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PME Magazine - Edição 9 - Julho 2018

Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, é o grande entrevistado da edição de julho da PME Magazine. Leia já aqui.

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RESPONSABILIDADE SOCIAL<br />

FORMAÇÃO PARA AJUDAR<br />

NA EMPREGABILIDADE<br />

Graça Hidalgo é a atual coordenadora pedagógica da<br />

APEDV. A instituição nasce em 1980 quando o fundador,<br />

Assis Milton, “que era cego e tinha ascendência goesa,<br />

mas tinha vindo de Moçambique, achou que os cegos<br />

podiam ser mais do que pedintes”, recorda a responsável.<br />

Em 1986, o pai era formador na instituição e Graça foi<br />

fazer voluntariado num verão, até que o fundador, Assis<br />

Milton, lhe pediu que ficasse: “Passei a inscrição da<br />

faculdade para o curso noturno e estou na APEDV há 32<br />

anos.”<br />

Nessa altura, Graça tinha uma “miopia normalíssima” e<br />

apenas usava lentes de contacto, até que um dia começou<br />

a ver “ondulado” do olho esquerdo. Entre várias crises<br />

e exames de diagnóstico falhados, anos mais tarde<br />

foi-lhe diagnosticada uma degenerescência macular,<br />

que normalmente acontece em pessoas idosas e que<br />

causa hemorragias, a partir das quais são desenvolvidas<br />

cicatrizes que impedem a visão. Com a sucessão de<br />

hemorragias, Graça deixara de ver dos dois olhos. Em<br />

1998, submeteu-se a um tratamento inovador com laser<br />

e recuperou 20% da visão no olho direito, do esquerdo já<br />

não foi possível.<br />

50 A 100 CONTACTOS POR UM ESTÁGIO<br />

Todos os anos a APEDV recebe 65 formandos em cursos<br />

com turmas de entre seis a 12 pessoas. A empregabilidade<br />

não é um dado adquirido, mas por vezes há surpresas:<br />

“Já tivemos anos em que as 12 pessoas [do curso]<br />

eram empregadas”. O estágio de fim de curso dura,<br />

por norma, um ano, sendo a altura em que “as pessoas<br />

criam laços e mostram que fazem um trabalho tão válido<br />

como os outros”. Contudo, há sempre obstáculos.<br />

APEDV RECEBE 65 FORMANDOS<br />

TODOS OS ANOS. AS TURMAS TÊM<br />

ENTRE 6 A 12 PESSOAS<br />

“Às vezes, para conseguir um estágio sou capaz de fazer<br />

50 a 100 telefonemas”, lamenta, mas há mais: “Em 1986<br />

tínhamos uma arma poderosa, que eram os subsídios<br />

para a contratação de pessoas com deficiência. Neste<br />

momento não podemos aliciar nenhum empregador com<br />

as medidas de contratação. São simpáticas, mas muito<br />

trabalhosas.”<br />

Porém, há situações em que a recetividade é imediata:<br />

“Quando ligamos e há um sim redondo do outro lado há<br />

sempre um avô, ou um pai, ou um amigo que tem deficiência.”<br />

PROFISSIONAIS IGUAIS AOS OUTROS<br />

Graça Hidalgo coordenadora pedagógica da APEDV<br />

Falta-lhe a tridimensionalidade, mas a trabalhar ninguém<br />

nota a sua falta de visão: “Faço tudo no computador.”<br />

Graça é responsável pelos cursos da APEDV, que neste<br />

momento são três: técnicos e auxiliares de fisioterapia,<br />

novas tecnologias e comunicação e artesanato.<br />

O artesanato, explica, é bom para as pessoas que têm<br />

deficiência visual “poderem continuar a fazer a sua<br />

vida independente”. “Aprendem encordoamentos, macramés,<br />

tecelagem, tapeçaria, trabalhos que são facilmente<br />

vendáveis e que são um complemento aos subsídios<br />

que já têm”, acrescenta.<br />

O curso de técnicos e auxiliares de fisioterapia, adianta,<br />

é um “ex-libris” das pessoas com deficiência visual pela<br />

sensibilidade ao tato e o de novas tecnologias e comunicação<br />

foi criado na sequência do curso de telefonista<br />

em que Nuno Salgado participou, porque, diz Graça, “a<br />

função de telefonista está cada vez mais diluída”.<br />

As estatísticas mais recentes sobre a empregabilidade<br />

de pessoas com deficiência visual em Portugal remontam<br />

aos Censos de 2011. Na altura, a população ativa<br />

de pessoas cegas ou com dificuldade em ver era de<br />

216.512 pessoas. Destas, 173.301 estavam empregadas<br />

e 43.211 estavam desempregadas. A população inativa<br />

era de 685.064 pessoas e havia 533.393 aposentados.<br />

Para Graça, empregar uma pessoa com deficiência visual<br />

é tão só uma questão de oportunidade.<br />

“O grande desafio é mostrarem que são profissionais<br />

à altura de qualquer outro. Temos situações em que,<br />

quando vamos fazer a integração de alguém perguntam:<br />

‘Se calhar precisam de equipamento especial’. E não, é<br />

um computador igual aos outros e basta uma pen com<br />

um programa gratuito que colocamos no computador<br />

e deixa a pessoa perfeitamente autónoma”, explica,<br />

adiantando que os avanços nas novas tecnologias foram<br />

essenciais para uma integração cada vez maior das<br />

pessoas com baixa visão.<br />

“Há aplicações que dizem se a luz está acesa, se isto é<br />

preto ou castanho, o GPS é fantástico. Tenho pessoas<br />

que me dizem que vão dentro do autocarro e sabem<br />

exatamente onde estão.”<br />

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