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ERA SÓ O QUE FALTAVA<br />
ADOLESCENTES MATINÊS<br />
DO SÃO CRISTÓVÃO<br />
IVANI CUNHA<br />
Era uma longa caminhada seguindo os<br />
trilhos do bonde desde o final, na pracinha<br />
da igreja do Bairro Bom Jesus,<br />
antiga Vila Nova Lagoinha. Depois do “corte”<br />
da Pedreira Prado Lopes, no Santo André,<br />
uma das três ruas abaixo, à esquerda, levava<br />
ao Conjunto do IAPI, que devia ser contornado.<br />
Havia ainda a travessia da perigosa<br />
Antônio Carlos, entre os carros em alta velocidade.<br />
Nada disso me impedia de cumprir<br />
um ritual: assistir às matinês dominicais<br />
do Cinema São Cristóvão.<br />
São lembranças de um período que vai<br />
de meados dos anos 60 a meados dos<br />
70. Depois mudei da Zona Noroeste para<br />
a Zona Norte. Mas ainda hoje, quando<br />
passo em frente ao local antes ocupado<br />
pelo cinema, tenho a impressão de que<br />
milhares de personagens saídos da tela<br />
estão lá dentro, presos no salão escuro.<br />
Minhas lembranças voltam àquelas matinês<br />
em que ali me refugiava por cerca<br />
de duas horas, sentado em uma das cadeiras<br />
envernizadas de acento dobrável e<br />
com encosto para os braços, iguais às<br />
existentes na maioria dos outros cinemas<br />
de Belo Horizonte. Não era muito confortável,<br />
mas isso não importava nem um<br />
pouco porque todos os sentidos estavam<br />
voltados para a tela.<br />
Cinema era, de fato, a melhor diversão<br />
para aquele adolescente que não ganhava<br />
mesada e, portanto, tinha de fazer um<br />
“biscate” aqui e outro ali para juntar o dinheiro<br />
do ingresso.<br />
O filme em cartaz podia ser um faroeste<br />
tradicional, com muitos bandidos ou índios,<br />
um elegante capa-e-espada ou uma comédia<br />
com Jerry Lews. Mas era sempre uma<br />
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JULHO DE <strong>2018</strong> • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR