18 GÁVEAvida continuava tradicional.Todos esses temas são bastante familiares à pintura acadêmica brasileira e foram amplamenteexplorados ao longo do século XIX. De todos, o orientalismo foi o que sofreumaior simplificação: no transplante, tiram-se partes do todo, ao invés de cenas completassão reproduzidas muitas vezes apenas figuras, fora do contexto, como se constata na pinturafrancesa. Outra forma de trabalhar com o orientalismo foi integrá-lo a temas tradicionais.como ocorre com o Davi e Abisag de Pedro Américo: um tema bíblico serve assimde pretexto para reproduzir ambiente e atmosfera orientais, que tanto fascinavam aimaginação dos pintores franceses. Nota-se os mesmos cânones de gosto, cromatismo eorganização pictóricos, a mesma expressão e tendência ao anedótico e ao misterioso quepredominavam na primeira fase do orientalismo francês, inspirado nos relatos de viajantes.Bastante representativas são as cenas históricas pintadas por Vitor Meireles e PedroAmérico, nitidamente inspiradas em Meissonier e Vernet (este último foi mestre de PedroAmérico). O “academismo-romântico” na Batalha dos Guararapes de Meireles e no OGrito do Ipiranga e Batalha do A vai de Pedro Américo é enfatizado pelo convencionalismoda composição: os personagens são distribuídos em espécie de semi-círculos, destacandoao centro a cena principal. O colorido é artificial e o gestual maneirista; o dramatismo levaà idealização de um ato patriótico, uma vitória nacional. E interessante notar que aqui,como na França, essas cenas eram retratadas, após minuciosa pesquisa, em telas monumentais.Algumas pintadas por Vernet eram tão grandes que era necessário remover ochão para poder acomodá-las.O sistema de seleção de bolsas, a bolsa propriamente dita e a forma de sua avaliaçãoperpetuou assim a colonização artística. Mesmo o consagrado Almeida Jr.. que teve ogrande mérito de introduzir a temática nacionalista, continuou fiel aos cânones acadêmicos.tanto na idealização da forma quanto na manutenção de uma composição tradicional.Ao cotejar as Academias francesa e brasileira, encontramos inúmeras semelhanças deorganização e funcionamento. Pode-se mesmo afirmar que a Academia no Brasil é uma“cópia autêntica” da francesa, exercendo sobre os pintores uma espécie de ditadura estética.Esse academismo produziu entre nós incontáveis “ pompiers” durante o séculoXIX. incapazes de se libertar do tradicionalismo acadêmico.O Sistema Colonial e o Desenvolvimento do Processo ArtísticoNas colônias — portuguesas ou espanholas — não houve nunca arte verdadeiramenteindependente dos modelos oficiais da metrópole, tampouco existiam condições de absorçãode modelos independentes ou de vanguarda. E possível, por exemplo, estabelecer algumascomparações entre as formas de expressão artística desenvolvidas em Cuba e no Brasildurante o século XIX. Com uma ressalva — em Cuba, os artistas estrangeiros (franceses,ingleses, americanos e espanhóis) não eram convidados oficialmente — entre eles haviarefugiados políticos, aventureiros de passagem ou comerciantes.Na primeira metade do século verifica-se na pintura cubana uma tendência a retrataro característico, o cotidiano, a cidade, de forma bastante semelhante, não apenas aosviajantes estrangeiros que para aqui vieram (Rugendas, Ender, entre outros), como aospróprios Debret e Taunay, no que diz respeito à documentação de usos e costumes epaisagens. Paralelamente desenvolve-se em Cuba (como no Brasil) uma escola que cultivaa beleza formal de influência neoclássica, “davidiana” , que em meados do século vaicedendo lugar ao academismo franco-italiano e a uma tendência paisagística, idealista,
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