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construção de novas identidades, com a capacidade de imprimir no imaginário<br />
de todas as crianças, brancas ou negras, um tipo que nem sempre esteve<br />
presente nas produções feitas para elas.<br />
A Tiana, de A princesa e o sapo (2009), a primeira protagonista negra da<br />
Disney, eu inicialmente vetei da lista de filmes do João. Apesar de gostar da<br />
ideia de ela desejar ser independente e ter como objetivo ascender socialmente<br />
se tornando uma empresária, dona de restaurante, a demonização da religião de<br />
matriz africana me causou enorme incômodo. Acho que uma visão não<br />
demonizada é um passo a ser conquistado, seja porque eles podem vir a ter essa<br />
religião, seja porque é importante passar o valor de respeito a todas as crenças.<br />
Meu primeiro ímpeto é acompanhar os meus pequenos de perto e, quando<br />
sentir que eles estão confortáveis para serem quem são, eles devem assistir ao<br />
filme, até para entenderem as sutilezas e as possíveis interpretações da história.<br />
Essa é mais uma reflexão em aberto desta longa jornada que é criar um filho.<br />
Aos poucos, eu e Taís fomos formando seus imaginários e o de todos que os<br />
cercam. Sim, os mesmos livros que compro para eles dou de presente para seus<br />
amigos de escola. Sim, dou bonecas negras mesmo para seus amiguinhos mais<br />
loiros. Fico atento a essa questão e, buscando em várias fontes, encontrei uma<br />
boa variedade de livros que trazem personagens negros, ainda mais se se<br />
comparar com a ausência de material assim na minha infância. Lembro uma vez<br />
em que dei o mesmo livro para um amigo do meu filho e ele muito<br />
sinceramente disse: “Ah, não, esse livro de novo...”. A sorte é que eu tinha outro<br />
título à mão e rapidamente troquei.<br />
Está ficando entediado com o papo? Espere um pouco que já faço uma piada.<br />
Está achando a conversa banal? Talvez seja mesmo.<br />
Sigamos...<br />
O pensamento, a educação, as ideias, tudo o que diz respeito à formação das<br />
crianças evoluiu muito, e, independentemente da questão política, é muito<br />
divertido e prazeroso ter contato com novas abordagens e realidades. <strong>Na</strong> minha<br />
época, todas as vezes em que vi algum personagem com a tez mais escura, ele<br />
era um melhor amigo engraçado ou um coadjuvante esporádico em algum<br />
desenho animado ou numa série cômica norte-americana. Havia a Diana, a linda<br />
heroína do desenho A caverna do dragão (1983-5); mas ela, apesar de linda e<br />
corajosa, era mulher, e eu não conseguia me imaginar dentro daquele short e do<br />
top de pele de animal (nunca me vi usando aquela roupa numa festa infantil de<br />
bairro). Tá vendo? Já fiz uma piada.