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GÊNESIS 243<br />
amigo saber <strong>de</strong> tudo quanto suce<strong>de</strong>ra. Se o adultério era consi<strong>de</strong>rado questão séria,<br />
valer-se <strong>de</strong> uma prostituta não era coisa grave, na mente dos antigos hebreus. John Gill<br />
diz que Hira guardou o segredo. Mas Gill estava pensando em termos da mentalida<strong>de</strong><br />
inglesa do século XVIII. Ao que parece, o episódio fazia parte natural da vida, e parece<br />
que as prostitutas também <strong>de</strong>veriam fazer o que era direito, como parte <strong>de</strong> uma negociação<br />
contratada.<br />
Tam ar havia regressado à casa <strong>de</strong> seu pai, pelo que Hira não conseguiu term i<br />
nar sua missão <strong>de</strong> entrega do cabrito. Judá, sem dúvida, ficou furioso diante disso.<br />
M as sua gran<strong>de</strong> hum ilhação não tardaria a ocorrer, um a questão m uito m ais séna<br />
do que ter perdido alguns <strong>de</strong> seus objetos pessoais, por m ais preciosos que estes<br />
fossem para ele.<br />
38.21<br />
A Procura Inútil. Po<strong>de</strong>mos ter a certeza <strong>de</strong> que Hira fez o que pô<strong>de</strong> para reverter<br />
a <strong>de</strong>sagradável circunstância, m as todas as suas indagações resultaram em nada.<br />
Os homens do lugar, que <strong>de</strong>veriam saber sobre qualquer prostituta que costum ava<br />
sentar-se à beira do caminho, tinham certeza <strong>de</strong> que não aparecera por ali nenhuma<br />
meretriz.<br />
A Prostituição Religiosa. Essa era um a prática generalizada entre os cananeus.<br />
M ulheres vendiam seu corpo em favor <strong>de</strong> santuários on<strong>de</strong> <strong>de</strong>uses e <strong>de</strong>usas eram<br />
honrados. O dinheiro assim recolhido era usado para a manutenção das instalações e<br />
dos ritos. Em Canaã, um <strong>de</strong>sses cultos importantes era o <strong>de</strong> Istar, a <strong>de</strong>usa velada. Aos<br />
que ajudavam nesse culto era prom etido sucesso nos negócios, fertilida<strong>de</strong> nos rebanhos<br />
e nas plantações, bem como segurança e boa saú<strong>de</strong> para seus familiares. Assim,<br />
qualquer pessoa que acreditasse nessas coisas ansiava por ajudar na prostituição religiosa<br />
dos santuários. Se Judá tivesse patrocinado uma daquelas meretrizes (embora<br />
sem sabê-lo), então agora teria a consciência <strong>de</strong> que tinha contribuído para a idolatria<br />
local, e não apenas perpetrado um ato <strong>de</strong> fornicação ou <strong>de</strong> incesto (pois a m ulher era<br />
sua própria nora).<br />
38.22<br />
O Triste Relatório. Tendo feito tudo quanto estivera a seu alcance, Hira voltou a<br />
Judá para dar-lhe as más notícias. Não havia nenhum a m eretriz esperando por um<br />
cabrito; <strong>de</strong> fato, por ali nem ao menos havia alguma prostituta. Isso tudo constituía um<br />
mistério. Mas em breve tudo ficaria esclarecido, <strong>de</strong>ixando Judá em gran<strong>de</strong> aperto (vss.<br />
24 ss.).<br />
38.23<br />
P ara que não nos to rn e m o s em o p ró b rio . D izem aqui a lg u m a s tra d u <br />
ções, “ p ara que não fiq u e m os e n ve rg o n h a d o s ", que dá no m esm o. Ju d á não<br />
esta va p re o cu p a d o com a ve rg o n h a e n v o lv id a em sua fo rn ic a ç ã o , e, sim , em<br />
to rn a r-s e m otivo <strong>de</strong> p iadas por parte <strong>de</strong> seus co n h e cid os. “V ocê foi e n g anado<br />
por um a m era p rostituta, seu tolo!", diriam eles. P ara evita r isso, re so lve u sim <br />
plesm ente <strong>de</strong>ixar seus objetos <strong>de</strong> uso pessoal com a m ulher. A final, todos eles<br />
po<strong>de</strong>riam ser substituídos. Da próxim a vez, ele usaria <strong>de</strong> m aior cautela. Há pessoas<br />
que pensam que o pecado só é peca do se fo r d esm ascarado. A ve rgonha<br />
ocorreria som ente se o pecado fosse <strong>de</strong>scoberto, e não em d ecorrência do p ró <br />
prio ato pecam inoso. Isso será sem pre um princípio duvidoso. M as a m aioria das<br />
p essoas tem e m ais se r <strong>de</strong>sc oberta do que c o m e te r um pecado. A m aio ria das<br />
pessoas religiosas dá a e nten<strong>de</strong>r que são m elh ore s do que realm ente são. Isso<br />
significa que m uitos religiosos são hipócritas (ver no D icionário o artigo intitulado<br />
Hipocrisia). Esse fato, entretanto, não anula a espiritualida<strong>de</strong>, nem a sincerida<strong>de</strong><br />
geral da parte <strong>de</strong> um crente.<br />
Tamar Vindicada (38.24-30)<br />
38.24<br />
Três m eses m ais tar<strong>de</strong>, T a m ar já dava sinais <strong>de</strong> estar grávid a , e im e d ia ta <br />
m ente m andaram um recado a Judá, seu sogro. Ele e stava m uito envo lvid o na<br />
vida <strong>de</strong>la, pois tinha um filho (Selá) que já <strong>de</strong>veria ter-lhe sido dado com o m arido,<br />
<strong>de</strong> acordo com a lei do m atrim ônio levirato (ver sobre esse assunto no Dicionário).<br />
Mas ele não estivera nem estava disposto a cum prir essa lei, no caso <strong>de</strong> Tam ar. Já<br />
havia perdido dois filhos com ela, e não queria arriscar-se a per<strong>de</strong>r seu terceiro e<br />
último filho (ver os vss. 7,10,11).<br />
Para que seja q u e im a da . A m orte na fogueira era a pena im posta, no C ó d i<br />
go <strong>de</strong> H am urabi (157), quanto a ca s o s <strong>de</strong> in ce sto com a p rópria m ãe, e este<br />
versículo sugere que na antiga nação <strong>de</strong> Israel, que se estava form ando, o adultério<br />
era punido <strong>de</strong>sse modo. Segundo a lei m osaica, a execução por apedrejamento<br />
era a m aneira usual (Deu. 22.23,24; cf. João 8.5), ainda que, em casos especiais,<br />
fosse usada a execução na fogueira (Lev. 2 1 .9), com o no caso em que a filha <strong>de</strong><br />
um sacerdote fosse apanhada em flagrante adultério, ou que viesse a prostituir-se.<br />
Vem os aqui Judá, o h ip ó crita , p ro n to para m andar que sua pró p ria nora fosse<br />
executada na fogueira. Q uão h u m ano é tudo isso! M ostram o-nos severos com os<br />
pecados alheios, mas lenientes com os nossos próprios pecados, mesmo que os nossos<br />
pecados sejam iguais aos pecados <strong>de</strong> outras pessoas.<br />
“Q uão estranho que no próprio lugar on<strong>de</strong> o adultério era punido mediante a<br />
morte mais violenta, a prostituição a dinheiro, com propósitos religiosos, não fosse consi<strong>de</strong>rada<br />
um crime!” (Adam Clarke, in loc.).<br />
Intérpretes ju d e u s chegaram a aventar, com base na severida<strong>de</strong> da punição<br />
sugenda, que T a m ar talvez pertencesse a um a linhagem sacerdotal, talvez sendo<br />
até <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> M elquise<strong>de</strong>que. M as não há o m enor indício bíblico quanto<br />
a isso.<br />
O P o d e r da M orte. E ste ve rs ícu lo in d ica que Judá, patria rca da sua fa m í<br />
lia, tin h a a u to rid a d e p a ra m a n d a r e x e c u ta r um <strong>de</strong> seus m em b ro s, se tiv e sse<br />
b o a s ra zõ e s p a ra isso , e nem p re c is a v a p e d ir a u to riz a ç ã o <strong>de</strong> alg u m a a u to rida<strong>de</strong><br />
m aior. C e rta s trib o s á ra b e s c o n tin u a m e xe rc e n d o essa esp a n to sa a u to <br />
rid a d e , a té o s n o s s o s p ró p rio s d ia s . T a lv e z te n h a a c o n te c id o , co n fo rm e a l<br />
guns e ru d ito s s u g e re m , que Ju d á , a n s io s o p o r liv ra r seu filh o S elá <strong>de</strong> te r <strong>de</strong><br />
c a s a r-s e co m a q u e la m u lh e r d e m á s o rte , se te n h a a le g ra d o em p ro fe rir a<br />
p e n a <strong>de</strong> m o rte , d e s v e n c ilh a n d o -s e a ss im d e la e s o lu c io n a n d o o seu p ró p rio<br />
p ro b le m a p e ssoal.<br />
38.25<br />
O Jogo <strong>de</strong> P o<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Tamar. Tam ar havia executado algo tolo e arriscado. Agora,<br />
sua vida estava em perigo, mas ela tinha po<strong>de</strong>r. Ela i<strong>de</strong>ntificou o homem que era o pai<br />
<strong>de</strong> seu filho não-nascido por meio dos objetos que havia recebido <strong>de</strong>le: o selo, o cordão<br />
e o cajado. Ver as notas no vs. 18 quanto a comentários sobre esses objetos e sobre<br />
como Tam ar conseguira adquirir tais objetos.<br />
Uma C onduta D ecente. T a m a r não fez Judá ca ir em <strong>de</strong>sgraça pública. Ela<br />
lhe e nviou p e ssoalm e n te e ss e s o b je to s. O T a lm u d e ch ega a louvá-la p o r esse<br />
ato <strong>de</strong> m isericórdia e discrição. O fato <strong>de</strong> que ela o tratou com gentileza fez Judá<br />
a n sia r p o r c o rrig ir to d a a s itu a çã o . A b o n d a d e po<strong>de</strong> le v a r ao a rre p e n d im e n to<br />
(Rom. 2.4).<br />
38.26<br />
A Confissão. Judá não tentou escapar da dificulda<strong>de</strong>. Talvez ele tivesse a autorida<strong>de</strong><br />
e a influência para escapar do ardil, m as já estava cansado <strong>de</strong> ludíbrios e <strong>de</strong> frutos<br />
maléficos.<br />
Mais justa é ela do que eu. Judá não se referia aqui ao ato incestuoso, mas à<br />
sua relutância em dar Selá a Tam ar com o marido, em obediência à lei do matrimônio<br />
levirato. O ato arriscado e enganador <strong>de</strong> Tam ar produziu os resultados que ela tinha<br />
<strong>de</strong>sejado. Ela havia errado, m as não tão gravem ente quanto Judá. Ou, talvez, fosse<br />
mais exato se Judá tivesse dito: “O meu erro foi maior que o erro <strong>de</strong>la”. Alguns eruditos<br />
pensam que Tam ar tentou entrar na bênção do Pacto Abraâmico, participando mesmo<br />
“da linhagem do Messias”, como se ela tivesse agido sob o impulso <strong>de</strong> um nobre i<strong>de</strong>al.<br />
Mas tudo isso é fantasioso.<br />
Q uanto a Judá, ele cessou em seu pecado, não teve m ais relações íntim as<br />
com sua nora. revertendo assim a m aldição. V er no D icionário o artigo intitulado<br />
Incesto.<br />
38.27<br />
H avia gêm eos. V er a introdução a este capítulo, quanto aos principais m otivos.<br />
Um <strong>de</strong>les é o in cesto heró ico <strong>de</strong> Tam ar. Ela chegou a a rrisc a r a vida para<br />
corrigir a situação. O utro m otivo é a luta dos irm ãos gêm eos, ainda no ventre <strong>de</strong><br />
sua mãe (ver o quarto e o sexto ponto, sob o título M otivos Principais <strong>de</strong>ste Capítulo).<br />
V er a h istó ria um ta n to sim ila r que e n volveu Esaú e Jacó (G ên. 25.23 ss.).<br />
Naquele caso, o filh o m ais jovem acabou dom inando o m ais velho e sendo m ais<br />
abençoado do que ele. Neste caso, Perez, o irm ão m ais velho, seria o dom inante,<br />
vindo a participar da linhagem real (Judá-Perez- Davi), propiciando a vinda ao m undo<br />
do longam ente esperado M essias. Houve rivalida<strong>de</strong> entre os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />
Perez e os <strong>de</strong> Zerá, os dois clãs <strong>de</strong> Judá (Núm. 26.19-22), e isso fez parte daquilo<br />
que foi dito a Tam ar, por ocasião do nascim ento dos dois (vs. 27 ss.). De acordo<br />
com o trecho <strong>de</strong> Rute 4.18-22, Perez era antepassado <strong>de</strong> Davi, e essa era a linhagem<br />
principal <strong>de</strong> Judá.<br />
38.28-30<br />
Um pôs a mão fora. Como se estivesse querendo agarrar-se à vida, lutando para<br />
vencer Perez, seu irmão gêmeo. Zerá parecia um vencedor. Ele haveria <strong>de</strong> obter o<br />
direito <strong>de</strong> primogenitura, pelo que um fio encarnado foi atado em sua mão, para assinalálo<br />
como o primogênito. M as então, recolheu <strong>de</strong> novo a mão, pelo que Perez acabou<br />
nascendo e tomando-se o primogênito.