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Revista Gávea 01

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48 GÁVEA

riféricos apresentavam também .um dualismo quanto á economia interna, ou seja. havería

dois setores diferentes: um dinâmico, industrial e moderno, outro estagnado, rural

e atrasado. Esta contradição seria resolvida através de mudanças na estrutura econômica

pelo desenvolvimento crescente do setor industrial. O predomínio agrícola vai ser suplantado

pela participação do setor industrial na renda interna do país. Segundo dados estatísticos.

“entre 1939 e 1946. o produto real industrial, aumentou de 60%, enquanto o crescimento

do setor agrícola foi da ordem de 7% ” (4). A partir dos anos 50, o processo de industrialização

brasileira deixa de ser um projeto para transformar-se em realidade. A estrutura

econômica do pais ganha impulso e a sociedade como um todo fica dominada por

uma ânsia de extensão. O setor moderno da economia era o industrial, representado pelo

Estado e pelos novos empresários, em oposição ao setor tradicional, exportador, constituído

pelos cafeicultores. Aceleravam-se também as transformações estruturais ao nível da

sociedade global. A industrialização trará consigo o incremento do processo de urbanização.

acompanhado pelo aumento da taxa de crescimento da população urbana, destacando-se

o fortalecimento da classe média como um setor significativo na estrutura social e

política do país e como parte integrante do processo produtivo. A rede de serviços que se

desenvolveu com a indústria — comércio, bancos, transportes, serviços públicos, agências

de propaganda, empresas imobiliárias, entre outras — oferece novas oportunidades de emprego

para a classe média em expansão.

Com base nas aspirações de desenvolvimento econômico, apoiado no industrialismo,

ocorrerá uma ampla mobilização política, cuja linha de ação manifesta-se através de uma

ideologia de cunho burguês e nacionalista. Na tese central, a de que o Brasil deveria estar

em pé de igualdade com os países desenvolvidos e industrializados, existe o desejo claro de

superar o atraso econômico. Através do aceleramento do processo industrial, a nação teria

condições para tornar-se um país independente, superando a situação de país exportador de

produtos primários.

O Programa de Metas era otimista, com a promessa contida no slogan dos “ 50 anos

em 5” . e a finalidade era modernizar rapidamente o país. A ideologia desenvolvida corporificava-se

no seu objetivo principal: acelerar a acumulação, aumentar a produtividade

dos investimentos existentes e aplicá-los novamente em atividades produtoras.

A aceleração do desenvolvimento econômico terá reflexos na cultura e na arte. O

desejo de modernização da burguesia industrial e da própria classe média urbana abre perspectivas

para a sociedade brasileira, gerando, no plano cultural, uma série de instituições

— como museus e bienais — que visam reatualizar o nosso sistema de arte e modificar esteticamente

o país. A atividade artística passa a ser encarada como uma parcela do projeto

da nação, parte integrante da consciência nacional, abrindo-se espaço para o artista.

A arte construtiva internacional vinculava-se à idéia moderna, progressista, de integração

do homem no processo industrial; o concretismo brasileiro mantém este compromisso:

o trabalho artístico deverá informar qualitativamente a produção. O concretismo,

ao que parece, foi a “contrapartida artística da filosofia de aspiração nacional, de uma

ideologia de governo progressista” . (5) A formulação estética de um conceito de modernidade

atrelava-se à idéia de progresso, do desenvolvimento social, como acrescenta

Ronaldo Brito: O mesmo movimento de aproximação à modernidade via ciência e tecnologia,

estão presentes no concretismo brasileiro. O problema era adotar um ponto de

vista moderno, positivo, participante, frente ao processo da civilização contemporânea. O

artista tornava-se o inventor de protótipos, um técnico que manipulasse com competência

os dados da informação visual” . (6)

A atitude concretista traduz-se ainda numa vontade racional de conquistar novos

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