30.11.2018 Views

edição de 3 de dezembro de 2018

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mídia<br />

Especialistas discutem formas para<br />

combater as fake news no digital<br />

Educação, true news e outras iniciativas po<strong>de</strong>m ajudar a minimizar<br />

problema que causa prejuízos à socieda<strong>de</strong>, aponta <strong>de</strong>bate na ESPM<br />

Rodrigo Cebrian, Denil<strong>de</strong> Holzhacker, Urá Machado e André Fran, que participaram do Jornalismo. Fake News. pós-Verda<strong>de</strong><br />

Felipe Turlão<br />

circulação <strong>de</strong> conteúdos<br />

A inverídicos ou <strong>de</strong>liberadamente<br />

falsos, as chamadas fake<br />

news, foi tema <strong>de</strong> seminários e<br />

<strong>de</strong>bates que uniram na semana<br />

passada especialistas em comunicação,<br />

<strong>de</strong>ntre profissionais <strong>de</strong><br />

jornais, produtoras e aca<strong>de</strong>mia.<br />

Realizado no InovaBra Habitat,<br />

o evento Jornalismo. Fake News.<br />

Pós-Verda<strong>de</strong> teve como parceiros<br />

a ESPM, Base#1, Strata RP e Azul,<br />

com mediação <strong>de</strong> Emmanuel Publio<br />

Dias, consultor e professor<br />

da ESPM. O tom das discussões<br />

foi além <strong>de</strong> constatar o tamanho<br />

do prejuízo da socieda<strong>de</strong><br />

por causa das fake news, tentando<br />

trazer soluções que já estão<br />

sendo adotadas. Na Folha <strong>de</strong><br />

S.Paulo, uma série <strong>de</strong> iniciativas<br />

busca minimizar o problema, como<br />

forma <strong>de</strong> valorizar o jornalismo<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. As duas linhas<br />

principais são criar mecanismos<br />

ativos para combater fake news,<br />

<strong>de</strong>ntre elas as checagens através<br />

do serviço Folha Informação e<br />

<strong>de</strong> parcerias com players como<br />

a Lupa, e a atuação para garantir<br />

que as informações sejam bem<br />

apuradas e corretas. Nos dois casos,<br />

não há novida<strong>de</strong>s, já que o<br />

veículo sempre aten<strong>de</strong>u leitores<br />

para saber se algo era real ou não,<br />

e uma das premissas da Folha é a<br />

verda<strong>de</strong>. A diferença é que, agora,<br />

o inimigo parece mais forte,<br />

como reconheceu Urá Machado,<br />

secretário-assistente <strong>de</strong> redação<br />

da publicação.<br />

“Se eu falar que o jornal vai<br />

criar uma série <strong>de</strong> mecanismos<br />

para <strong>de</strong>smentir informações<br />

falsas, que isso resolveria<br />

a maior parte da vida das pessoas,<br />

estaria mentindo. Não<br />

sou otimista nesse combate às<br />

fake news, porque não vejo as<br />

pessoas mudando seus víeses<br />

<strong>de</strong> informação. Elas ten<strong>de</strong>m a<br />

acreditar naquilo que reforça<br />

seu preconceito. No veículo,<br />

se nos concentrarmos em não<br />

piorar essa situação, temos a<br />

melhor forma <strong>de</strong> ajudar a melhorar”,<br />

afirma Machado. Para<br />

ele, a melhor forma <strong>de</strong> combater<br />

fake news é com true news.<br />

“Na minha utopia, as pessoas<br />

vão progressivamente perceber<br />

que o ambiente das re<strong>de</strong>s sociais<br />

é tóxico para informações<br />

e, se quiserem algo real, precisam<br />

assinar veículos sérios <strong>de</strong><br />

comunicação. Não adianta receber<br />

na internet um link <strong>de</strong> veículo,<br />

porque teremos cada vez<br />

menos certeza que aquele print<br />

screen pertence a uma Folha”.<br />

Denil<strong>de</strong> Holzhacker, professora<br />

<strong>de</strong> relações internacionais<br />

da ESPM, trouxe o ponto <strong>de</strong><br />

vista acadêmico sobre o fenômeno,<br />

e explicou a dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> enfrentá-lo. “A primeira informação<br />

que a pessoa recebe<br />

ten<strong>de</strong> a ser vista como correta.<br />

E, quanto mais ela é repetida,<br />

mais credibilida<strong>de</strong> ganha. Uma<br />

das formas <strong>de</strong> enfrentar é repetir<br />

informação várias vezes,<br />

por isso, é difícil mudar a opinião<br />

das pessoas sobre algo que<br />

elas já acreditaram. Os estudos<br />

mostram que, com a quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> informação que temos,<br />

é difícil distinguir o que é real<br />

do que é falso. Ele usa algum<br />

sistema que, na prática, repete<br />

suas crenças”, avalia. Por conta<br />

<strong>de</strong>sse sistema, as pessoas estão<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando as opiniões <strong>de</strong><br />

especialistas e reforçando informações<br />

que recebem <strong>de</strong> seus<br />

grupos mais próximos. “Há uma<br />

preocupação com o que chega<br />

no indivíduo, muda processos<br />

eleitorais e a visão sobre políticas<br />

públicas”, diz Denil<strong>de</strong>.<br />

Segundo ela, as gran<strong>de</strong>s questões<br />

<strong>de</strong> hoje sobre fake news<br />

são como fazer as pessoas saírem<br />

<strong>de</strong> suas bolhas <strong>de</strong> informação<br />

e quais seriam os processos<br />

para diminuir o impacto das<br />

notícias falsas na formação da<br />

opinião pública. São os gran<strong>de</strong>s<br />

dilemas, para os quais, reconhece<br />

a acadêmica, ainda não há<br />

respostas.<br />

Uma possível solução, diz,<br />

passaria pela educação midiática<br />

em um mundo com muitas<br />

informações, algo ainda pouco<br />

discutido no Brasil. “As pessoas<br />

precisam reapren<strong>de</strong>r a ler e enten<strong>de</strong>r<br />

o que sai na mídia. Des<strong>de</strong><br />

a escola, enten<strong>de</strong>r o que é. E<br />

separar suas convicções do que<br />

Alê Oliveira<br />

é fato e realida<strong>de</strong>. Outro fato é a<br />

educação digital, como se comportar<br />

nas re<strong>de</strong>s sociais. E socieda<strong>de</strong><br />

civil e governos também<br />

estão discutindo as informações<br />

que trafegam pelo WhatsApp e<br />

como os algoritmos criam essas<br />

bolhas”, afirma Denil<strong>de</strong>.<br />

André Fran e Rodrigo Cebrian,<br />

roteiristas e sócios da<br />

Base#1, e produtores da série da<br />

Globonews Que mundo é Esse,<br />

fizeram um longo experimento<br />

retratado em documentário<br />

no qual i<strong>de</strong>ntificaram um centro<br />

<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> fake news<br />

na Macedônia, que foi capaz<br />

<strong>de</strong> influenciar informações que<br />

circularam pelos Estados Unidos.<br />

O “negócio”, mostraram,<br />

se revelou lucrativo por conta<br />

do número <strong>de</strong> acessos que resultaram<br />

em anúncios nos sites,<br />

via AdSense, do Google. “Nossa<br />

experiência <strong>de</strong> jornalismo indo<br />

até a fonte <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, mostra<br />

a vantagem <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> ação<br />

em um mundo da banalização<br />

da tecnologia, em que todos po<strong>de</strong>m<br />

produzir conteúdo, que o<br />

po<strong>de</strong>r da gran<strong>de</strong> mídia foi diluído”,<br />

afirmou Fran.<br />

jornal propmark - 3 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 41

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!