Atos II Beijo técnico (Adaptação teatral)_Paulo Vitor Grossi (2019)

dizer que devem respirar comigo. Meus amigos, todos nós estamos com
uma imensa carga nas costas, é a intuição que incita!
Mas direi contudo que estamos em cheque; direi que bem espantados e à
mercê do ciclo
(tom) é preciso se acalmar para refletir direito. O dia de amanhã nunca foi
certeza de nada mesmo
(pausa) nem aqui nem em qualquer parte dessa colônia achada, ou
qualquer pedaço de terra renomeada; o que mudou na real é essa
dramaticidade, a violência dos fatos. Os atos não mentem, ao atos
mostram. Hilaria é nossa devida sepultura, nossos destinos aqui se unem,
que será que nos trouxe à esta Terra? Algo para corrigirmos? Provável.
Muito dissertaram
(pausa) mas não passou de falação, afinal, e me arrisco a dizer que em vão;
claro, porque caímos é num buraco incongruente. Temo pelo ar. Não
posso sufocar e deixar minha gente à mercê, à beira da loucura dentro
desta gruta. Então rezo a Deus que me dê garra, não só para mim mas
para essa gente toda. Nos bastamos como seres racionais para relegarmos
esse desfecho? Ah, que isso! E aí, vai lá, quem pensa nisso? Mesmo se
sobrevivemos, vamos nos repovoar sem pensar em nada? Tropeçar
igualzinho?
[Aos poucos outras pessoas chegam ao palco pela esquerda e direita, são as filhas e a esposa
do Pai e outros que, como ele, estão refugiados naquele ambiente. Eles se entreolham,
estão visivelmente esgotados.]
PAI
(aliviado, para os outros atores)
Por fim chego ao meu destino, vejo essas pessoas, vocês, e agora vocês
também me veem da mesma forma. Peço a todos que se calem, e nos
calamos. “Estamos aqui dividindo a companhia, meus irmãos e irmãs.
Minha família.” “Sei que vocês agora ouvem mas não sem antes me
analisar em seus pesares; quem é esse que fala? Mas não é mesmo?
Quero falar com vocês, conversar. Acredito e venho como um ente
querido, alguém para a necessidade, alguém que se preocupa e pensa
alto.”
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