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Vaselena/iStock<br />
Trump e sua assinatura<br />
“Mentir é malda<strong>de</strong> absoluta. Não é possível<br />
mentir pouco ou muito; quem mente, mente.<br />
A mentira é a própria face do <strong>de</strong>mônio”.<br />
Victor Hugo<br />
Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />
Um dia o mundo amanheceu tentando<br />
enten<strong>de</strong>r o que existia <strong>de</strong> sincero, real<br />
e verda<strong>de</strong>iro no aperto <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> dois<br />
malucos, irresponsáveis, truculentos e<br />
inconsequentes: Donald Trump e King<br />
Jong-Un. Semanas atrás, e em manifestação<br />
nos Estados Unidos, Trump confessou<br />
que King está apaixonado por ele... Será?<br />
De qualquer maneira, o novo casal da política<br />
mundial vem ocupando as primeiras<br />
páginas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> jornais em todo o<br />
mundo, mais horas e horas das principais<br />
emissoras <strong>de</strong> televisão, mais re<strong>de</strong>s sociais,<br />
mais todas as e-news e muito e muito mais.<br />
Assim, absolutamente impossível quantificar-se<br />
o impacto daquele primeiro aperto<br />
<strong>de</strong> mão. Em valor <strong>de</strong> mídia, centenas <strong>de</strong><br />
milhões <strong>de</strong> dólares... Li a <strong>de</strong>claração. Absolutamente<br />
formal, quatro ou cinco parágrafos<br />
<strong>de</strong> manifestação <strong>de</strong> intenções e generalida<strong>de</strong>s.<br />
Nada, além disso... De qualquer<br />
maneira, e se Deus e o diabo encontram-se<br />
nos <strong>de</strong>talhes, não há como ignorar um pequeno<br />
e fantástico <strong>de</strong>talhe que caracteriza<br />
as aparições públicas <strong>de</strong> Trump, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
primeiro dia <strong>de</strong> seu mandato. Invariavelmente<br />
sentando na posição central <strong>de</strong> uma<br />
mesa, e sempre, em todas as solenida<strong>de</strong>s e<br />
reuniões, uma mesma cena final se repete.<br />
Trump, exibindo, além <strong>de</strong> sua vermelhidão,<br />
<strong>de</strong> seu topete, e <strong>de</strong> suas expressões,<br />
uma imponente caneta preta.<br />
E tudo milimetricamente calculado,<br />
na dimensão exata para que a cada final<br />
<strong>de</strong> ato, coletiva, entrevista, ao final sempre<br />
apareça uma mesma pasta presta, que<br />
Trump, empunhando sua imponente caneta,<br />
assine um suposto e qualquer documento<br />
na frente <strong>de</strong> todos... E <strong>de</strong>pois,<br />
olhando fixo para as câmaras do mundo,<br />
vira a pasta preta e exibe sua megablaster<br />
exponencial e inesquecível assinatura.<br />
Simplesmente irretocável, precisa, clara,<br />
harmônica, não me lembro <strong>de</strong> ter visto<br />
nada parecido ou semelhante em todo os<br />
meus 50 anos <strong>de</strong> marketing. Imagino que<br />
todos os dias antes <strong>de</strong> sair para o trabalho,<br />
e logo após o café, Trump treine umas 50<br />
vezes sua absurda assinatura. Isso posto, a<br />
logomarca Trump sintetiza-se na soma <strong>de</strong><br />
seu corpanzil, no paletó aberto, olhar impositivo<br />
e sem qualquer manifestação <strong>de</strong><br />
compromisso, a vermelhidão do rosto, o<br />
topete, o olhar <strong>de</strong> menosprezo, <strong>de</strong>sapreço<br />
e tédio, e muito especialmente, e coroando<br />
todo o ritual, a assinatura.<br />
Em termos <strong>de</strong> ativação <strong>de</strong> seu processo<br />
<strong>de</strong> branding, <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> sinais e códigos<br />
<strong>de</strong> comunicação, 10! A câmara foca Trump,<br />
fecha em suas mãos enquanto assina, a câmera<br />
abre, Trump olha, gira a pasta preta, e<br />
exibe ao mundo... Sua monumental assinatura.<br />
Tudo em quase 5 segundos. E volta os<br />
olhos para o mundo, esboço <strong>de</strong> sorriso dissimulado,<br />
reiterando, no movimento sutil<br />
dos lábios e em perfeita sincronia com as<br />
bochechas, seu imenso <strong>de</strong>sprezo por todos<br />
os <strong>de</strong>mais seres humanos. Até mesmo, pela<br />
forma como trata e ainda se refere, a muitas<br />
das pessoas da própria família.<br />
A câmera quer fugir e tirá-lo do foco,<br />
mas ele impe<strong>de</strong> com um rápido movimento<br />
<strong>de</strong> mãos. Mantém o olhar fixo para os<br />
milhões que estão do outro lado da câmera,<br />
em todas as partes do mundo, como a<br />
dizer, Viram... Eu sou, eu posso, eu faço...<br />
Jamais duvi<strong>de</strong>m <strong>de</strong> que eu seja capaz. Acho<br />
Trump uma piada. Já a sua assinatura, o<br />
máximo! Quase como se fosse o acor<strong>de</strong> final<br />
da Rhapsody in Blue dos irmãos George<br />
e Ira Gershwin...<br />
E você, sua empresa, produtos, serviços,<br />
cuidaram <strong>de</strong> um último acor<strong>de</strong>, <strong>de</strong> um <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro<br />
sinal ou código <strong>de</strong> comunicação,<br />
que prolongue sua presença mesmo <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> ter se retirado? Se sim, parabéns! Caso<br />
contrário, mais que recomendo. Todo o<br />
restante jamais referencie-se em Donald<br />
Trump.<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
famadia@madiamm.com.br<br />
28 4 <strong>de</strong> <strong>fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark