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com o filho de industrial importante, do<br />
ramo de joias. Namoraram anos a fio. Viajavam<br />
para o exterior, compravam presentes<br />
para as filhas da nova companheira,<br />
que já eram adolescentes. Marcavam presença.<br />
O namorado, no entanto, não queria ficar<br />
apenas como um agregado subalterno.<br />
Para provar sua importância no relacionamento,<br />
botou na cabeça que queria um filho.<br />
A mãe, coitada, já com ligadura de<br />
trompa para evitar a gravidez, não esperava<br />
por isto. Mas o namorado pagou médicos<br />
de São Paulo e Rio. Tanto insistiu, que não<br />
houve escapatória. Ana Maria cedeu e teve<br />
que se submeter a outras três cirurgias<br />
para reverter o quadro e tornar-se mãe aos<br />
cinquenta. O menino nasceu saudável, com<br />
muita disposição e muito amor para receber<br />
de todos: pai, padrasto, mãe e irmãs.<br />
Aconteceu, como tinha que acontecer<br />
em casos complicados como este, que a<br />
mãe e o novo pai não se casaram. Era<br />
cada um no seu lar. Ele, rico, morando<br />
com a mãe. Ela, enfermeira aposentada,<br />
morando com os três filhos. As duas irmãs,<br />
lindas como a mãe.<br />
O menino foi crescendo e viajando pelo<br />
mundo afora. Algumas vezes, em companhia<br />
do casal. Outras, apenas com o pai.<br />
Suas roupas eram da marca mais fina que<br />
se podia escolher na época. Não tinha<br />
amigos na escola. Nunca teve. Era o reizinho<br />
dentro da casa, tanto materna quanto<br />
paterna. Era o suficiente para ele.<br />
Um belo dia, a irmã mais velha entrou<br />
na faculdade, ou pelo menos passou no<br />
vestibular para uma faculdade particular.<br />
O pai natural, que agora também já tinha<br />
outros filhos com a segunda mulher, não<br />
teve condições de pagar as mensalidades.<br />
Coisa boba, né?<br />
Não. A tensão na casa do reizinho começou<br />
a esquentar justamente nesse momento.<br />
Aos poucos, as duas irmãs se viraram<br />
contra o pobre rico, que crescia<br />
cada vez mais em busca de um reinado<br />
absolutista. As brigas começaram. De menino<br />
bonitinho, pra cá e pra lá, passou a<br />
ser o “veadinho” pra lá e pra cá. A mãe já<br />
não tinha idade para segurar a barra. E o<br />
pai do reizinho continuava dando mimos<br />
de ouro e diamante a seu filhinho querido.<br />
Para a faculdade, nada.<br />
Depois de querelas indescritíveis, a mãe<br />
tomou o partido de suas duas filhas e foi<br />
ao juiz explicar que, mesmo sendo pessoa<br />
de pouca renda, também daria conta do<br />
recado: “Mais um na mesa não vai fazer<br />
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JULHO DE <strong>2018</strong> • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR