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A academia e seus modelos
E L IZ A B E T H C A R B O N E B A E Z
' 'The simple society bred simple people.
V.S. Naipaul. The Loss of El Dorado
Não se trata de nenhuma novidade que a pintura acadêmica brasileira teve como
principal influência a pintura oficial francesa, conhecida como “pompier” . No entanto,
sente-se ainda a necessidade de sistematizar esse estudo. A fim de que o trabalho não fique
restrito a simples identificação de modelos, toma-se necessário fazer uma relação dessa
forma de representação plástica com o processo histórico, assim como verificar até que
ponto essa representação foi institucionalizada e incentivada a se perpetuar por ir ao encontro
das necessidades de afirmação de um sistema social e político em formação.
O tipo de representação proposto pelo neoclassicismo e deformado pelo academismo
encontrou no Brasil um campo fértil para se enraizar e desenvolver uma vez que seu
universo simbólico supria os anseios políticos, sociais e culturais da classe dominante.
Consequentemente, era a única forma de representação ensinada e divulgada no Brasil no
século XIX.
O neoclassicismo vai usar, a grosso modo, o mesmo sistema de representação dos objetos
no espaço do Renascimento, quando o homem passa a ser o centro do universo. O artista
terá o poder de controlar o espaço a partir de leis científicas, a natureza emancipa-se
da ordem divina.
Não será, porém, uma simples imitação mas uma volta ao passado em busca de novos
valores para expressar uma outra visão do Cosmos. O neoclassicismo recolocou em questão
os princípios da arte, ou seja, colocou inteiro o problema do Renascimento, ampliando
a compreensão dos tempos Modernos e dando condições para que, mais tarde, surgisse
uma nova maneira de captar, perceber e ler o mundo.
O universo plástico da arte neoclássica vai representar a reforma moral contida no
ideal da Revolução de 1789. A verdadeira moral se encontrava na Antiguidade Grega na
medida em que representava um mundo idealizado, construído a partir de seus próprios
padrões, sem ajuda divina, suficientemente rígido e severo para se tornar aceito num
mundo ávido por reformas. Um mundo controlado pelo homem e guiado pela razão, cuja
ética ou padrões morais deveríam ser modificados pelo homem a partir de um trabalho
sério e disciplinado.
O ideal revolucionário do neoclassicismo, que era autêntico e correspondia a uma
realidade, vai cedendo terreno e finalmente será substituído pelo realismo napoleônico.