18.07.2018 Views

Matéria Prima 102 - Julho 2018 - web

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Que mudanças de personalidade?<br />

Quando se faz trabalho clínico, vemos<br />

que as mulheres queixam-se sempre<br />

mais ou menos do mesmo: ele não comunica,<br />

ele não fala. Mas se olharmos<br />

para a maioria dos homens quando estão<br />

apaixonados, ele tornam-se extremamente<br />

comunicativos, quase poetas. Há<br />

esta mudança na personalidade, mas ao<br />

fim de três ou quatro anos, isso acaba.<br />

Podemos assistir quase a mudanças de<br />

personalidade que fazem parte do processo<br />

natural de estar apaixonado.<br />

Mas, por exemplo, no caso que descreve<br />

uma mulher que se apaixonou pelo dentista<br />

e tinha a certeza que ele estava apaixonado<br />

por ela. Isso parece algo patológico.<br />

E era.<br />

Isso pode acontecer a qualquer um? O<br />

que pode levar uma pessoa a comportarse<br />

assim?<br />

Esse é um caso de síndrome de Clérambault,<br />

é um dos maiores mistérios da<br />

psicologia e da psiquiatria. Há muitas teorias,<br />

mas ninguém sabe na realidade por<br />

que acontece. É a condição mais extrema<br />

de uma ilusão de amor. Claramente, ela<br />

“<br />

MAS O AMOR É LOUCO. QUANDO<br />

NOS APAIXONAMOS,<br />

COMPORTAMO-NOS DE FORMA<br />

IRRACIONAL, TEMOS VÁRIOS<br />

SINTOMAS QUE ESTÃO PERTO DA<br />

DOENÇA MENTAL<br />

não está em contato com a realidade, mas<br />

mesmo nesse estado conseguem-se perceber<br />

algumas vulnerabilidades. É como<br />

se ela não conseguisse aceitar que o dentista<br />

não a ama, esse é o ponto do síndrome<br />

de Clérambault: a pessoa ama o<br />

outro e acha que é recíproco e a única razão<br />

pela qual não o assumem é porque se<br />

trata de algo tão forte que não conseguem<br />

lidar com a experiência. Mas eu já falei<br />

com várias pessoas, dentro e fora do contexto<br />

clínico, que se apaixonam e dizem<br />

coisas muito parecidas. Não é igual ao<br />

problema dessa mulher, mas há sempre<br />

estas ligações entre estados extremos em<br />

mulher e homens “normais” apaixonados,<br />

porque é uma experiência muito intensa.<br />

Isso faz-me lembrar um outro caso que<br />

descreve no livro: o de um homem que se<br />

apaixona por uma mulher e não consegue<br />

lidar com o fim do relacionamento. Qual<br />

é a diferença entre estes dois casos?<br />

No caso de Meghan, é completamente<br />

uma ilusão. Ela não tem dúvidas de que o<br />

dentista está apaixonado por ela, é algo<br />

completamente rígido. No caso do Paul, a<br />

intensidade da experiência é mais uma<br />

semi-ilusão. Não é propriamente uma ilusão<br />

e com o tempo consegue-se fazer com<br />

que a pessoa mude de opinião e diga algo<br />

como “eu achava que esta era a mulher<br />

da minha vida, mas estava enganado e tenho<br />

de seguir com a minha vida”. Quando<br />

a pessoa tem síndrome de Clérambault,<br />

normalmente isso não acontece porque a<br />

pessoa não tem comportamento racional.<br />

Como assim, “semi-ilusão”?<br />

Quando as pessoas “normais” se apaixonam,<br />

durante algum tempo não estão<br />

em contato com a realidade. Podem regressar,<br />

mas durante um período de tempo<br />

estão num estado de semi-ilusão. Frequen-<br />

ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 37

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!