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Chicos 54 - 22.09.2018

Chicos é uma e-zine que circula apenas pelos meios digitais. Envie-nos seu e-mail e teremos prazer de te enviar nossas edições.

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<strong>Chicos</strong><br />

Eltânia André<br />

Eltânia André, nasceu em Cataguases (MG).<br />

Mora em Portugal. È autora de Manhãs adiadas<br />

(Dobra Editorial, SP, 2012), Para fugir<br />

d o s v i v o s ( E d . P a t u á , S P ,<br />

2015), Diolindas (Ed. Penalux, SP, 2016, escrito<br />

em parceria com Ronaldo Cagiano) e<br />

Duelos (Ed. Patuá, SP. 2018).<br />

Teatro a céu aberto<br />

NARRADOR: Ofegante; para no ponto de ônibus<br />

em frente ao prédio da Gazeta. Uma multidão<br />

transita pela Avenida Paulista como na<br />

maioria dos dias. Era apenas um, poderia ficar<br />

anônimo, camuflado, quieto; sobretudo, seguro.<br />

Sentou-se na beirada do canteiro para reativar,<br />

acalmar a respiração, o brioche não lhe<br />

caiu bem, correu léguas (bela palavra, mané –<br />

interferiu o personagem) para afugentar o perigo.<br />

Descansaria o resto da tarde, reconfortante<br />

banho, uma deliciosa imersão na piscina<br />

de plástico do irmão mais novo, acostumouse<br />

à água fria; perfume na medida certa para<br />

agradar a Nara, sua Julieta, paixão que morava<br />

na rua de baixo, próximo...;<br />

ROMEU: quero falar, camarada, falar bem alto:<br />

você não é da minha roça, nunca enfrentou<br />

tocaia ou os gambés, não entende de almas,<br />

seu negócio é com as letras, com as leituras,<br />

não tem condição de falar por mim, eu, o<br />

Leão-da-Comunidade, essa selva cheia de cicatrizes<br />

em que você não colocou os pés;<br />

(linguagem poética é também dos pobres e<br />

miseráveis, meus caros colegas das Academias,<br />

interveio o narrador)<br />

NARRADOR: Que intolerância, senhor Romeu!<br />

Sou bem capaz de lhe desvendar, peço ajuda<br />

aos russos, aos neorrealistas, aos surrealistas,<br />

aos pós-qualquer-coisa, vou até aos barrocos,<br />

os exilados nalgum passado remoto; a Freud<br />

e aos pós-freudianos, tem lacanianos aos<br />

montes estudando há anos o fenômeno da...;<br />

ROMEU: seu Mané, não vem tirar onda não<br />

que eu coloco uma mortalha na sua boca<br />

cheia de dentes, não enche que hoje eu quero<br />

é pensar no amor, nas sardas da Narinha, que<br />

se espalham pelo seu corpinho, será minha<br />

mulher, vou propor casamento! Acho que estou<br />

de quatro por ela. Já fiz o meu de hoje,<br />

sobrevivente, e tive que ir sozinho, não consegui<br />

parceiro com moto. Tenho encomenda de<br />

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