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“<br />
A IDEALIZAÇÃO QUE POR VEZES<br />
SE VÊ NAS PESSOAS QUE SE<br />
APAIXONAM FREQUENTEMENTE<br />
DEPENDEM NA NEGAÇÃO DOS<br />
ASPECTOS NEGATIVOS DA<br />
OUTRA PESSOA”<br />
que ela estava desolada e amava o marido,<br />
mas de uma forma muito limitada.<br />
Achei que, por um lado, se ela continuasse<br />
a alucinar com o marido, isso<br />
dar-lhe-ia algum conforto. Não estava<br />
ansioso por tratar aquilo, olhei para<br />
aquilo como fazendo parte do processo<br />
natural de se ser humano e de perder<br />
alguém de quem se ama. Pode olhar-se<br />
como sendo um mecanismo de segurança<br />
natural, por outras palavras, como<br />
sendo algo de transição – e normalmente<br />
é transitório, vão-se tornando menos frequentes<br />
–, não olho para isso como<br />
sendo um tormento. Achei que era mais<br />
um processo natural que a estava aju -<br />
dan do e que não estava ansioso por o<br />
pôr em causa. Claro que o explorei com<br />
ela, mas, como disse, ela era uma mulher<br />
muito simples e não tinha qualquer problema<br />
com o fantasma.<br />
Aquilo que achei que era comum aparecer<br />
nos consultórios dos psicólogos foi<br />
o caso de uma mulher que tinha um<br />
ciúme doentio do companheiro.<br />
É muito comum.<br />
Ter ciúmes do companheiro é normal,<br />
mas este tipo de ciúme é muito patológico.<br />
Qual é a diferença entre o ciúme<br />
“normal” e o ciúme patológico?<br />
É um assunto controverso. Em termos<br />
de diagnóstico, há uma descrição de<br />
ciúme patológico, com uma série de sintomas:<br />
controlar, por vezes perseguir a<br />
pessoa, fazer várias perguntas, remexer e<br />
cheirar as roupas, e por vezes violência,<br />
tanto no caso dos homens como das mulheres.<br />
É comum sentir-se ciúmes, aliás é<br />
tão comum que desde os tempos medievais<br />
que os livros que falavam de amor<br />
diziam que o amor não era verdadeiro<br />
sem ciúme. O problema para o diagnóstico<br />
de amor patológico é que assumimos<br />
que a pessoa está sendo irracional e o<br />
parceiro não está sendo infiel – mas como<br />
podemos ter a certeza? A não ser que se<br />
observe o parceiro 24 horas por dia, como<br />
podemos saber? Claro que falamos com<br />
o companheiro, mas na verdade nunca<br />
sabemos, portanto, por um lado, é um<br />
diagnóstico muito inseguro porque temos<br />
de fazer uma suposição para o diagnóstico<br />
ser persuasivo.<br />
Mas as pessoas vivem com essa insegurança<br />
em todas as relações e algumas<br />
lidam bem com isso. A sensação que se<br />
tem é que esta mulher perdeu a cabeça.<br />
E depois até faz referência ao relacionamento<br />
que ela tinha com a mãe…<br />
No caso dela, tinha um medo extremo<br />
do abandono. Uma coisa muito triste<br />
neste caso, e noutros como este, é que<br />
essas pessoas têm tanto medo de ser<br />
abandonadas que se comportam de uma<br />
maneira tão ciumenta que acabam por<br />
forçar o próprio abandono. Estas pessoas<br />
são apanhadas neste ciclo destrutivo:<br />
sentem que precisam de amor, de segurança,<br />
mas comportam-se de uma forma<br />
que as impede de receber amor e segurança.<br />
É importante não olhar para esses<br />
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JULHO DE <strong>2018</strong> • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR