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OPINIÃO
27
Uma vaga ideia do
Estado Novo
Alistamento de crianças, alunos na Mocidade Portuguesa, 1938
MANUEL ARAÚJO
Nunca uma publicação minha teve tantas
partilhas no Facebook, mais de duas mil,
e perto de duas centenas de pedidos
de “amizade”, centenas de “gostos” e
também insultos.
Desconheço se o motivo da partilha foi
o efeito visual da fotografia dos meninos
fardados da Mocidade Portuguesa, ou
o teor dos números oficiais do Instituto
Nacional de Estatística (INE), ou o ódio
à verdade.
Até o site de “fact checking” (verificador
de factos) Polígrafo, talvez com ganas
de desmentir os números, contactou-me
para eu indicar-lhes a fonte do texto.
Após este contacto e a minha explicação,
aguardei que viessem catalogar a
publicação com “pimenta na língua”,
“falso” ou “verdade”, como é costume,
mas isso não aconteceu.
Como digo no texto, é claro que o povo
português em 2020, não está ainda a
viver como desejaria, há muitos problemas,
mas não podemos comparar o
tempo actual, com o tempo miserável e
criminoso do “antigamente”, que muitas
pessoas da minha idade viveram na pele,
que é isso que está em causa.
Muitos jovens não sabem, e talvez nem
nunca entenderão o que a minha geração
e a anterior passou realmente para
chegarmos aqui. Muitos desses críticos
possuidores de “canudos” universitários,
podem hoje opinar, e insultar livremente
quem lhe deu a Liberdade, sem medo de
ser presos e até podem “armar-se ao pingarelho”
e demonstrar também o quanto
ignorantes e burros são.
É certo que Portugal está ainda atrás de
alguns países europeus em muitos aspectos,
mas para o trabalhador, muito
mudou nestas décadas pós-25 de Abril;
Liberdade, igualdade de direitos, direito
à greve, liberdade sindical, direito de
associação e manifestação, protecção
do emprego, universalização do direito
à saúde e segurança social, direito a um
subsídio de desemprego etc...
Eis o texto em questão:
Uma vaga ideia do
Estado Novo
Para terem uma vaga ideia do que era realmente
o Estado Novo, deixo-vos aqui alguns
números oficiais do Instituto Nacional de
Estatística:
- O PIB per capita a preços constantes, em
1960, era de 3.682 euros. Em 2016 era de
18.061 euros (https://cutt.ly/DgfYVuS) - (corrigido)
- A mortalidade infantil era de 55,5 por mil
nascituros, em 1970. Em 2015 era de 2,9 em
cada mil nascituros.
- Em 1970, sofriam de tuberculose 131,8 portugueses,
em cada cem mil. - Em 2016 eram
17,7 em cada cem mil.
- Em 1970, havia 94 médicos para cem mil
habitantes. Em 2016 havia 486 médicos para
cem mil habitantes.
- Em 1970, havia 159 enfermeiros para cada
cem mil habitantes. Em 2016 eram 673 para
cada cem mil habitantes.
- Em 1970, quase 26% dos portugueses eram
analfabetos. Em 2015 eram ainda 5,2%.
- Em 1972, o Estado gastou com a educação
de cada português 2,6 euros. Em 2016 gastou
695,1 euros, por cada português.
- Em 1960, a Segurança Social e a Caixa Geral
de Aposentações pagou 119.586 pensões.
Em 2016 foram 3.637.341 pensionistas que
receberam a sua merecida reforma.
Perante a frieza destes números, custa a
entender porque há cada vez mais pessoas,
algumas mesmo miseráveis, que suspiram
pelo regime fascista, onde apenas os ricos,
viviam decentemente.
Antes de 1974 como é sabido, os portugueses
não votavam livremente, não podiam
manifestar as suas ideias e opiniões em público,
não podiam criticar o Governo e se o
fizessem, podiam ser presos ou desterrados.
O portugueses não podiam sequer organizar-se
livremente em partidos e outras organizações
sociais e os jovens eram obrigados
a participar numa guerra estúpida.
Hoje somos livres, temos uma Democracia
adulta e é visível que o povo português
ainda não está a viver como desejaria e o
descrédito mantém-se em relação ao futuro.
Não obstante esse desagrado, não podemos
comparar o tempo da escravatura, da fome,
do arbítrio, deportação, censura e opressão
do Estado Novo, com o tempo de hoje, e
quem o fizer só poderá ser por má-fé, ou
ignorância do que foi realmente o Fascismo
da mais tenebrosa, estúpida, retrógrada ditadura
da Europa, marcada pela máxima
“orgulhosamente sós” .../...
- Excerto do meu livro - “A Mala - de Braga
a Caldelas, via Olossato e Zurique“
ADENDA:Porque este texto que publiquei
acima, causou imensa ”urticária” a saudosistas,
deixo-vos aqui, mais uma comparação
de Portugal, antes e depois do 25 de Abril:
https://bit.ly/2H6lhb6
Novembro 2020 | Lusitano de Zurique | WWW.CLDZ.EU