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Comentario de Champlin AT V.1

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NÚMEROS 64 7<br />

árabe, da parte norte da Arábia. P o<strong>de</strong>m os supor que esse segundo casam ento se<br />

<strong>de</strong>ra recentem ente, razão pela qual M iriã e Arão trouxeram o caso à tona.<br />

Cusita (M ulher Etíope). M oisés se casou com uma m ulher etíope. Cuxe ou<br />

Etiópia era a região ao sul da prim eira catarata do rio Nilo. A Septuaginta e a<br />

Vulgata apresentam essa m ulher com o natural da Etiópia. M as as tradições ju d a i­<br />

cas i<strong>de</strong>ntificam -na com Zípora, pensando que ela era natural <strong>de</strong> Cusã, que aparece<br />

em Habacuque 3.7. Cusã tam bém tem sido região i<strong>de</strong>ntificada com a Etiópia;<br />

m as outros preferem pensar em M idiã, ou algum aliado <strong>de</strong>sse território. As lendas<br />

judaicas sugerem que, antes <strong>de</strong> M oisés fugir para o <strong>de</strong>serto <strong>de</strong> Midiã, ele foi<br />

com andante-em -chefe <strong>de</strong> um a cam panha egípcia contra a Etiópia. Tarbis, a filha<br />

do rei etíope, ter-se-ia apaixonado por ele, do que resultou o casam ento dos dois.<br />

Porém, quase todas as lendas <strong>de</strong>sse tipo não passam <strong>de</strong> invenções românticas,<br />

pelo que a questão da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> exata da esposa cusita <strong>de</strong> M oisés continua<br />

sujeita a <strong>de</strong>bates. O texto do capítulo 12 <strong>de</strong> N úm eros introduz <strong>de</strong> súbito essa<br />

m ulher, provavelm ente para indicar que M oisés contraíra um novo m atrimônio.<br />

Por certo, Moisés <strong>de</strong>ixara <strong>de</strong> lado o espírito do pacto abraâmico, bem com o o<br />

exem plo <strong>de</strong>ixado pelo próprio Abraão, quanto a casam entos <strong>de</strong> israelitas com<br />

estrangeiros, pelo que M iriã e Arão não <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong> ter algum a razão em sua<br />

queixa. É m uito difícil que os dois estivessem reclam ando por causa <strong>de</strong> Zípora.<br />

Ao casar-se <strong>de</strong> novo, porém, Moisés ficou sujeito a ataque, por fazer parecer não<br />

ter havido prudência em seu segundo casam ento. A nova esposa <strong>de</strong> Moisés não<br />

era necessariam ente uma negra, porque os habitantes da antiga Etiópia pertenciam<br />

a várias etnias. Pessoas cham adas cusitas tam bém habitavam a Arábia. Mui<br />

provavelm ente essa segunda esposa era sem ita, talvez <strong>de</strong> ascendência árabe.<br />

Talvez essa nova esposa <strong>de</strong> M oisés fosse uma am eaça à autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Miriã, visto que haveria outra m ulher para com partilhar as coisas. A anim osida<strong>de</strong><br />

pessoal po<strong>de</strong> ter sido a base <strong>de</strong> todo o inci<strong>de</strong>nte.<br />

O Targum <strong>de</strong> Jonathan diz que a m ulher em apreço era uma rainha. Josefo<br />

(Antiq. 1.2 cap. 10, sec. 2) é um daqueles que falou sobre a expedição egípcia,<br />

<strong>de</strong>scrita acima, no <strong>de</strong>curso da qual M oisés teria conhecido Tarbis. M as po<strong>de</strong>mos<br />

ignorar, com toda a segurança, essas lendas.<br />

12.2<br />

E disseram . Tem os aí a segunda queixa <strong>de</strong> M iriã e Arão. A segunda esposa<br />

<strong>de</strong> Moisés serviu <strong>de</strong> caso m elindroso, a razão da prim eira queixa <strong>de</strong>les (vs. 1).<br />

M as o que realm ente irritava M iriã e A rão era que M oisés m onopolizava tudo,<br />

como único porta-voz <strong>de</strong> Yahweh. É com o se diz m o<strong>de</strong>rnam ente: “ Um gran<strong>de</strong><br />

homem, gran<strong>de</strong>s vícios” . Yahweh havia conferido a M oisés um a posição elevada,<br />

pelo que Miriã e Arão se ressentiam disso; e agora esperavam po<strong>de</strong>r m udar a<br />

situação. Miriã foi cham ada <strong>de</strong> profetisa (Êxo. 15.20), pelo que era m ulher <strong>de</strong><br />

algum a habilida<strong>de</strong> e posição espiritual. E queria aum entar sua autorida<strong>de</strong>, sobretudo<br />

junto àquela outra m ulher, que parecia estar am eaçando a sua posição. Ver<br />

Miq. 6.4, que exalta a condição <strong>de</strong> M iriã. V er no Dicionário o verbete intitulado<br />

Miriã.<br />

A inveja, o ciúm e e a com petição são fatores que levam as pessoas a queixas.<br />

M iriã estava enfrentando tudo isso. À base <strong>de</strong> tudo, porém , estava a ignorância<br />

do fato <strong>de</strong> que Deus tinha realm ente conferido a M oisés um a posição sem<br />

igual com o Seu m ediador, algo que vinha sendo repetidam ente provado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

Egito. A irmã e o irmão <strong>de</strong> M oisés puseram em dúvida a reivindicação <strong>de</strong> Moisés,<br />

e convenientem ente olvidaram -se <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da história.<br />

O Senhor o ouviu. A cham os aqui outro antropom orfism o (ver a respeito no<br />

Dicionário). A queixa chegou à atenção <strong>de</strong> Yahweh, pelo que o juízo divino já<br />

estava a caminho. Seu hom em escolhido estava sendo atacado por subordinados<br />

indignos. E em breve seriam postos em seu <strong>de</strong>vido lugar.<br />

Por muitas vezes acham os no Pentateuco algum a expressão como o Senhor<br />

falou. Ela assinala o com eço <strong>de</strong> algum novo material, embora tam bém nos lembre<br />

da doutrina da divina inspiração das Escrituras. Fica assim <strong>de</strong>monstrado que Moisés<br />

era o mediador <strong>de</strong> Yahweh. Ver as notas a esse respeito em Lev. 1.1 e 4.1.<br />

12.3<br />

Mui m anso. A hum ilda<strong>de</strong> era um a das gran<strong>de</strong>s características <strong>de</strong> M oisés.<br />

V er Êxo. 3.11. A palavra hebraica aqui traduzida por “ m anso” é ‘anaw, “ hum ild<br />

e ” . A raiz <strong>de</strong>sse term o hebraico é ‘ana, “fo rça r à subm issão” . A m elhor tra d u ­<br />

ção, pois, é m esm o “h u m il<strong>de</strong>”. C ontrariam ente à m aioria dos ditadores, M oisés<br />

não era um homem arrogante. O cupava a posição que ocupava por atribuição<br />

<strong>de</strong> Deus, e não porque tivesse ascendido à sua posição m ediante po<strong>de</strong>r e<br />

arrogância, im pondo aos outros a sua vonta<strong>de</strong>. Isso nos m ostra que M oisés não<br />

era o tirano que M iriã e A rão queriam que ele parecesse ser. Sua autorida<strong>de</strong><br />

era divinam ente conferida. Ele era o hom em apro pria do para o m om ento, e não<br />

um indivíduo que se tivesse exaltado a algum elevado ofício por m eio <strong>de</strong> sua<br />

po<strong>de</strong>rosa personalida<strong>de</strong>.<br />

A autoria m osaica do Pentateuco é um dos problem as levantados por este<br />

versículo. Uma terceira pessoa nos <strong>de</strong>screve aqui M oisés, e não ele mesmo. Meu<br />

artigo sobre o Pentateuco e sobre os cinco livros que o com põem aborda essa<br />

questão <strong>de</strong> autoria, com argum entos pró e contra. Ver também , no Dicionário, o<br />

artigo intitulado J.E.D .P.(S.), bem com o os outros artigos mencionados. O artigo<br />

sobre cada um dos livros do Pentateuco aparece na introdução a cada um <strong>de</strong>les.<br />

O livro <strong>de</strong> N úm eros sem pre alu<strong>de</strong> a M oisés na terceira pessoa do singular. Mas<br />

visto que Yahweh falava por m eio <strong>de</strong>le, suas tradições foram preservadas, sem<br />

im portar se ele foi o com pilador real <strong>de</strong> algum livro, quanto à sua forma final.<br />

As tentativas feitas por alguns intérpretes para forçar o texto a dizer que<br />

Moisés fora “ alquebrado” e “oprim ido” por suas cargas e pelos ataques contra sua<br />

pessoa, em vez <strong>de</strong> ser um homem humil<strong>de</strong>, não convencem. O texto não dá apoio<br />

a esse tipo <strong>de</strong> tratamento.<br />

12.4<br />

Vós três s a í à tenda. Yahweh interveio. O Senhor entrou em ação súbita e<br />

rapidam ente. Ele cortou a rebeldia pela raiz, ainda no começo. Deus convocou<br />

Moisés, M iriã e Arão ao tabernáculo, on<strong>de</strong> m anifestou a Sua presença, indicando<br />

qual era a Sua vonta<strong>de</strong>. E todos os três foram com pelidos a obe<strong>de</strong>cer prontam ente.<br />

Yahweh não perm itiu que um câncer se <strong>de</strong>senvolvesse. A inclusão do nome<br />

<strong>de</strong> Arão aqui, tal com o no prim eiro versículo, <strong>de</strong>pois do nome <strong>de</strong> Miriã, sugere que<br />

ela era a cabeça pensante da rebelião.<br />

12.5<br />

O S enhor <strong>de</strong>sceu na coluna <strong>de</strong> nuvem . A presença <strong>de</strong> Yahweh m anifestou-se<br />

por meio da nuvem que guiava o povo <strong>de</strong> Israel, bem diante dos olhos dos<br />

três, diante da entrada do tabernáculo. Havia três cortinas que sen/iam <strong>de</strong> portas<br />

do tabernáculo. V er sobre isso em Êxo. 26.36. É possível que esteja em pauta<br />

aqui a cortina que separava o Santo dos Santos do Lugar Santo, pois era ali que<br />

aparecia a glória shekinah, diante da arca da aliança. Ver a planta baixa do<br />

tabernáculo, nas notas <strong>de</strong> introdução a Êxo. 26.1. Porém, muitos intérpretes pensam<br />

que está em pauta aqui a prim eira cortina, afirm ando que Yahweh nunca<br />

perm itiria que os dois rebelados entrassem no Santo dos Santos do tabernáculo,<br />

mas, antes, arm ou Seu tribunal <strong>de</strong> juízo fora daquele lugar, no átrio, <strong>de</strong>fronte da<br />

primeira cortina.<br />

12.6<br />

Então disse. O Senhor convocara os três, e agora fazia-os ouvir as Suas<br />

palavras. A situação seria corrigida, antes que rebelião tivesse a chance <strong>de</strong> espalhar-se,<br />

conseguindo a<strong>de</strong>ptos entre o povo, o que sem dúvida haveria <strong>de</strong> suce<strong>de</strong>r<br />

se Yahweh não tivesse agido im ediata e <strong>de</strong>cisivam ente.<br />

Visões e Sonhos. Cf. Joel 2.28, citado em Atos 2.17: “Vossos filhos e vossas<br />

filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos” . S o­<br />

nhos e visões são aspectos do dom profético, conform e os teólogos históricos o<br />

<strong>de</strong>m onstram . Esses m étodos são aprovados pela vonta<strong>de</strong> divina. Ver no D icionário<br />

os verbetes intitulados Visão ( Visões) e Sonhos. Mas Yahweh tinha uma<br />

m aneira superior <strong>de</strong> com unicar-se com Moisés, pelo que este não era apenas um<br />

profeta. Yahweh aparecia pessoalm ente a M oisés, e não som ente por m eio <strong>de</strong><br />

sonhos e visões. E provável que M iriã e Arão tivessem sonhos e visões proféticos,<br />

m as não falavam face a face com Yahweh. O m odus operandi superior da<br />

m aneira <strong>de</strong> Yahweh tra ta r com M oisés distinguia-o dos profetas ordinários, tornando-o<br />

um m ediador especial, ocupando no A ntigo Testam ento uma posição<br />

que Cristo viera a ocupar no N ovo Testam ento. Ele era um homem ím par e um<br />

po<strong>de</strong>r ím par, o que o tornava m ais do que um profeta.<br />

Cf. este versículo com Deu. 13.1. Os sonhos eram consi<strong>de</strong>rados um meio <strong>de</strong><br />

com unicação divina (Núm. 12.6; 22.20; I Sam. 3.15; 28.6; Jer. 23.25). Uma visão<br />

é uma espécie <strong>de</strong> sonho acordado; e, em bora pertença à classe dos sonhos, é<br />

algo m ais espetacular em seu m odo <strong>de</strong> operação.<br />

12.7<br />

Não é assim com o meu servo M oisés. Essas palavras mostram a superiorida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Moisés em relação aos <strong>de</strong>m ais profetas. Todavia, é algo lindo receber<br />

sonhos e visões espirituais, que são m odos <strong>de</strong> com unicação divina, segundo<br />

com entei nas notas sobre o versículo anterior. M oisés, contudo, gozava <strong>de</strong> um<br />

tipo <strong>de</strong> com unicação superior a isso. Ele se encontrava com D eus face a face, e<br />

recebia revelações diretas (vs. 8; ver tam bém Êxo. 33.11). O papel <strong>de</strong> Moisés<br />

com o m ediador entre Yahweh e Israel foi assim reiterado. Ver Exo. 19.9; 20.19.<br />

Cf. Deu. 34.10-12.<br />

Fiel em toda a minha casa. O fulcro <strong>de</strong>ssa casa, naqueles tempos, era o<br />

tabernáculo; assim, a casa m etafórica aqui referida era a esfera <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> em<br />

toda a nação <strong>de</strong> Israel. Israel era a casa <strong>de</strong> Deus, nesse sentido metafórico. Moisés<br />

<strong>de</strong>sincumbia-se fielmente <strong>de</strong> todos os seus <strong>de</strong>veres, e Yahweh não tinha do que se<br />

queixar contra ele, em contraste com Miriã e Arão, que se queixavam <strong>de</strong> Moisés.

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