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Revista Gávea 01

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Ambigüidade: o enigma de Volpi

ALBERTINA M. CARVALHO

A obra de Volpi é o produto de uma praxis em que suas questões constitutivas estão

visíveis, porque o artista não as elimina nem as torna invisíveis, mas torna-as um amálgama,

um produto que não esconde a sua constituição. É uma obra caracterizada pela tensão

gerada numa relação ambígua que permanece e não pela eliminação das antinomias

mais, pela visão critica que supera a fusão, soma ou acúmulo do evocionismo. Essa contradição

aparente e consciente na sua obra gera uma tensão que é a sua própria ambiguidade

fazendo-se presente. E é nessa tensão que sua obra revela uma visão de mundo

dialética e elaboradamente marcada pela constante ambiguidade traduzida em termos plásticos.

Ambiguidade esta resultante da apreensão do espírito da modernidade e de sua

prática de artesão e operário da pintura. Volpi não tenta resolvê-la, mas a cultiva e a põe

plenamente em sua pintura como característica de sua obra, como num jogo (o que todo

dia faz) em que todas (e ambas) as possibilidades estão sempre presentes e que novo jogo

sempre poderá “ ser jogado” . Não se trata para Volpi de eliminar as contradições (ou tensões)

mas sim de incorporá-las, de tomá-las presentes e visiveis, de fazer com elas e não

apesar delas. Disso resulta uma obra rica, aberta, inquieta. Revela-se assim, em Volpi, a

compreensão da modernidade, não pela eliminação da contradição, mas pela incorporação

dessa modernidade ao seu espirito de artesão sem que se estabeleça aí a negação de um ou

de outro (artesão e modernidade). Não tenta resolver tal contradição, mas trabalhar com

ela, fazê-la presente como possibilidades que não se excluem, que se combinam e se completam.

Minha arte consiste em linha, forma e cor. Antes, na natureza era um problema

de luz. Da natureza é a luz. Não é o assunto que interessa...

— Minha arte é linha, forma e cor, não tem nada a ver com natureza. E uma coisa

criativa. Bom, daí tem a construção. Não é que bola qualquer coisa. Tem uma construção...

— A construção se repete sempre. Aí modifica a cor e toda a estruturação. E um

problema de cor.

— Mas a forma serve para tudo, para repetir outro anel de cores. ”

Nestas declarações que Alfredo Volpi deixa transparecer que duas grandes etapas se

distinguem no desenvolvimento de sua trajetória artística. Na primeira, os momentos de

interpretação da realidade: impressionismo — até a década de 40, mas que não serão considerados

nesta análise. Na segunda etapa, os momentos do construtivismo, que podem

assim ser pensados:o de um construtivismo estático: momento de observação e elaboração

do mundo, embate do vir a ser teórico (de esquematizar e geometrizar); o de convivência

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