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A academia e seus modelos
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absorvidos e transformados de forma original.
Somadas a interferência oficial e a influência da figura arquetípica de D. Pedro II às
condições sociais, culturais e políticas da época, ficará ainda mais evidente a dificuldade de
nossos artistas em se rebelar contra a ordem vigente; ou transgredir as regras do jogo e
libertar a pintura como, por exemplo, fez Manet; ou mesmo reinterpretar o neoclassicismo
e procurar fazer uma pintura original.
As reações contra o academismo, que restringia o trabalho ao interior dos ateliês, incentivava
temas bíblicos, históricos e mitológicos e usava a paisagem apenas como um
complemento aos temas maiores, foram poucas e isoladas. A primeira delas veio de um
grupo liderado por George Grimm que reuniu em tomo de si alguns jovens pintores dá
Academia que queriam trabalhar ao ar livre. Dentre eles destaca-se João Baptista Castagneto
que, com suas pequenas “ manchas” , pinceladas rápidas e curtas, revela uma
preocupação em captar as pequenas nuances da luz, as transformações efêmeras do mar,
enfim, uma sensibilidade pictórica que põe a descoberto um universo ainda desconhecido e
não explorado pela maioria dos pintores de sua época. Também Eliseu Visconti reagiu à
arte oficial ao procurar no impressionismo uma nova forma de expressão artística. Absorveu
bem a técnica impressionista e deixou, ao contrário de Castagneto, vários seguidores.
Não houve, entretanto, renovação profunda e todos continuaram a fazer pintura impressionista
século XX adentro. A pintura do próprio Visconti se transformou apenas até certo
ponto: quando finalmente consegue captar a luminosidade e cor locais (principalmente
na fase final de Teresópolis), estamos já nas décadas de 30-40 e essa pintura pode ser tranquilamente
considerada acadêmica face às radicais transformações ocorridas nas linguagens
e no próprio sistema da arte.
N O T A S
(1) COUTINHO. Wilson. “ Da Ordem da Sombra” . Revista do MAM. Rio de Janeiro, Museu de Arte
Moderna, 1983. p. 101.
(2) HARDING, James. A rtistes Pompiers. French Academic Art in the 19th Century. London, Academy
Editions, 1979.
(3) WILMERDING, John. Catálogo da exposição “ American Light — The Luminist Movement” .
Washington, National Gallery, 1980.
(4) Os primeiros povoadores das colônias inglesas na América eram alfabetizados o suficiente para ler a
Bíblia contribuindo, assim, para dar melhores condições ao indivíduo para mais tarde assimilar, incorporar
e criar progresso e civilização.
(5) MOOG, Viana. Bandeirantes e Pioneiros. Rio de Janeiro, O Globo, 1956. pp. 152-153.
(6) OWENS, Craig. “ Representation, Appropriation and Power” . Art in America. Marion (Ohio), 1982.
p. 10.
(7) HABERMAS, Jürgen. Mudança Estrutural da Esfera Pública: investigações quanto a uma categoria
da sociedade burguesa. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1984.
(8) Citado por James Harding, op. cit. acima nota n? 2, pp. 13-14.