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NOVEMBRO 2020 - edição nº 270

Orgão oficial do Centro Lusitano de Zurique

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OPINIÃO

27

Uma vaga ideia do

Estado Novo

Alistamento de crianças, alunos na Mocidade Portuguesa, 1938

MANUEL ARAÚJO

Nunca uma publicação minha teve tantas

partilhas no Facebook, mais de duas mil,

e perto de duas centenas de pedidos

de “amizade”, centenas de “gostos” e

também insultos.

Desconheço se o motivo da partilha foi

o efeito visual da fotografia dos meninos

fardados da Mocidade Portuguesa, ou

o teor dos números oficiais do Instituto

Nacional de Estatística (INE), ou o ódio

à verdade.

Até o site de “fact checking” (verificador

de factos) Polígrafo, talvez com ganas

de desmentir os números, contactou-me

para eu indicar-lhes a fonte do texto.

Após este contacto e a minha explicação,

aguardei que viessem catalogar a

publicação com “pimenta na língua”,

“falso” ou “verdade”, como é costume,

mas isso não aconteceu.

Como digo no texto, é claro que o povo

português em 2020, não está ainda a

viver como desejaria, há muitos problemas,

mas não podemos comparar o

tempo actual, com o tempo miserável e

criminoso do “antigamente”, que muitas

pessoas da minha idade viveram na pele,

que é isso que está em causa.

Muitos jovens não sabem, e talvez nem

nunca entenderão o que a minha geração

e a anterior passou realmente para

chegarmos aqui. Muitos desses críticos

possuidores de “canudos” universitários,

podem hoje opinar, e insultar livremente

quem lhe deu a Liberdade, sem medo de

ser presos e até podem “armar-se ao pingarelho”

e demonstrar também o quanto

ignorantes e burros são.

É certo que Portugal está ainda atrás de

alguns países europeus em muitos aspectos,

mas para o trabalhador, muito

mudou nestas décadas pós-25 de Abril;

Liberdade, igualdade de direitos, direito

à greve, liberdade sindical, direito de

associação e manifestação, protecção

do emprego, universalização do direito

à saúde e segurança social, direito a um

subsídio de desemprego etc...

Eis o texto em questão:

Uma vaga ideia do

Estado Novo

Para terem uma vaga ideia do que era realmente

o Estado Novo, deixo-vos aqui alguns

números oficiais do Instituto Nacional de

Estatística:

- O PIB per capita a preços constantes, em

1960, era de 3.682 euros. Em 2016 era de

18.061 euros (https://cutt.ly/DgfYVuS) - (corrigido)

- A mortalidade infantil era de 55,5 por mil

nascituros, em 1970. Em 2015 era de 2,9 em

cada mil nascituros.

- Em 1970, sofriam de tuberculose 131,8 portugueses,

em cada cem mil. - Em 2016 eram

17,7 em cada cem mil.

- Em 1970, havia 94 médicos para cem mil

habitantes. Em 2016 havia 486 médicos para

cem mil habitantes.

- Em 1970, havia 159 enfermeiros para cada

cem mil habitantes. Em 2016 eram 673 para

cada cem mil habitantes.

- Em 1970, quase 26% dos portugueses eram

analfabetos. Em 2015 eram ainda 5,2%.

- Em 1972, o Estado gastou com a educação

de cada português 2,6 euros. Em 2016 gastou

695,1 euros, por cada português.

- Em 1960, a Segurança Social e a Caixa Geral

de Aposentações pagou 119.586 pensões.

Em 2016 foram 3.637.341 pensionistas que

receberam a sua merecida reforma.

Perante a frieza destes números, custa a

entender porque há cada vez mais pessoas,

algumas mesmo miseráveis, que suspiram

pelo regime fascista, onde apenas os ricos,

viviam decentemente.

Antes de 1974 como é sabido, os portugueses

não votavam livremente, não podiam

manifestar as suas ideias e opiniões em público,

não podiam criticar o Governo e se o

fizessem, podiam ser presos ou desterrados.

O portugueses não podiam sequer organizar-se

livremente em partidos e outras organizações

sociais e os jovens eram obrigados

a participar numa guerra estúpida.

Hoje somos livres, temos uma Democracia

adulta e é visível que o povo português

ainda não está a viver como desejaria e o

descrédito mantém-se em relação ao futuro.

Não obstante esse desagrado, não podemos

comparar o tempo da escravatura, da fome,

do arbítrio, deportação, censura e opressão

do Estado Novo, com o tempo de hoje, e

quem o fizer só poderá ser por má-fé, ou

ignorância do que foi realmente o Fascismo

da mais tenebrosa, estúpida, retrógrada ditadura

da Europa, marcada pela máxima

“orgulhosamente sós” .../...

- Excerto do meu livro - “A Mala - de Braga

a Caldelas, via Olossato e Zurique“

ADENDA:Porque este texto que publiquei

acima, causou imensa ”urticária” a saudosistas,

deixo-vos aqui, mais uma comparação

de Portugal, antes e depois do 25 de Abril:

https://bit.ly/2H6lhb6

Novembro 2020 | Lusitano de Zurique | WWW.CLDZ.EU

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