Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
mídia<br />
Especialistas discutem formas para<br />
combater as fake news no digital<br />
Educação, true news e outras iniciativas po<strong>de</strong>m ajudar a minimizar<br />
problema que causa prejuízos à socieda<strong>de</strong>, aponta <strong>de</strong>bate na ESPM<br />
Rodrigo Cebrian, Denil<strong>de</strong> Holzhacker, Urá Machado e André Fran, que participaram do Jornalismo. Fake News. pós-Verda<strong>de</strong><br />
Felipe Turlão<br />
circulação <strong>de</strong> conteúdos<br />
A inverídicos ou <strong>de</strong>liberadamente<br />
falsos, as chamadas fake<br />
news, foi tema <strong>de</strong> seminários e<br />
<strong>de</strong>bates que uniram na semana<br />
passada especialistas em comunicação,<br />
<strong>de</strong>ntre profissionais <strong>de</strong><br />
jornais, produtoras e aca<strong>de</strong>mia.<br />
Realizado no InovaBra Habitat,<br />
o evento Jornalismo. Fake News.<br />
Pós-Verda<strong>de</strong> teve como parceiros<br />
a ESPM, Base#1, Strata RP e Azul,<br />
com mediação <strong>de</strong> Emmanuel Publio<br />
Dias, consultor e professor<br />
da ESPM. O tom das discussões<br />
foi além <strong>de</strong> constatar o tamanho<br />
do prejuízo da socieda<strong>de</strong><br />
por causa das fake news, tentando<br />
trazer soluções que já estão<br />
sendo adotadas. Na Folha <strong>de</strong><br />
S.Paulo, uma série <strong>de</strong> iniciativas<br />
busca minimizar o problema, como<br />
forma <strong>de</strong> valorizar o jornalismo<br />
<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. As duas linhas<br />
principais são criar mecanismos<br />
ativos para combater fake news,<br />
<strong>de</strong>ntre elas as checagens através<br />
do serviço Folha Informação e<br />
<strong>de</strong> parcerias com players como<br />
a Lupa, e a atuação para garantir<br />
que as informações sejam bem<br />
apuradas e corretas. Nos dois casos,<br />
não há novida<strong>de</strong>s, já que o<br />
veículo sempre aten<strong>de</strong>u leitores<br />
para saber se algo era real ou não,<br />
e uma das premissas da Folha é a<br />
verda<strong>de</strong>. A diferença é que, agora,<br />
o inimigo parece mais forte,<br />
como reconheceu Urá Machado,<br />
secretário-assistente <strong>de</strong> redação<br />
da publicação.<br />
“Se eu falar que o jornal vai<br />
criar uma série <strong>de</strong> mecanismos<br />
para <strong>de</strong>smentir informações<br />
falsas, que isso resolveria<br />
a maior parte da vida das pessoas,<br />
estaria mentindo. Não<br />
sou otimista nesse combate às<br />
fake news, porque não vejo as<br />
pessoas mudando seus víeses<br />
<strong>de</strong> informação. Elas ten<strong>de</strong>m a<br />
acreditar naquilo que reforça<br />
seu preconceito. No veículo,<br />
se nos concentrarmos em não<br />
piorar essa situação, temos a<br />
melhor forma <strong>de</strong> ajudar a melhorar”,<br />
afirma Machado. Para<br />
ele, a melhor forma <strong>de</strong> combater<br />
fake news é com true news.<br />
“Na minha utopia, as pessoas<br />
vão progressivamente perceber<br />
que o ambiente das re<strong>de</strong>s sociais<br />
é tóxico para informações<br />
e, se quiserem algo real, precisam<br />
assinar veículos sérios <strong>de</strong><br />
comunicação. Não adianta receber<br />
na internet um link <strong>de</strong> veículo,<br />
porque teremos cada vez<br />
menos certeza que aquele print<br />
screen pertence a uma Folha”.<br />
Denil<strong>de</strong> Holzhacker, professora<br />
<strong>de</strong> relações internacionais<br />
da ESPM, trouxe o ponto <strong>de</strong><br />
vista acadêmico sobre o fenômeno,<br />
e explicou a dificulda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> enfrentá-lo. “A primeira informação<br />
que a pessoa recebe<br />
ten<strong>de</strong> a ser vista como correta.<br />
E, quanto mais ela é repetida,<br />
mais credibilida<strong>de</strong> ganha. Uma<br />
das formas <strong>de</strong> enfrentar é repetir<br />
informação várias vezes,<br />
por isso, é difícil mudar a opinião<br />
das pessoas sobre algo que<br />
elas já acreditaram. Os estudos<br />
mostram que, com a quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> informação que temos,<br />
é difícil distinguir o que é real<br />
do que é falso. Ele usa algum<br />
sistema que, na prática, repete<br />
suas crenças”, avalia. Por conta<br />
<strong>de</strong>sse sistema, as pessoas estão<br />
<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando as opiniões <strong>de</strong><br />
especialistas e reforçando informações<br />
que recebem <strong>de</strong> seus<br />
grupos mais próximos. “Há uma<br />
preocupação com o que chega<br />
no indivíduo, muda processos<br />
eleitorais e a visão sobre políticas<br />
públicas”, diz Denil<strong>de</strong>.<br />
Segundo ela, as gran<strong>de</strong>s questões<br />
<strong>de</strong> hoje sobre fake news<br />
são como fazer as pessoas saírem<br />
<strong>de</strong> suas bolhas <strong>de</strong> informação<br />
e quais seriam os processos<br />
para diminuir o impacto das<br />
notícias falsas na formação da<br />
opinião pública. São os gran<strong>de</strong>s<br />
dilemas, para os quais, reconhece<br />
a acadêmica, ainda não há<br />
respostas.<br />
Uma possível solução, diz,<br />
passaria pela educação midiática<br />
em um mundo com muitas<br />
informações, algo ainda pouco<br />
discutido no Brasil. “As pessoas<br />
precisam reapren<strong>de</strong>r a ler e enten<strong>de</strong>r<br />
o que sai na mídia. Des<strong>de</strong><br />
a escola, enten<strong>de</strong>r o que é. E<br />
separar suas convicções do que<br />
Alê Oliveira<br />
é fato e realida<strong>de</strong>. Outro fato é a<br />
educação digital, como se comportar<br />
nas re<strong>de</strong>s sociais. E socieda<strong>de</strong><br />
civil e governos também<br />
estão discutindo as informações<br />
que trafegam pelo WhatsApp e<br />
como os algoritmos criam essas<br />
bolhas”, afirma Denil<strong>de</strong>.<br />
André Fran e Rodrigo Cebrian,<br />
roteiristas e sócios da<br />
Base#1, e produtores da série da<br />
Globonews Que mundo é Esse,<br />
fizeram um longo experimento<br />
retratado em documentário<br />
no qual i<strong>de</strong>ntificaram um centro<br />
<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> fake news<br />
na Macedônia, que foi capaz<br />
<strong>de</strong> influenciar informações que<br />
circularam pelos Estados Unidos.<br />
O “negócio”, mostraram,<br />
se revelou lucrativo por conta<br />
do número <strong>de</strong> acessos que resultaram<br />
em anúncios nos sites,<br />
via AdSense, do Google. “Nossa<br />
experiência <strong>de</strong> jornalismo indo<br />
até a fonte <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, mostra<br />
a vantagem <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> ação<br />
em um mundo da banalização<br />
da tecnologia, em que todos po<strong>de</strong>m<br />
produzir conteúdo, que o<br />
po<strong>de</strong>r da gran<strong>de</strong> mídia foi diluído”,<br />
afirmou Fran.<br />
jornal propmark - 3 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 41