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edição de 13 de agosto de 2018

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elementos como suas paixões<br />

(como mencionei antes, música,<br />

esporte e comida), suas<br />

tradições (feriados específicos<br />

como Dia dos Mortos, Hispanic<br />

Heritage Month etc.) ou suas<br />

idiossincracias (como comportamentos<br />

em família e amigos,<br />

religiosida<strong>de</strong>, ou mesmo hábitos<br />

<strong>de</strong> compras que po<strong>de</strong>m ser<br />

distintos do comportamento<br />

do segmento anglo).<br />

Como a atuação <strong>de</strong> Trump junto aos<br />

imigrantes tem afetado ou motivado<br />

campanhas por parte <strong>de</strong> anunciantes,<br />

por exemplo? Anunciantes ten<strong>de</strong>m<br />

a se posicionar ou calar?<br />

Na minha opinião, vemos<br />

aqui nos EUA um fenômeno<br />

que também se observa em<br />

outros países, que é a divisão<br />

da socieda<strong>de</strong> em torno <strong>de</strong> temas<br />

sociais e políticos. Com<br />

isso, é natural que anunciantes<br />

tentem evitar um posicionamento<br />

sobre esses temas,<br />

pois a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagradar<br />

algum lado é gran<strong>de</strong>.<br />

Mas, mesmo assim, temos visto<br />

em alguns casos algumas<br />

marcas com uma visão bem<br />

acentuada. Talvez um caso<br />

bastante famoso nesse mercado<br />

seja o da Honey Ma<strong>de</strong>,<br />

que em 2014 colocou no ar<br />

um comercial homenageando<br />

todo e qualquer tipo <strong>de</strong> família<br />

nos EUA, incluindo as famílias<br />

LGBT, e, após receber<br />

uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

emails <strong>de</strong> consumidores com<br />

críticas, <strong>de</strong>cidiu manter sua<br />

posição e ainda mandou uma<br />

forte mensagem <strong>de</strong> tolerância<br />

através <strong>de</strong> uma ação que<br />

virou um case. No nosso mercado,<br />

um dos maiores riscos é<br />

achar que todo hispânico é um<br />

imigrante sem documento <strong>de</strong><br />

imigração (não é justo chamá-<br />

-los <strong>de</strong> imigrante ilegais, não<br />

existe um ser humano ilegal),<br />

na verda<strong>de</strong> eles representam<br />

uma minoria do segmento.<br />

Qual o papel da comunicação, a seu<br />

ver, diante <strong>de</strong> conflitos como os atuais,<br />

envolvendo imigrantes?<br />

Várias agências e seus clientes<br />

procuram sair da visão estereotipada<br />

sobre os hispânicos<br />

e buscam projetar um cidadão<br />

hispânico que não fica atrás<br />

<strong>de</strong> nenhum outro cidadão.<br />

Por exemplo, nós da Alma temos<br />

muito orgulho <strong>de</strong> termos<br />

sido escolhidos pela HP para<br />

uma campanha <strong>de</strong> recrutamento<br />

<strong>de</strong> profissionais na área<br />

<strong>de</strong> tecnologia. O conceito foi<br />

bem simples, entrevistar não-<br />

-hispânicos nas ruas com uma<br />

pergunta apenas: “pra você o<br />

que significa um latino job?”<br />

(o termo hispânico ou latino é<br />

usado <strong>de</strong> maneira recorrente<br />

aqui nos EUA). Depois perguntamos<br />

o mesmo para profissionais<br />

hispânicos e o contraste<br />

foi impressionante.<br />

Quanto tempo tem a Alma e como o<br />

mercado se transformou ao longo do<br />

tempo?<br />

A Alma foi fundada em 1994<br />

por Luis Miguel Messianu, um<br />

dos mais talentosos redatores<br />

do mercado mexicano, e seu<br />

sócio, Eduardo <strong>de</strong>l Rivero,<br />

que estavam trabalhando nos<br />

EUA e viram uma oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> elevar a qualida<strong>de</strong> da<br />

comunicação para o mercado<br />

hispânico, que na época ainda<br />

era bastante estereotipado.<br />

Nosso primeiro cliente foi o<br />

McDonald’s (que está conosco<br />

até hoje) e, após seu sucesso<br />

nos primeiros anos, em 2004<br />

a Alma foi adquirida pela holding<br />

Omnicom, passando a<br />

fazer parte da re<strong>de</strong> DDB. Hoje<br />

nós somos uma agência que<br />

acompanhou a evolução do<br />

mercado e oferece aos nossos<br />

clientes soluções estratégicas<br />

e criativas para o mercado hispânico,<br />

mas também para o<br />

que chamamos <strong>de</strong> “mercado<br />

geral” americano, refletindo<br />

esse novo multiculturalismo<br />

mencionado anteriormente.<br />

Em 2009, nós éramos uma<br />

agência com cerca <strong>de</strong> 65 pessoas,<br />

focada somente no mercado<br />

hispânico, com uma<br />

oferta “Above the Line”. Hoje<br />

em dia, temos cerca <strong>de</strong> 140<br />

funcionários, se<strong>de</strong> em Miami,<br />

escritórios em São Francisco e<br />

Chicago, e uma oferta mais robusta<br />

em estratégia e insights,<br />

com mídias sociais e digital integrados.<br />

Em que mo<strong>de</strong>lo vocês apostaram e<br />

qual a importância dos prêmios para<br />

vocês?<br />

Nosso DNA é 100% <strong>de</strong> criação<br />

e não abrimos mão <strong>de</strong><br />

nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> criativa. Na<br />

nossa opinião, o mercado está<br />

saturado com marcas que possuem<br />

pouca diferenciação,<br />

que continuam tentando cercar<br />

o consumidor com mensagens<br />

que nem sempre são bem<br />

recebidas. Nesse contexto, a<br />

importância da criativida<strong>de</strong><br />

“A maioria dos<br />

clientes não<br />

enten<strong>de</strong> que a<br />

qualida<strong>de</strong> do<br />

trabalho da<br />

agência não está<br />

relacionada<br />

exclusivamente<br />

com o tamanho<br />

do fee”<br />

só aumenta, para construir<br />

marcas mais relevantes, para<br />

utilizar a comunicação como<br />

ferramenta <strong>de</strong> mensagens que<br />

não só apelam para o lado racional<br />

dos consumidores, mas<br />

também para o lado emocional,<br />

para o coração e a alma<br />

<strong>de</strong>les (daí o nosso nome!).<br />

Com relação a prêmios, nossa<br />

posição é clara, eles são uma<br />

consequência natural do trabalho<br />

do dia a dia. Nosso principal<br />

objetivo é ajudar nossos<br />

clientes com seus <strong>de</strong>safios <strong>de</strong><br />

mercado e acreditamos que<br />

a criativida<strong>de</strong> tem um papel<br />

fundamental nesse processo.<br />

Quando nossas i<strong>de</strong>ias são<br />

reconhecidas pelas melhores<br />

mentes da publicida<strong>de</strong>, isso<br />

nos enche <strong>de</strong> orgulho, pois é<br />

um reconhecimento importante<br />

dos nossos clientes e <strong>de</strong><br />

nossa equipe. É a publicida<strong>de</strong><br />

da publicida<strong>de</strong>! Isso nos ajuda<br />

também a recrutar e reter nosso<br />

talento, o que é um gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>safio nos dias <strong>de</strong> hoje. Um<br />

outro fator importante para<br />

nos é o reconhecimento que<br />

agência <strong>de</strong> menor porte, ou<br />

<strong>de</strong> “nicho <strong>de</strong> mercado”, também<br />

é capaz <strong>de</strong> criar e competir<br />

com as maiores agências<br />

do mercado, com padrão <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> - igual ou maior <strong>de</strong><br />

qualquer agência nacional. Só<br />

nos últimos seis anos a Alma<br />

alcançou 22 Leões em Cannes,<br />

número maior do que muitas<br />

agências americanas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

<strong>de</strong> tamanho<br />

ou foco.<br />

Que balanço você faz hoje da sua<br />

carreira e da sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> atuar<br />

fora do Brasil? E da sua atuação e<br />

contribuição na Alma?<br />

Comecei minha carreira na<br />

Souza Cruz, em 1991, e quando<br />

saí do Brasil, no começo <strong>de</strong><br />

1999, transferido para os EUA<br />

pela Coca-Cola, o plano era<br />

ficar 3 anos e <strong>de</strong>pois voltar ao<br />

Brasil. Nunca pensei que <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> 20 anos estivesse por<br />

aqui ainda! Eu me consi<strong>de</strong>ro<br />

uma pessoa <strong>de</strong> sorte por ter<br />

tido tantas oportunida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong><br />

ter trabalhado com tanta gente<br />

competente, que me abriram<br />

tantas portas. Trabalhar<br />

no exterior não foi algo planejado.<br />

Eu acho que planejar<br />

(carreira, vida) é sempre positivo,<br />

mas você tem <strong>de</strong> estar<br />

aberto para algo inesperado e<br />

agarrar as chances que a vida<br />

lhe dá. A transição <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

18 anos como cliente para<br />

agência também foi assim.<br />

Nunca planejei essa mudança,<br />

mas ocorreu. E, em 2009,<br />

estava saindo da Sprint (empresa<br />

do mercado <strong>de</strong> celular<br />

aqui nos EUA) e fui apresentado<br />

ao Luis Miguel Messianu,<br />

que estava procurando uma<br />

pessoa com um lado <strong>de</strong> negócio<br />

para compor a li<strong>de</strong>rança<br />

da agência. O primeiro ano foi<br />

um pouco difícil, mas acredito<br />

que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um tempo, eu<br />

mu<strong>de</strong>i um pouco minha cabeca<br />

e acho que aju<strong>de</strong>i a agência<br />

<strong>de</strong> alguma forma a melhorar<br />

sua oferta no mercado. Depois<br />

<strong>de</strong> 9 anos, a agência dobrou<br />

seu faturamento e seu<br />

lucro, saiu da <strong>13</strong>ª posição no<br />

ranking <strong>de</strong> agências do setor e<br />

se tornou a agência número 1<br />

no segmento e a mais premiada<br />

a nível local e internacional.<br />

Sinto-me realizado, mas<br />

ainda há muito o que fazer e<br />

muito o que crescer.<br />

O que apren<strong>de</strong>u <strong>de</strong> mais importante<br />

nesta transição cliente/agência?<br />

A minha maior lição <strong>de</strong>ntro<br />

da agência foi apren<strong>de</strong>r a valorizar<br />

ainda mais o produto criativo<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e enten<strong>de</strong>r o<br />

quão pouco os clientes enten<strong>de</strong>m<br />

sobre como se relacionar<br />

com suas agências. A maioria<br />

dos clientes não enten<strong>de</strong> que a<br />

qualida<strong>de</strong> do trabalho da agência<br />

não está relacionada exclusivamente<br />

com o tamanho do<br />

fee, mas sim com a qualida<strong>de</strong><br />

do relacionamento. Comunicação<br />

aberta e constante, acesso<br />

aos executivos chaves no lado<br />

do cliente, confiança, clareza<br />

nos objetivos e valorização da<br />

criativida<strong>de</strong> como motor <strong>de</strong><br />

crescimento dos negócios são,<br />

às vezes, mais importantes do<br />

que o tamanho da verba, na minha<br />

experiência.<br />

jornal propmark - <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 47

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