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Matéria Prima 102 - Julho 2018 - web

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“<br />

A IDEALIZAÇÃO QUE POR VEZES<br />

SE VÊ NAS PESSOAS QUE SE<br />

APAIXONAM FREQUENTEMENTE<br />

DEPENDEM NA NEGAÇÃO DOS<br />

ASPECTOS NEGATIVOS DA<br />

OUTRA PESSOA”<br />

que ela estava desolada e amava o marido,<br />

mas de uma forma muito limitada.<br />

Achei que, por um lado, se ela continuasse<br />

a alucinar com o marido, isso<br />

dar-lhe-ia algum conforto. Não estava<br />

ansioso por tratar aquilo, olhei para<br />

aquilo como fazendo parte do processo<br />

natural de se ser humano e de perder<br />

alguém de quem se ama. Pode olhar-se<br />

como sendo um mecanismo de segurança<br />

natural, por outras palavras, como<br />

sendo algo de transição – e normalmente<br />

é transitório, vão-se tornando menos frequentes<br />

–, não olho para isso como<br />

sendo um tormento. Achei que era mais<br />

um processo natural que a estava aju -<br />

dan do e que não estava ansioso por o<br />

pôr em causa. Claro que o explorei com<br />

ela, mas, como disse, ela era uma mulher<br />

muito simples e não tinha qualquer problema<br />

com o fantasma.<br />

Aquilo que achei que era comum aparecer<br />

nos consultórios dos psicólogos foi<br />

o caso de uma mulher que tinha um<br />

ciúme doentio do companheiro.<br />

É muito comum.<br />

Ter ciúmes do companheiro é normal,<br />

mas este tipo de ciúme é muito patológico.<br />

Qual é a diferença entre o ciúme<br />

“normal” e o ciúme patológico?<br />

É um assunto controverso. Em termos<br />

de diagnóstico, há uma descrição de<br />

ciúme patológico, com uma série de sintomas:<br />

controlar, por vezes perseguir a<br />

pessoa, fazer várias perguntas, remexer e<br />

cheirar as roupas, e por vezes violência,<br />

tanto no caso dos homens como das mulheres.<br />

É comum sentir-se ciúmes, aliás é<br />

tão comum que desde os tempos medievais<br />

que os livros que falavam de amor<br />

diziam que o amor não era verdadeiro<br />

sem ciúme. O problema para o diagnóstico<br />

de amor patológico é que assumimos<br />

que a pessoa está sendo irracional e o<br />

parceiro não está sendo infiel – mas como<br />

podemos ter a certeza? A não ser que se<br />

observe o parceiro 24 horas por dia, como<br />

podemos saber? Claro que falamos com<br />

o companheiro, mas na verdade nunca<br />

sabemos, portanto, por um lado, é um<br />

diagnóstico muito inseguro porque temos<br />

de fazer uma suposição para o diagnóstico<br />

ser persuasivo.<br />

Mas as pessoas vivem com essa insegurança<br />

em todas as relações e algumas<br />

lidam bem com isso. A sensação que se<br />

tem é que esta mulher perdeu a cabeça.<br />

E depois até faz referência ao relacionamento<br />

que ela tinha com a mãe…<br />

No caso dela, tinha um medo extremo<br />

do abandono. Uma coisa muito triste<br />

neste caso, e noutros como este, é que<br />

essas pessoas têm tanto medo de ser<br />

abandonadas que se comportam de uma<br />

maneira tão ciumenta que acabam por<br />

forçar o próprio abandono. Estas pessoas<br />

são apanhadas neste ciclo destrutivo:<br />

sentem que precisam de amor, de segurança,<br />

mas comportam-se de uma forma<br />

que as impede de receber amor e segurança.<br />

É importante não olhar para esses<br />

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JULHO DE <strong>2018</strong> • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR

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