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GÁVEA
linha não gráfica, que aparece nas “ junções de portas e caixilhos, janelas e materiais que
compõem o assoalho” passando a chamar “ linha orgânica” pois era real, existia em si mesma,
organizando o espaço, “era a linha-espaço, fato que eu viria perceber mais tarde (8).
Nessa época dedica-se a experiências para aplicação na arquitetura. A sua pintura então
seria uma porta, assim como em Le Corbusier, na tentativa de solucionar racional
mente a vida, o objeto-quadro se transforma em objeto-casa, uma nova estruturação do espaço
habitado. Lygia Clark quer se inserir desse modo no real que é a arquitetura. No entanto.
prosseguindo as pesquisas sobre o que chama de linha orgânica , ela \ai buscar
em Albers um apoio para sua recusa da forma seriada concretista, uma \ez que Albers
rejeita a matematização da cor e do espaço.
A Experiência Fenomenológica
Ao retornar à questão da forma significativa, a artista rejeita tanto o conceito tradicional
do quadro quanto a temática concretista, tentando enfocar o quadro como um
todo orgânico. Desde o início procura desenvolver um trabalho com um sentido mais orgânico.
fugindo aos preceitos ortodoxos de Max Bill. O espaço concreto era tão-somente
um espaço fragmentado em que a leitura do olho era feita ponto a ponto — já Lygia Clark
pretendia que o espectador e o quadro, por assim dizer, se interpenetrassem. A obra é
aceita como uma experiência estética na qual o olho não é apenas um instrumento; é um
olho que percebe e ordena o mundo.
As metáforas em Lygia Clark são da ordem do corpo. Ao invés de estruturar partes,
formando unidades de tipo concreto, geometrizada euclidianamente, utiliza-se da dinâmica
da forma. É aí que a força criativa de LC encontra Merleau-Ponty e sua Fenomenologia
da Percepção. Para ela o importante será o corpo, a experiência da “carne” .
Quando descobre a linha orgânica passa a investigar a origem de sua significação num esforço
de chegar a uma linha não mais geométrica e sim com uma ligação corporal.
Em Merleau-Ponty a obra de arte contém uma nova percepção da experiência do corpo.
O paradoxo, a ambigüidade, o enigma e o mistério não são eliminados e sim reinterpretados,
decifrados pela experiência fenomenológica. A obra de Lygia Clark inicia ai o
processo crítico da linguagem construtiva, utilizando-se da filosofia do corpo para refazer o
espaço.
E um espaço em muitos aspectos paradoxal porque não há um exercício da forma e
sim um espaço que parte do Eu, vivenciado por dentro, sem o invólucro exterior, eliminando
o sujeito contemplativo e pretendendo fazer ressurgir o sujeito participante-domundo.
Merleau-Ponty submete à análise a Gestalttheorie e opõe a ela uma filosofia da forma.
Nela a obra de arte é vista como experiência fundamental da carne. É no próprio embate
com a Gestalt que os Neoconcretos colocam a decisão de eliminar figura x fundo. O tema
é a Ambigüidade, porque vem da experiência do corpo, da volta às “ coisas mesmas” , um
“exercício de liberdade” , uma percepção movida pela sensação em oposição ao dogmatismo
e ao objetivismo concretistas.
Já com o rompimento da moldura Lygia Clark colocava uma ambigüidade de direção:
a obliqüidade das linhas lançavam a pintura para fora e ali encontravam o espectador.-
Quando ela toma a linha orgânica, que vem do seu corpo, está “ emprestando o seu corpo
ao mundo , transformando o mundo em pintura, deixando de ser apenas um operador
perceptivo para perseguir uma união e uma passagem do visível e do móvel. A busca não