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Na-Minha-Pele-Lazaro-Ramos

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A ribalta<br />

O Bando tinha uma produção intensa. Mesmo sem patrocínio algum,<br />

chegávamos a encenar três espetáculos seguidos. E dos mais variados, de<br />

Woyzéck (1993), do alemão Georg Büchner, passando por Sonhos de uma noite<br />

de verão (1999), de Shakespeare, a Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes<br />

(1998) e Ópera dos três vinténs (1996), de Brecht. Mas o que me marcou<br />

mesmo foram nossas criações autorais. Queríamos falar e descobrir qual era a<br />

nossa voz. E falamos de tudo, de religiosidade com Erê pra toda vida (1996) e<br />

O novo mundo (1991), de habitação com a Trilogia do Pelô (que inclui Essa é a<br />

nossa praia, Ó paí, ó e Bai bai, Pelô), de racismo em Cabaré da raça (1997).<br />

Sempre buscando dar um novo passo, algo que ainda não tivesse sido feito no<br />

teatro negro até aquele momento.<br />

Guardo com alegria o fato de que meus primeiros ídolos do palco foram os<br />

atores do Bando. Eu queria ser como eles, os admirava, aprendia com eles. Têlos<br />

como minhas primeiras referências ainda hoje me emociona. Luciana Souza,<br />

Valdineia Soriano, Ednaldo Muniz, Edvana Carvalho, Suzana Matta, Tânia<br />

Toko, <strong>Na</strong>uro Neves, Jeremias Mendes, Arlete Dias, além dos amigos que citei<br />

no capítulo anterior e alguns mais que citarei em breve, são nomes que<br />

reverencio até hoje.<br />

Faço questão de citá-los sempre, pois em muitas das experiências de grupos<br />

negros — seja na música, no teatro, na dança ou até mesmo em manifestações<br />

políticas e estudantis — se menciona apenas o “líder” ou o nome do grupo,<br />

apagando as individualidades. Nomear é importante, é um exercício para não<br />

perdermos os atributos que nos distinguem, para provocar empatia com o<br />

outro. Um simples nome — como Cláudia — pode revelar a dimensão humana<br />

de alguém, gerando empatia e, consequentemente, valorização. Ser Cláudia<br />

Silva Ferreira, e não a “mulher arrastada” por uma viatura da PM, como parte da<br />

imprensa se referiu a ela no trágico caso que levou à sua morte e que ocorreu no<br />

Rio de Janeiro em 16 de março de 2014 (lembram?), reeduca o olhar, sim, e

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