Matéria Prima 102 - Julho 2018 - web

HERANÇA ANTECIPADA Mais um caso, que
comprova as diferentes lutas de classe
dentro de uma família. Um senhor aposentado,
que trabalhou anos e anos para
o governo federal, casou-se quatro vezes.
Com cada esposa teve um romance de
muito amor, que acabou resultando em
um filho de cada mulher.
Também não vamos citar o nome des -
se ilustre e prolífico aposentado, que
sem pre pagou um salário mínimo a cada
uma das ex-esposas. Pagava em dia. Com
três das mulheres, nunca teve problemas,
nem com os respectivos filhos. Elas se
casaram novamente e vivem felizes. Mas
a quarta mulher não tinha de onde retirar
recursos, a não ser do bolso do funcionário
aposentado.
O dinheiro, que ela recebia para custear
os estudos do menino, acabava sendo desviado
para outras causas, que não vêm
ao caso. Enfim, o menino fez alguns cursos,
passou em alguns vestibulares, mas
nunca concluiu coisa alguma. E sempre
dependendo da mesada do pai.
Um belo dia, este querido aposentado
sofre um ataque cardíaco quase fulminante.
Foi levado às pressas para o hospital,
aonde chegou mais morto do que vivo.
Passaram-se três dias e nada de melhoras.
Os médicos já não tinham esperanças.
O filho da quarta mulher, então, levado
ou não por sua mãe, resolveu fazer uma
“limpa” no apartamento do pai. Seu primeiro
empreendimento foi vender o carro
novinho do aposentado, cujo seguro ainda
não havia sido efetuado. Como não tinha
os documentos, o veículo foi parar numa
uma oficina de desmanche das redondezas.
E o aposentado não apresentava melhoras.
Cheio de boa vontade, o nosso jovem
filho resolveu antecipar alguma coisa da
sua herança. Pegou anéis de ouro branco,
abotoaduras também de ouro e até um
aparelho de tevê, dessas bem modernas.
E passou a viver da renda
obtida antecipadamente.
Acon teceu que, um belo dia,
um milagre. Nosso aposentado
acorda de muito bom
humor, morrendo de fome e
pronto para aproveitar o restante
da vida.
Quando voltou para casa,
a novidade. Não tinha carro,
não tinha mais aqueles dólares
guardados, não tinha
anéis. Teria sido um roubo?
Não. O porteiro disse que
um de seus filhos tinha passado
pelo apartamento.
Questionado, o acusado negou
veementemente. Mas o aposentado
não era bobo. Tinha provas concretas. Os
outros três filhos se reuniram com o patriarca
e chegaram à conclusão de que
não valia a pena colocar a polícia no caso.
Enfim, o tumulto familiar mostrou que
nem passar mal o aposentado pode mais.
Agora, tem de ir direto para o Céu, para
não ver as coisas que acontecem na Terra.
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 19