07.02.2020 Views

Revista Gávea 01

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A academia e seus modelos

23

absorvidos e transformados de forma original.

Somadas a interferência oficial e a influência da figura arquetípica de D. Pedro II às

condições sociais, culturais e políticas da época, ficará ainda mais evidente a dificuldade de

nossos artistas em se rebelar contra a ordem vigente; ou transgredir as regras do jogo e

libertar a pintura como, por exemplo, fez Manet; ou mesmo reinterpretar o neoclassicismo

e procurar fazer uma pintura original.

As reações contra o academismo, que restringia o trabalho ao interior dos ateliês, incentivava

temas bíblicos, históricos e mitológicos e usava a paisagem apenas como um

complemento aos temas maiores, foram poucas e isoladas. A primeira delas veio de um

grupo liderado por George Grimm que reuniu em tomo de si alguns jovens pintores dá

Academia que queriam trabalhar ao ar livre. Dentre eles destaca-se João Baptista Castagneto

que, com suas pequenas “ manchas” , pinceladas rápidas e curtas, revela uma

preocupação em captar as pequenas nuances da luz, as transformações efêmeras do mar,

enfim, uma sensibilidade pictórica que põe a descoberto um universo ainda desconhecido e

não explorado pela maioria dos pintores de sua época. Também Eliseu Visconti reagiu à

arte oficial ao procurar no impressionismo uma nova forma de expressão artística. Absorveu

bem a técnica impressionista e deixou, ao contrário de Castagneto, vários seguidores.

Não houve, entretanto, renovação profunda e todos continuaram a fazer pintura impressionista

século XX adentro. A pintura do próprio Visconti se transformou apenas até certo

ponto: quando finalmente consegue captar a luminosidade e cor locais (principalmente

na fase final de Teresópolis), estamos já nas décadas de 30-40 e essa pintura pode ser tranquilamente

considerada acadêmica face às radicais transformações ocorridas nas linguagens

e no próprio sistema da arte.

N O T A S

(1) COUTINHO. Wilson. “ Da Ordem da Sombra” . Revista do MAM. Rio de Janeiro, Museu de Arte

Moderna, 1983. p. 101.

(2) HARDING, James. A rtistes Pompiers. French Academic Art in the 19th Century. London, Academy

Editions, 1979.

(3) WILMERDING, John. Catálogo da exposição “ American Light — The Luminist Movement” .

Washington, National Gallery, 1980.

(4) Os primeiros povoadores das colônias inglesas na América eram alfabetizados o suficiente para ler a

Bíblia contribuindo, assim, para dar melhores condições ao indivíduo para mais tarde assimilar, incorporar

e criar progresso e civilização.

(5) MOOG, Viana. Bandeirantes e Pioneiros. Rio de Janeiro, O Globo, 1956. pp. 152-153.

(6) OWENS, Craig. “ Representation, Appropriation and Power” . Art in America. Marion (Ohio), 1982.

p. 10.

(7) HABERMAS, Jürgen. Mudança Estrutural da Esfera Pública: investigações quanto a uma categoria

da sociedade burguesa. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1984.

(8) Citado por James Harding, op. cit. acima nota n? 2, pp. 13-14.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!