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46 GÁVEA
produção. O percurso das tendências construtivas na arte se dá no sentido de resgatar a arte
do terreno da metafísica para o concreto. Era um projeto utópico, otimista: delegar á arte
o poder de transformar as instâncias sociais para construir uma nova realidade.
O grupo concreto
Apesar de certos indícios anteriores da penetração construtiva no Brasil, a formalização
desta linha de pensamento só ocorre na década de 1950 — período marcado pela internacionalização
das artes através de mecanismos institucionais recentemente criados —
como museus e bienais — e também pelo surto de industrialização ocorrido no pós-guerra,
que levará a uma identificação maior da arte com a tecnologia.
As correntes estéticas modernas passaram a ser veiculadas mais rapidamente no campo
cultural brasileiro após a seqüência de inaugurações dos Museus de Arte de São Paulo
(1947), do Museu de Arte Moderna de São Paulo (1948), Museu de Arte Moderna do Rio
de Janeiro (1949) e da Bienal de São Paulo (1951), instituições que praticamente estruturaram
o nosso incipiente sistema de arte. A Bienal marca o período de internacionalização
da arte no Brasil. Ela será a porta pela qual vão entrar as correntes estéticas contemporâneas.
com uma enorme repercussão no panorama das nossas artes visuais. Mário
Pedrosa deixou registrado: “ Antes de tudo, a Bienal de São Paulo veio ampliar os horizontes
da arte brasileira. Criada literalmente nos moldes da Bienal de Veneza, seu primeiro
resultado foi romper o círculo fechado em que se desenrolavam as atividades artísticas
no Brasil, tirando-as de seu isolacionismo provinciano, ao facilitar aos artistas e ao
público brasileiro o contato direto com o que se fazia de mais novo e mais audacioso no
mundo” . (1) As contribuições decisivas para a arte brasileira serão o abstracionismo lírico
e o concretismo, que colocarão novas questões para os diversos artistas que trabalhavam
uma pintura de linguagem figurativa ou permaneciam ligados a uma estética de cunho
nacionalista.
Em 1950. a mostra individual de Max Bill no Museu de Arte de São Paulo constituise
um ponto de referência básico para a emergência da arte concreta entre nós. No ano
seguinte, a representação suíça terá um lugar de destaque na I Bienal de São Paulo. Max
Bill ganha o primeiro prêmio internacional de escultura com a sua “ Unidade Tripartida” ,
obra que provocará grande impacto em alguns artistas que percorriam os caminhos construtivos.
No plano nacional, Ivan Serpa ganha o prêmio de pintura com um quadro concreto
e Abraham Palatnik recebe menção especial pelo seu trabalho, desenvolvido no campo
da luz e do movimento, chamado “ aparelhos cinecromáticos” .
Sobre este aspecto Ferreira Gullar comenta: “ Ao adotar a denominação de arte concreta,
Max Bill procurava delimitar o seu campo de experiências em contradição com as
manifestações ecléticas da arte abstrata às quais faltava, no seu entender, não apenas a
necessária objetividade crítica, reclamada por Mondrian e pela Bauhaus, como uma orientação
e um objetivo. Na Bauhaus aprendera a despojar as formas de toda e qualquer
aderência subjetiva e descobri-la diretamente nas qualidades imediatas dos materiais.
Aprendera a lidar com as cores como fatos da percepção, focos de energia que agem no
campo visual dinamizando as áreas, criando ações e reações entre si. Era este o vocabulário
puro,.recentemente descoberto, que deveria servir de base para uma nova linguagem estética”
. E mais adiante: “ Esta preocupação de criar uma nova linguagem estética como
expressão de uma nova atividade artística vai ser elaborada a partir de uma estrutura fundamental,
cujo suporte seria a matemática, que passou a desempenhar na arte concreta o
papel equivalente ao da verdadeira realidade” . (2)