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editorial<br />
Armando Ferrentini<br />
aferrentini@editorareferencia.com.br<br />
i<strong>de</strong>ias estatizantes<br />
Após o recente episódio das BVs (Bonificações por Volume)<br />
concedidas pela mídia às agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e protagonizado<br />
por membros do novo governo fe<strong>de</strong>ral, que se insurgiram<br />
contra essa antiga prática do mercado publicitário<br />
brasileiro (ver nosso Editorial da edição <strong>de</strong> 14/01/19), surge recentemente<br />
mais uma implicância das mesmas autorida<strong>de</strong>s,<br />
<strong>de</strong>sta feita con<strong>de</strong>nando as contas publicitárias do governo fe<strong>de</strong>ral<br />
sendo atendidas por agências <strong>de</strong> propaganda do mercado<br />
privado brasileiro.<br />
A i<strong>de</strong>ia, segundo esse grupo, é o governo fe<strong>de</strong>ral criar uma house<br />
agency (agência da casa), naturalmente chapa-branca, para<br />
aten<strong>de</strong>r todas as contas publicitárias do mesmo.<br />
Além <strong>de</strong> contrariar a i<strong>de</strong>ia cada vez mais dominante em todo o<br />
mercado brasileiro (e não apenas no publicitário) sobre a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> cada vez mais privatizarmos o vasto rol <strong>de</strong> empresas<br />
estatais que o Brasil ainda possui e que geralmente não só trabalham<br />
mal (com algumas louváveis exceções), mas também servem<br />
<strong>de</strong> cabi<strong>de</strong>s <strong>de</strong> empregos a apadrinhados políticos e <strong>de</strong> base<br />
para falcatruas como as que vimos ocorrer muito recentemente<br />
no país, facilitando a existência <strong>de</strong> mensalões e toda sorte <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>svios do dinheiro público, sob diversas rubricas, é patente<br />
e notório que no caso da publicida<strong>de</strong>, disciplina cuja própria<br />
natureza se escora na competitivida<strong>de</strong>, uma house agency é a<br />
menos indicada para contribuir para que os seus clientes-anunciantes<br />
vençam no mercado.<br />
A razão é simples: antes <strong>de</strong> fazerem seus clientes bem concorrer<br />
nos segmentos on<strong>de</strong> atuam, as agências também se movem<br />
em concorrer entre si, criando para anunciantes que atuam no<br />
mesmo segmento empresarial campanhas e peças isoladas brilhantes,<br />
que, além <strong>de</strong> melhor fazer funcionar as vendas dos seus<br />
clientes-anunciantes, mostram para todos os players do mercado<br />
até on<strong>de</strong> vai o seu DNA criativo.<br />
Nesse particular resi<strong>de</strong> a motivação <strong>de</strong> muitas agências hoje:<br />
obter através dos trabalhos que assinam para os seus clientes-<br />
-anunciantes a condição <strong>de</strong> agência imbatível na sua capacida<strong>de</strong><br />
criativa.<br />
Esse é um dos gran<strong>de</strong>s estímulos proporcionados pela livre iniciativa,<br />
que não po<strong>de</strong> ser tolhido por governos <strong>de</strong>mocráticos,<br />
mas que pensam em adotar para as suas prestadoras <strong>de</strong> serviços<br />
uma camisa <strong>de</strong> força oficial, que só fará mal a elas próprias e –<br />
eureka! – aos seus próprios clientes-anunciantes.<br />
Tudo o que acima está dito po<strong>de</strong>ria ser objeto <strong>de</strong> larga contestação,<br />
caso fosse apenas mais uma divagação jornalística, esta<br />
classe sonhadora que nem sempre consegue distinguir o sonho<br />
da realida<strong>de</strong>.<br />
Pela sua própria essência, o jornalismo almeja cotidianamente<br />
um mundo melhor, embora nem sempre acertando nas suas<br />
próprias escolhas.<br />
No caso em tela, po<strong>de</strong> parecer a esses profissionais da esperança,<br />
<strong>de</strong>ntre os quais não raro nos incluímos, que a possibilida<strong>de</strong><br />
da criação <strong>de</strong> uma house agency pelo governo fe<strong>de</strong>ral resolverá<br />
todos os seus problemas <strong>de</strong> comunicação com os diversos públicos<br />
que fazem parte do enorme espectro <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> oficial.<br />
Muitos já pensaram nisso antes e quebraram a cara, chegando<br />
à conclusão, ou por si próprios, ou pelo aconselhamento <strong>de</strong><br />
empresários e profissionais mais próximos do problema, que<br />
seria um erro clamoroso a lembrar os já velhos tempos <strong>de</strong> países<br />
enclausurados por sistemas ditatoriais <strong>de</strong> governo, on<strong>de</strong><br />
contraditar é crime.<br />
A antiga URSS, por exemplo, mantinha uma agência <strong>de</strong> propaganda<br />
em funcionamento, que jamais produziu um trabalho<br />
brilhante que fosse, para ser aplaudido pelo mundo livre da propaganda.<br />
Ao contrário, sua produção <strong>de</strong> anúncios e campanhas era <strong>de</strong> tal<br />
or<strong>de</strong>m abaixo da crítica que foi um dos primeiros organismos <strong>de</strong>scontinuados,<br />
com o início da lenta abertura soviética (glasnost).<br />
Então, o que se pe<strong>de</strong> ao nosso novo governo central é que abandone<br />
i<strong>de</strong>ias centralizadoras e contribua para um país mais aberto,<br />
mais <strong>de</strong>mocrático, no qual <strong>de</strong>ve imperar a livre iniciativa e uma<br />
das maiores forças propulsoras do progresso: a concorrência.<br />
Basta olhar para os países mais adiantados do planeta, para a<br />
constatação inevitável: a raiz do seu progresso tem origem na<br />
livre concorrência, ou livre iniciativa.<br />
O estatismo só faz bem para os seus inimigos, que sabem ver<br />
nele adversário fraco e acomodado, incapaz <strong>de</strong> superar com a<br />
rapi<strong>de</strong>z necessária as dificulda<strong>de</strong>s que acometem as gran<strong>de</strong>s organizações<br />
como o Estado.<br />
No caso em tela, se uma agência <strong>de</strong> propaganda não aten<strong>de</strong> bem<br />
ao governo, rescin<strong>de</strong>-se o contrato, abre-se nova concorrência e<br />
se escolhe a melhor.<br />
As houses são entida<strong>de</strong>s do passado e as poucas que hoje ainda<br />
funcionam bem, se é que funcionam, não passam <strong>de</strong> exceções.<br />
Aqui mesmo, no Brasil, temos inúmeras histórias <strong>de</strong> houses que<br />
não se <strong>de</strong>ram bem e <strong>de</strong>sapareceram com o tempo.<br />
Nada como uma boa agência in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para indicar o melhor<br />
caminho.<br />
O acerto é quase inevitável.<br />
jornal propmark - 4 <strong>de</strong> <strong>fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> 3