> WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM EMPREGAR COM OUTROS OLHOS Nuno Salgado trabalha há cinco anos no Vip Executive Art’s Hotel Ana Rita Justo Inês Antunes Nuno fazia controlo de qualidade de imagem quando, aos 36 anos, uma retinopatia diabética levou-o a mudar de vida. Graça, na Associação Portuguesa de Emprego de Deficientes Visuais (APEDV) há 32 anos, luta pela igualdade de oportunidades para cegos e pessoas com baixa visão. Empregar cegos ou pessoas com baixa visão é, ainda hoje, um desafio, mas também há histórias felizes. Nuno Salgado, 43 anos, nunca tinha trabalhado na área da hotelaria e uma retinopatia diabética levou-o a mudar de vida. Há cinco anos que trabalha como telefonista no Vip Executive Art’s Hotel, em Lisboa, e continua a desafiar probabilidades todos os dias. Diabético desde os 17 anos, Nuno licenciou-se em História e mais tarde especializou-se em arquivo e gestão documental, área em que trabalhou até aos 36 anos. Com o problema da diabetes a agravar-se, Nuno desenvolveu uma retinopatia diabética e teve de deixar o trabalho de tinha numa empresa de gestão documental, onde fazia controlo de qualidade de imagem. “Tenho 10% de visão no olho esquerdo e 40% no olho direito. Consigo orientar-me num espaço limitado, tenho é uma miopia constante que não é possível corrigir com lentes”, explica. Durante um ano esteve sem trabalhar, em plena crise económica no país, rebobina: “Na altura, havia milhares de pessoas que não tinham este problema e também estava à procura de trabalho, por isso ainda mais difícil era arranjar uma colocação”. Com uma filha pequena e casa para pagar, resolveu, então, procurar instituições que dessem apoio a pessoas com baixa visão e a Associação Portuguesa de Emprego de Deficientes Visuais (APEDV) foi a primeira que lhe deu resposta. “Falei com a doutora Graça Hidalgo, que me disse que tinham um curso de telefonista. Acabei por fazer esse curso, porque além da retinopatia diabética tenho síndrome de Asperger e este trabalho como telefonista integrava-se perfeitamente nisso”, adianta. DEPOIS DE UM ANO SEM TRABALHAR, NUNO TERMINOU O CURSO DA APEDV E INICIOU O ESTÁGIO NO VIP EXECUTIVE ART'S HOTEL No final do curso, a associação conseguiu com que Nuno fosse estagiar para o Vip Executive Art’s Hotel, que aceitou recebê-lo para substituir a telefonista que estava em licença de maternidade. “Ela acabou por não voltar e a vaga ficou em aberto. Como o hotel gostou do meu trabalho acabei por ficar e estou cá há cinco anos, já efetivo. Se aqui estou devo-o ao nosso diretor, José Carlos Ribeiro, e à minha chefe direta, Julieta Cabrita.” INTEGRAÇÃO FÁCIL Apesar de Nuno ter sido a primeira pessoa com baixa visão a integrar a equipa do hotel, nem por isso sentiu que isso fosse um desafio acrescido: “Foram bastante recetivos. Ainda hoje, quando veem que não consigo ler um documento, ou se tiver alguma dificuldade estão sempre prontos a ajudar-me.” O trabalho era “totalmente novo”, pelo que as dificuldades de integração foram as “normais” para quem começa uma nova atividade. Contudo, integra-se naquilo que Nuno gosta de fazer: “Tenho duas centrais telefónicas e trato de todas as chamadas, internas e externas. Falo quase todos os dias com qualquer parte do mundo.” Com uma filha de 13 anos, Nuno é um exemplo de resiliência no meio da adversidade. Além do trabalho, também pratica esgrima, defesa pessoal e corrida e este ano vai escalar os Pirenéus, uma iniciativa da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), onde é seguido. 23