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Introdução<br />
Evidências arqueológicas registram o uso de<br />
cosméticos para embelezamento e higiene<br />
pessoal desde 4.000 anos antes de Cristo (a.C.).<br />
Muitas pessoas produziam seus cosméticos em<br />
casa para o uso pessoal. Mortes por intoxicação<br />
eram comuns entre atores e pintores, pois muitos<br />
dos pigmentos minerais continham chumbo<br />
(Pb) ou mercúrio (Hg) em sua composição. Na<br />
era moderna, cresceu consideravelmente o reconhecimento<br />
do benefício da higiene pessoal<br />
e do embelezamento. Somente no século XIX,<br />
foi lançado o primeiro cosmético comercial, o<br />
sabonete em barra, e no século XX, o primeiro<br />
cosmético facial, o batom. No final do século<br />
XX, as maquiagens trouxeram inovações com<br />
aspectos multifuncionais e até o momento<br />
pesquisas avançam na direção da manipulação<br />
genética para o melhoramento da estética. 1<br />
A Câmara Técnica de Cosméticos (CATEC) da<br />
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVI-<br />
SA) foi instituída pela Portaria nº 485, de 7 de<br />
julho de 2004 cuja finalidade é prestar consultoria<br />
e assessoramento, além de emitir parecer<br />
técnico relacionado a produtos de higiene<br />
pessoal, cosméticos e perfumes.2,3 A Câmara<br />
adota uma definição e classificação de grupo,<br />
referente a Resolução RDC Nº 211, de 14 de julho<br />
de 2005, para cosméticos e perfumes. 4<br />
Além das diversas características encontradas<br />
nos produtos de cosméticos faciais, a coloração se<br />
destaca, pois, é atribuída a adição de pigmentos,<br />
que podem ser minerais ou orgânicos, contendo<br />
em suas formulações, como impurezas, diversos<br />
metais indesejáveis, entre eles o chumbo (Pb) e<br />
o cobre (Cu). 5 O Pb é bioacumulativo, isto é, acumula-se<br />
progressivamente na cadeia alimentar<br />
e não é eliminado com o tempo. Pode afetar o<br />
sistema circulatório e o nervoso, gerar alterações<br />
neurológicas e do sistema reprodutor, além da<br />
disfunção renal, é tóxico e cancerígeno. 6 Já o Cu<br />
é fundamental ao metabolismo em baixas concentrações,<br />
no entanto o uso excessivo pode gerar<br />
acúmulo no organismo. Esse metal é preocupante<br />
em elevadas concentrações, uma vez que pode<br />
causar sérios danos como irritação e corrosão da<br />
mucosa, problemas hepáticos e renais. 7-8<br />
Relatos da última década, referem-se à<br />
presença de vários metais em produtos cosméticos<br />
faciais.9 De acordo com as normas da<br />
ANVISA, Resolução Nº 79/2000 e com base<br />
na Lei 6360/1976, são permitidos somente<br />
corantes inorgânicos insolúveis em água. Para<br />
os corantes inorgânicos existem limites de<br />
concentrações: o Pb são 20 ppm (mg L -1 ) e o<br />
Cu, 100 ppm (mg L -1 ). 10<br />
Em Sainio et al (2000) determinaram Pb em<br />
amostras de sombra de olho por espectrometria<br />
de absorção atômica em forno de grafite. A concentração<br />
encontrada de Pb foi acima do permitido<br />
pela legislação brasileira. 11 Em Omolaoye<br />
et al (2010), teve como objetivo determinar alguns<br />
metais, entre eles o Pb e o Cu em amostras<br />
de sombra de olho importadas da China através<br />
do espectrofotômetro de absorção atômica em<br />
chama. Como resultado, duas marcas apresentaram<br />
teores de Pb superiores a legislação. 12<br />
O trabalho desenvolvido por Guekezian et al<br />
(2018), tratou as amostras de sombra de maquiagem<br />
em pó por espectrofotometria de absorção<br />
atômica em chama para quatro metais<br />
incluindo o Pb, que estava abaixo do limite de<br />
concentração estabelecido pela ANVISA. 13<br />
A técnica por espectrometria de absorção atômica<br />
(EAA) se destaca dentre os trabalhos realizados<br />
para amostras em produtos cosméticos.<br />
Os pontos positivos para esta técnica são: determinação<br />
de baixas concentrações de metais e<br />
semimetais, pois possui alta sensibilidade, boa<br />
seletividade, requer pouco volume de amostra<br />
e é possível obter limites de detecção para a<br />
maioria dos elementos em concentrações na<br />
ordem de mg g -1 , µg g -1 e até pg g -1 ). Já as desvantagens<br />
são: erros sistemáticos e aleatórios<br />
que podem afetar negativamente a exatidão e<br />
precisão dos resultados bem como o desempenho<br />
das técnicas analíticas em questão. 14<br />
De posse do exposto, realizar um trabalho que<br />
busque determinar e quantificar metais pesados<br />
utilizando uma técnica de fácil acesso, com<br />
foco no chumbo e no cobre em sombras em pó<br />
de maquiagem, é de grande importância tanto<br />
em caráter industrial, como para o controle do<br />
que é oferecido ao consumidor final.<br />
Materiais e Métodos<br />
Para a metodologia do Trabalho, inicialmente<br />
separou-se as três amostras de sombras em pó<br />
de maquiagem, denominadas como A, B e C,<br />
que foram adquiridas no comércio local que, a<br />
priori, são autorizados pela ANVISA (possuem<br />
no rótulo essa informação).<br />
Os reagentes foram HNO3 concentrado 54 %<br />
(da Alphatec e código: 7697-37-2), H2O2 20 %<br />
(do laboratório UFF/Campus Volta Redonda),<br />
água destilada (do laboratório UFF/Campus<br />
Volta Redonda), padrão de cobre (Cu) e chumbo<br />
(Pb) (Dinâmica e lote: 1024-025, do laboratório<br />
de pesquisa IFRJ/Campus Nilópolis). Balão de<br />
fundo redondo, béqueres, pipetas volumétricas<br />
e graduadas, balão volumétrico, funil e papel filtro<br />
qualitativo. Balança analítica de precisão de 4<br />
casas decimais (da Bioscale), manta térmica (da<br />
Casalabor 250), banho sônico (da Unique USC<br />
– 14009), água deionizada (do laboratório de<br />
pesquisa IFRJ/Campus Nilópolis) e o espectrômetro<br />
de absorção atômica atomizado em chama<br />
(da Perkin Elmer, modelo: PinAAcle 900T).<br />
Parte Experimental<br />
Preparação da Amostra<br />
Digestão por suspensão - Método 1 (Adaptado<br />
- GUEKEZIAN, 2018): Para cada amostra (A,<br />
B e C), pesou-se 250 mg de sombra e adicionou-se<br />
15 mL de HNO3 concentrado (54 %) em<br />
um béquer de 50 mL, em seguida, banho sônico<br />
por 15 minutos. Após esfriamento, as amostras<br />
foram filtradas com auxílio de um funil e papel<br />
de filtro qualitativo e transferidas para balões<br />
volumétricos de 25 mL completando-se o volume<br />
com HNO3 concentrado (54 %). 13<br />
Digestão ácida – Método 2 (Adaptado -<br />
GUEKEZIAN, 2018): Para cada amostra (A, B e<br />
C), pesou-se 200 mg da sombra e adicionou-<br />
-se 5 mL de H2O destilada, 2 mL de H2O2 20<br />
% e 0,2 mL de HNO3 concentrado (54 %) em<br />
um balão de fundo redondo de 250 mL. O sistema<br />
foi aquecido em manta térmica, evitando<br />
ebulição. Repetindo-se por 6 vezes as adições<br />
de 2 mL de H2O2 20 % e 0,2 mL de HNO3<br />
concentrado (54 %) com intervalo de 5 minutos,<br />
totalizando 7 adições. Após esfriamento,<br />
as amostras foram filtradas e transferidas para<br />
balões volumétricos de 100 mL completando-<br />
-se o volume com H2O destilada. 13<br />
Após as digestões (1 e 2), os elementos Pb<br />
e Cu foram determinados através da espectrometria<br />
de absorção atômica por atomização<br />
em chama de ar-acetileno, da Perkin Elmer<br />
PinAAcle 900T. As condições de uso para os<br />
metais Pb e Cu do aparelho para a técnica foram:<br />
lâmpadas de catodo oco (LDO) do metal,<br />
chama oxidante e o comprimento de onda de<br />
283,3 e 324,7 respectivamente.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Analytica</strong> | Jun/Jul 2020<br />
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