edição de 13 de abril de 2020

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Felipe Pelaquim/Unsplash
Fusca: quantos anos
vive um produto?
“Eu tenho um Fusca preto, que já
foi fora de moda, mas agora as mina
pira, porque meu Fusca é foda...”.
Marcos e Mancini
FRANCISCO ALBERTO MADIA DE SOUZA
Na estatística de produtos e marcas que
sobrevivem os primeiros 3 anos, menos
de 90% completam 10. Dos que ultrapassam
10, metade chega aos 20. Assim, de
cada 100 que passam dos 3, 10 passam dos
dez e 5 ultrapassam 20. Desses 5 sobreviventes
restará 1 no fim de 50 anos, com sorte...
Uma Coca-Cola caminha firme e forte,
ainda que em curva suavemente decadente
em direção aos 200 anos; já o Fusquinha
aposentou-se definitivamente e em todo o
mundo no ano passado, depois de gloriosos
e mais de 80 anos.
Adolf Hitler sempre sonhou em construir
o Carro do Povo. Assim, no início
dos anos 1930, dá início ao projeto. Três
engenheiros são convocados. Josef Ganz,
Edmund Rumpler e Ferdinand Porsche.
Em 1933, uma primeira reunião de Hitler e
Porsche. Hitler passa a receita do que queria
para o Carro do Povo: - Um carro capaz
de comportar dois adultos e duas crianças;
- Alcançar e manter uma velocidade de 100
km/hora; - Consumo de combustível nunca
superior a 13 km/litro; - Carro refrigerado
a ar; - Capaz de transportar, sempre que
necessário, três soldados e uma metralhadora;
- O preço não poderia custar mais do
que uma boa motocicleta.
Em 17 de janeiro de 1934, Porsche manda
seu projeto para Hitler, que concorda com
tudo, menos com a estimativa de preço. Teria
de ser vendido por menos que 1.500 marcos.
No dia 22 de junho de 1934, superadas
todas as divergências, Porsche é contratado
para colocar seu projeto rodando. A historia
é longa. No dia 12 de outubro de 1936,
os dois primeiros pré-protótipos são apresentados.
Ainda apresentavam problemas
no freio e no virabrequim. Em 1937, saem
da fábrica 30 modelos da versão finalmente
aprovada. Em conjunto, os 30 rodaram
mais de 2,4 milhões de quilômetros nas
mãos de integrantes da SS, tropa de elite de
Hitler. Em 26 de maio de 1938, foi assentada
a pedra fundamental da fábrica, sem a presença
de Hitler, mas com o testemunho de
70 mil pessoas. No dia 15 de agosto de 1940,
o primeiro Fusquinha, o Volkswagen TYP
1, sai da linha de produção e ganha as ruas.
Azul escuro acinzentado. Até 1944, apenas
640 modelos produzidos. A guerra praticamente
congelou a decolagem do Fusca.
Corta para 10 de julho de 2019. Puebla,
México. 17h15 min. Sai, pela porta da frente
da fábrica da Volkswagen, o último Fusquinha.
Assim, e depois de 60 anos, quase
3,5 milhões de unidades, chegou ao fim a
história do Fusquinha. Será que não volta,
perguntam alguns. Definitivamente não,
responde o novo mundo em processo de
construção. O conceito e o entendimento
de automóvel, a partir de 2020, não passam
nem pelo Fusquinha nem por todos os demais
modelos que ainda povoam as ruas do
mundo. Há um novo carro a caminho, em
todos sentidos: design, tamanho, funções,
uso, compra, combustível, autonomia... Ou
seja, e desta vez, o Fusca se foi para sempre.
Entra para a história do primeiro grande
ciclo da indústria automobilística no
mundo, 90 anos, como um dos best-sellers.
Brigando com o Toyota Corolla e outros 3
modelos pela primeira colocação.
Quanto dura um produto? Não existe
uma resposta definitiva e conclusiva, mas,
em termos conceituais e genéricos, quanto
mais e melhor responder o que um dia Al
Ries e Jack Trout celebrizaram. Causar, no
lançamento, “Primeiras e Ótimas Impressões”.
E depois, contrariar o que Al Ries e
Jack Trout ostentaram durante décadas como
a primeira das 22 Leis Consagradas do
Marketing: Afirmavam “É mais importante
ser o primeiro do que ser o melhor”. Era...
Agora não é mais. É bom ser o primeiro,
mas vital ser o melhor, sempre. Quando se
deixa de ser O Melhor, perde-se a razão de
ser, e despede-se. Como acabou de acontecer,
finalmente, e coberto de glórias, com o
sexagenário Fusquinha. Descanse em paz!
Mais que merece!
Francisco Alberto Madia de Souza
é consultor de marketing
famadia@madiamm.com.br
24 13 de abril de 2020 - jornal propmark