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Matéria Prima 102 - Julho 2018 - web

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confiança “eu tenho razão”, “eu sei que<br />

esta é a resposta”. É preciso explorar as<br />

coisas e testar ideias e, aos poucos, chegar-se<br />

a uma resposta ou teoria certa sobre<br />

o que está ocorrendo.<br />

Há um caso de uma idosa que vê o<br />

fantasma do marido e lhe diz que aquilo<br />

de que sente mais falta é do sexo. O que<br />

se passa neste caso?<br />

Escrevi este caso porque queria passar<br />

uma ideia muito específica que achei interessante:<br />

quando as pessoas veem fantasmas,<br />

acha-se que é algo pouco comum<br />

ou extraordinário, mas na verdade não é.<br />

Ver o companheiro que morreu é muito<br />

comum, é quase normal, previsível. O<br />

mais extraordinário desta história é que<br />

esta mulher era idosa e toda a relação<br />

que ela e o marido tiveram durante muitos<br />

anos era baseada no sexo. Gostamos de<br />

pensar que um relacionamento para resultar<br />

durante muito tempo não é apenas<br />

baseado em sexo, mas sim noutras coisas.<br />

E não é verdade?<br />

Normalmente, precisamos de intimidade,<br />

proximidade, sexo, compromisso,<br />

entre outras coisas. Mas, quando a relação<br />

é puramente física, o amor acaba por de-<br />

“<br />

NORMALMENTE, PRECISAMOS DE<br />

INTIMIDADE, PROXIMIDADE, SEXO,<br />

COMPROMISSO, ENTRE OUTRAS<br />

COISAS. MAS, QUANDO A<br />

RELAÇÃO É PURAMENTE FÍSICA, O<br />

AMOR ACABA POR DESAPARECER<br />

saparecer num par de anos, no máximo.<br />

As pessoas até podem dizer que estão<br />

apaixonadas, mas gradualmente o desejo<br />

torna-se menos intenso. A melhor maneira<br />

de descrever esse tipo de relacionamento<br />

é mais como paixão do que como amor.<br />

Mas o que é curioso neste relacionamento<br />

da idosa é que durou uma vida inteira.<br />

Foram quase 50 anos…<br />

Exato, por isso quis contrastar estes dois<br />

fenômenos. Um que achamos que é estranho,<br />

mas que na realidade não é, de todo –<br />

muitas pessoas veem os companheiros depois<br />

de eles morrerem. E aquilo que nós<br />

achamos que é normal, o sexo, foi notável<br />

neste caso – durou tanto tempo e de uma<br />

forma tão intensa. Eles, na verdade, não tinham<br />

propriamente uma relação. Ela era<br />

uma mulher muito simples e o relato que<br />

fazia do marido era de um homem muito<br />

simples da classe operária. Não pareciam<br />

ter interesses em comum, não pareciam<br />

ter conversas, tinham um filho. Parece que<br />

o sexo era a única coisa que os mantinha<br />

juntos e demonstra que, se se consegue<br />

manter o interesse sexual, se você estiver<br />

numa relação em que o sexo se mantém<br />

muito intenso, então é possível manter uma<br />

relação. Para a maioria das pessoas não é<br />

possível, é preciso mais do que isso.<br />

É um caso único?<br />

Sim.<br />

No final do capítulo, quando ela sai do<br />

seu escritório, percebe-se que ela vai continuar<br />

a ver o fantasma.<br />

E pode ser uma coisa boa.<br />

É uma coisa boa? Ela não precisa de<br />

fazer o luto do marido? Não precisa de<br />

seguir com a vida?<br />

Não necessariamente. Acho mesmo<br />

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