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confiança “eu tenho razão”, “eu sei que<br />
esta é a resposta”. É preciso explorar as<br />
coisas e testar ideias e, aos poucos, chegar-se<br />
a uma resposta ou teoria certa sobre<br />
o que está ocorrendo.<br />
Há um caso de uma idosa que vê o<br />
fantasma do marido e lhe diz que aquilo<br />
de que sente mais falta é do sexo. O que<br />
se passa neste caso?<br />
Escrevi este caso porque queria passar<br />
uma ideia muito específica que achei interessante:<br />
quando as pessoas veem fantasmas,<br />
acha-se que é algo pouco comum<br />
ou extraordinário, mas na verdade não é.<br />
Ver o companheiro que morreu é muito<br />
comum, é quase normal, previsível. O<br />
mais extraordinário desta história é que<br />
esta mulher era idosa e toda a relação<br />
que ela e o marido tiveram durante muitos<br />
anos era baseada no sexo. Gostamos de<br />
pensar que um relacionamento para resultar<br />
durante muito tempo não é apenas<br />
baseado em sexo, mas sim noutras coisas.<br />
E não é verdade?<br />
Normalmente, precisamos de intimidade,<br />
proximidade, sexo, compromisso,<br />
entre outras coisas. Mas, quando a relação<br />
é puramente física, o amor acaba por de-<br />
“<br />
NORMALMENTE, PRECISAMOS DE<br />
INTIMIDADE, PROXIMIDADE, SEXO,<br />
COMPROMISSO, ENTRE OUTRAS<br />
COISAS. MAS, QUANDO A<br />
RELAÇÃO É PURAMENTE FÍSICA, O<br />
AMOR ACABA POR DESAPARECER<br />
saparecer num par de anos, no máximo.<br />
As pessoas até podem dizer que estão<br />
apaixonadas, mas gradualmente o desejo<br />
torna-se menos intenso. A melhor maneira<br />
de descrever esse tipo de relacionamento<br />
é mais como paixão do que como amor.<br />
Mas o que é curioso neste relacionamento<br />
da idosa é que durou uma vida inteira.<br />
Foram quase 50 anos…<br />
Exato, por isso quis contrastar estes dois<br />
fenômenos. Um que achamos que é estranho,<br />
mas que na realidade não é, de todo –<br />
muitas pessoas veem os companheiros depois<br />
de eles morrerem. E aquilo que nós<br />
achamos que é normal, o sexo, foi notável<br />
neste caso – durou tanto tempo e de uma<br />
forma tão intensa. Eles, na verdade, não tinham<br />
propriamente uma relação. Ela era<br />
uma mulher muito simples e o relato que<br />
fazia do marido era de um homem muito<br />
simples da classe operária. Não pareciam<br />
ter interesses em comum, não pareciam<br />
ter conversas, tinham um filho. Parece que<br />
o sexo era a única coisa que os mantinha<br />
juntos e demonstra que, se se consegue<br />
manter o interesse sexual, se você estiver<br />
numa relação em que o sexo se mantém<br />
muito intenso, então é possível manter uma<br />
relação. Para a maioria das pessoas não é<br />
possível, é preciso mais do que isso.<br />
É um caso único?<br />
Sim.<br />
No final do capítulo, quando ela sai do<br />
seu escritório, percebe-se que ela vai continuar<br />
a ver o fantasma.<br />
E pode ser uma coisa boa.<br />
É uma coisa boa? Ela não precisa de<br />
fazer o luto do marido? Não precisa de<br />
seguir com a vida?<br />
Não necessariamente. Acho mesmo<br />
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