crescesse, eu respondia, meio sem convicção: “Quero ser médico”. * Lei 7437, de 20 de dezembro de 1985, disponível em: . Acesso em: 20 fev. 2017.
Entre o laboratório e o palco Aos catorze anos saí da casa de Dindinha e fui morar com meu pai no Garcia, bairro que se desenvolveu a partir da ocupação de uma antiga fazenda colonial e é um dos mais antigos de Salvador. Nos anos 1940 e 1950, sua parte mais alta foi dividida em uma série de loteamentos, e construções modestas se multiplicaram pela região. Quando me mudei para lá, em 1991, os becos e as vielas pouco iluminados ainda eram de terra batida. Mas o Garcia estava em plena expansão, tanto que, entre as crianças do bairro, uma das brincadeiras prediletas era pular na areia das obras. Hoje o que existe são casas amontoadas entre edifícios modernos. Pela fragilidade, essas construções me lembram castelos de cartas. E foram crescendo desordenadamente, de acordo com a ascensão social dos donos. Nossa área, conhecida como Fazenda Garcia, preservou seu espírito familiar e popular. Mesmo sem luxos, nossa casa é um dos maiores orgulhos de meu pai: foi construída aos poucos e hoje tem três andares, com direito a um terracinho. A obra levou tantos anos que perdi as contas. Ele sempre sonhou com isso: um andar para ele, um para mim e outro para minha irmã. E realizou o sonho. A mudança de bairro e de escola não foi nada fácil. Em plena adolescência, eu continuava a ser um tipo retraído. Era pequeno, magrinho, caladão. Depois de sair da casa de Dindinha, levei um ano para conseguir deitar no sofá da casa do meu pai — que era, aliás, minha própria casa. Não sentia como se aquele ambiente me pertencesse. Era a primeira vez que estava morando com ele e não queria incomodá-lo. Não sabia exatamente o que era permitido, então ficava num cantinho da sala para não ocupar muito espaço. Só voltei a pensar nessa sensação quando, ao final de uma entrevista para o Espelho com Jaime Sodré, professor e doutor em história da cultura negra e ogã, ele me chamou no canto e disse, com sua sabedoria ancestral: “Você sabe que essa menina que está vindo aí é de Ogum, não é?”. Taís estava grávida de cinco meses da nossa filha, Maria Antônia. Eu disse: “Não sei, é?”. Ele completou: “É.
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