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edição de 4 de fevereiro de 2019

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editorial<br />

Armando Ferrentini<br />

aferrentini@editorareferencia.com.br<br />

i<strong>de</strong>ias estatizantes<br />

Após o recente episódio das BVs (Bonificações por Volume)<br />

concedidas pela mídia às agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e protagonizado<br />

por membros do novo governo fe<strong>de</strong>ral, que se insurgiram<br />

contra essa antiga prática do mercado publicitário<br />

brasileiro (ver nosso Editorial da edição <strong>de</strong> 14/01/19), surge recentemente<br />

mais uma implicância das mesmas autorida<strong>de</strong>s,<br />

<strong>de</strong>sta feita con<strong>de</strong>nando as contas publicitárias do governo fe<strong>de</strong>ral<br />

sendo atendidas por agências <strong>de</strong> propaganda do mercado<br />

privado brasileiro.<br />

A i<strong>de</strong>ia, segundo esse grupo, é o governo fe<strong>de</strong>ral criar uma house<br />

agency (agência da casa), naturalmente chapa-branca, para<br />

aten<strong>de</strong>r todas as contas publicitárias do mesmo.<br />

Além <strong>de</strong> contrariar a i<strong>de</strong>ia cada vez mais dominante em todo o<br />

mercado brasileiro (e não apenas no publicitário) sobre a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cada vez mais privatizarmos o vasto rol <strong>de</strong> empresas<br />

estatais que o Brasil ainda possui e que geralmente não só trabalham<br />

mal (com algumas louváveis exceções), mas também servem<br />

<strong>de</strong> cabi<strong>de</strong>s <strong>de</strong> empregos a apadrinhados políticos e <strong>de</strong> base<br />

para falcatruas como as que vimos ocorrer muito recentemente<br />

no país, facilitando a existência <strong>de</strong> mensalões e toda sorte <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>svios do dinheiro público, sob diversas rubricas, é patente<br />

e notório que no caso da publicida<strong>de</strong>, disciplina cuja própria<br />

natureza se escora na competitivida<strong>de</strong>, uma house agency é a<br />

menos indicada para contribuir para que os seus clientes-anunciantes<br />

vençam no mercado.<br />

A razão é simples: antes <strong>de</strong> fazerem seus clientes bem concorrer<br />

nos segmentos on<strong>de</strong> atuam, as agências também se movem<br />

em concorrer entre si, criando para anunciantes que atuam no<br />

mesmo segmento empresarial campanhas e peças isoladas brilhantes,<br />

que, além <strong>de</strong> melhor fazer funcionar as vendas dos seus<br />

clientes-anunciantes, mostram para todos os players do mercado<br />

até on<strong>de</strong> vai o seu DNA criativo.<br />

Nesse particular resi<strong>de</strong> a motivação <strong>de</strong> muitas agências hoje:<br />

obter através dos trabalhos que assinam para os seus clientes-<br />

-anunciantes a condição <strong>de</strong> agência imbatível na sua capacida<strong>de</strong><br />

criativa.<br />

Esse é um dos gran<strong>de</strong>s estímulos proporcionados pela livre iniciativa,<br />

que não po<strong>de</strong> ser tolhido por governos <strong>de</strong>mocráticos,<br />

mas que pensam em adotar para as suas prestadoras <strong>de</strong> serviços<br />

uma camisa <strong>de</strong> força oficial, que só fará mal a elas próprias e –<br />

eureka! – aos seus próprios clientes-anunciantes.<br />

Tudo o que acima está dito po<strong>de</strong>ria ser objeto <strong>de</strong> larga contestação,<br />

caso fosse apenas mais uma divagação jornalística, esta<br />

classe sonhadora que nem sempre consegue distinguir o sonho<br />

da realida<strong>de</strong>.<br />

Pela sua própria essência, o jornalismo almeja cotidianamente<br />

um mundo melhor, embora nem sempre acertando nas suas<br />

próprias escolhas.<br />

No caso em tela, po<strong>de</strong> parecer a esses profissionais da esperança,<br />

<strong>de</strong>ntre os quais não raro nos incluímos, que a possibilida<strong>de</strong><br />

da criação <strong>de</strong> uma house agency pelo governo fe<strong>de</strong>ral resolverá<br />

todos os seus problemas <strong>de</strong> comunicação com os diversos públicos<br />

que fazem parte do enorme espectro <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> oficial.<br />

Muitos já pensaram nisso antes e quebraram a cara, chegando<br />

à conclusão, ou por si próprios, ou pelo aconselhamento <strong>de</strong><br />

empresários e profissionais mais próximos do problema, que<br />

seria um erro clamoroso a lembrar os já velhos tempos <strong>de</strong> países<br />

enclausurados por sistemas ditatoriais <strong>de</strong> governo, on<strong>de</strong><br />

contraditar é crime.<br />

A antiga URSS, por exemplo, mantinha uma agência <strong>de</strong> propaganda<br />

em funcionamento, que jamais produziu um trabalho<br />

brilhante que fosse, para ser aplaudido pelo mundo livre da propaganda.<br />

Ao contrário, sua produção <strong>de</strong> anúncios e campanhas era <strong>de</strong> tal<br />

or<strong>de</strong>m abaixo da crítica que foi um dos primeiros organismos <strong>de</strong>scontinuados,<br />

com o início da lenta abertura soviética (glasnost).<br />

Então, o que se pe<strong>de</strong> ao nosso novo governo central é que abandone<br />

i<strong>de</strong>ias centralizadoras e contribua para um país mais aberto,<br />

mais <strong>de</strong>mocrático, no qual <strong>de</strong>ve imperar a livre iniciativa e uma<br />

das maiores forças propulsoras do progresso: a concorrência.<br />

Basta olhar para os países mais adiantados do planeta, para a<br />

constatação inevitável: a raiz do seu progresso tem origem na<br />

livre concorrência, ou livre iniciativa.<br />

O estatismo só faz bem para os seus inimigos, que sabem ver<br />

nele adversário fraco e acomodado, incapaz <strong>de</strong> superar com a<br />

rapi<strong>de</strong>z necessária as dificulda<strong>de</strong>s que acometem as gran<strong>de</strong>s organizações<br />

como o Estado.<br />

No caso em tela, se uma agência <strong>de</strong> propaganda não aten<strong>de</strong> bem<br />

ao governo, rescin<strong>de</strong>-se o contrato, abre-se nova concorrência e<br />

se escolhe a melhor.<br />

As houses são entida<strong>de</strong>s do passado e as poucas que hoje ainda<br />

funcionam bem, se é que funcionam, não passam <strong>de</strong> exceções.<br />

Aqui mesmo, no Brasil, temos inúmeras histórias <strong>de</strong> houses que<br />

não se <strong>de</strong>ram bem e <strong>de</strong>sapareceram com o tempo.<br />

Nada como uma boa agência in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para indicar o melhor<br />

caminho.<br />

O acerto é quase inevitável.<br />

jornal propmark - 4 <strong>de</strong> <strong>fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> 3

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