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OPINIÃO
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Não gosto de que me decapitem
CARLOS ESPERANÇA
A decapitação do professor de História
que exibiu na aula as caricaturas de um
beduíno amoral, que criou uma religião
de fanáticos através do plágio grosseiro
do judaísmo e cristianismo, conduziu à
sua decapitação por um fascista islâmico.
Quando um manual terrorista conduz
à violência assassina, tal como o Mein
Kampf, na política, é a civilização que
fica em perigo e a liberdade de expressão
coartada.
A morte do professor Samuel Paty, em
França, é a metáfora do Islão dito radical,
como se houvesse outro, como se
os versículos não fossem os do Antigo
Testamento, os que os patriarcas tribais
da Idade do Bronze, atribuíram ao suspeito
que inventaram – Deus.
Os europeus esqueceram as sangrentas
guerras religiosas, o caminho percorrido
com a Reforma, Renascimento, Iluminismo
e Revolução Francesa, a Guerra dos
Trinta Anos e a paz de Vestefália, e os
mortos que a precederam, e os que ainda
houve depois.
Foi a repressão política sobre o clero
que permitiu a laicidade, um valor que
se sobrepõe às legítimas crenças, que
não conduzam à violência, caso em que
a defesa da civilização deve combatê-
-las. A cruzada contra os Albigenses, a
teocracia calvinista de Basileia, ou, mais
recentes, a Cruzada de Franco contra a
República e o terrorismo do IRA, deviam
estar na memória como vacina da patologia
beata contra a paz e a liberdade.
Na Europa, há recorrentes manifestações
de vingança de uma civilização decadente
que pretende impor pela força
a religião identitária que a preservou na
Idade Média.As religiões têm de aceitar
o direito às crenças, descrenças e anti
crenças alheias, todos somo ateus em
relação à religião dos outros. Exigir o
respeito pela laicidade e liberdade de
expressão é proteger os princípios cívicos
e democráticos da nossa civilização,
que fez da Europa a vanguarda da defesa
dos Direitos Humanos.
Há 150 anos, ainda Pio IX excomungava
o panteísmo, o naturalismo, o racionalismo,
o indiferentismo, o socialismo, o
comunismo, a maçonaria, o judaísmo, as
outras igrejas cristãs, enfim, o livre-pensamento
e todos os livres-pensadores.
Era um talibã romano, a cabeça tortuosa
que produziu a encíclica Quanta Cura,
com o famoso Syllabus errorum.
A Europa foi capaz de amansar a violência
papal, e não será capaz de impor o
código de conduta democrática a todas
as ideologias, políticas, religiosas ou outras?
Os muçulmanos podem dilatar as rezas,
jejuns e genuflexões, virados para Meca,
e odiar o toucinho, não podem estimular
o terrorismo ou a lapidação, a pedofilia,
a poligamia, a excisão do clitóris, a decapitação
dos infiéis e as malfeitorias de
que são capazes em nome do Deus que
outros inventaram e eles tornaram mais
sádico.
Não gosto de que me decapitem.
Solidário com Samuel Paty, mártir da liberdade,
publico caricaturas de um jornal
que os beatos não toleram.
Novembro 2020 | Lusitano de Zurique | WWW.CLDZ.EU