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ARTIGO CIENTÍFICO I<br />
mo e na homeostasia da glicose e<br />
favoreça o início do DM em indivíduos<br />
susceptíveis, ou amplie a<br />
severidade das complicações associadas<br />
ao diabetes já manifesto. Os<br />
mecanismos propostos para explicar<br />
a associação observada entre<br />
DM e a COVID-19 incluem: a própria<br />
inflamação, alterações na resposta<br />
imune, na coagulação e a agressão<br />
direta do vírus às células beta pancreáticas.<br />
Entretanto, ainda não há<br />
evidências robustas para sustentar<br />
a hipótese de um potencial efeito<br />
diabetogênico da COVID-19. (34–37)<br />
Interleucinas<br />
A infecção por SARS-CoV-2 ativa<br />
respostas imunes inatas e adaptativas.<br />
A resposta inflamatória inata<br />
descontrolada e resposta imune<br />
adaptativa prejudicada pode resultar<br />
em danos teciduais, tanto em sítio<br />
específico quanto de forma sistêmica.<br />
Muitos pacientes com COVID-19<br />
severa exibem concentrações séricas<br />
expressivamente elevadas de citocinas<br />
pró-inflamatórias, incluindo interleucina-6<br />
(IL-6) e IL-1β, bem como<br />
IL-2, IL-8, IL-17, G-CSF, GM-CSF, IP10,<br />
MCP1, MIP1α (também conhecido<br />
como CCL3), e TNF. A ativação conjunta<br />
destas múltiplas citocinas tem sido<br />
descrita como a “tempestade perfeita”<br />
para o processo inflamatório. (38–40)<br />
Altas concentrações de citocinas<br />
pró-inflamatórias podem levar ao<br />
choque circulatório e danos teciduais<br />
no coração, fígado e rim, além de insuficiência<br />
respiratória. Em estudo de<br />
coorte multicêntrico, foi observado<br />
que pacientes graves com COVID-19<br />
que não sobreviveram apresentaram<br />
concentrações plasmáticas de IL-6<br />
significativamente maiores, quando<br />
comparado àqueles que sobreviveram.<br />
(3) Outros estudos confirmaram<br />
a elevação da IL-6 em paciente com<br />
COVID-19 que evoluíram para a fase<br />
crítica da doença. (41–43) Relevante ressaltar<br />
que a concentração exacerbada<br />
de IL-6 em pacientes COVID-19-críticos<br />
foi correlacionada a carga viral<br />
plasmática do SARS-CoV-2. (44)<br />
Lipase<br />
O SARS-COV-2 afeta múltiplos órgãos<br />
e uma das explicações é a expressão<br />
do seu receptor ACE-2 em<br />
diversas células humanas. Como já<br />
mencionado, o pâncreas expressa<br />
altos níveis de ACE-2, tanto nas<br />
células acinares quanto nas células<br />
da ilhota, e isso pode justificar os<br />
achados da atividade sérica da lipase<br />
aumentada em pacientes com<br />
COVID-19. (45)<br />
Barlass e colaboradores analisaram<br />
a concentração de lipase de 83 americanos<br />
internados com COVID-19.<br />
Os pacientes com lipase superior a 3<br />
vezes o valor de referência máximo<br />
apresentaram maior taxa de internamento<br />
na UTI (92,9% vs 32,8%;<br />
p < 0.001) e de intubação (78,6%<br />
vs 23,5%; p= 0,002) quando comparados<br />
com os pacientes com lipase<br />
menor que 3 vezes o valor de referência<br />
máximo. (46) Outro grupo de<br />
pesquisadores afirma que, embora<br />
a hiperlipasemia tenha sido observada<br />
em uma minoria de pacientes<br />
com COVID-19, a pancreatite aguda<br />
é incomum. Em seu estudo, a hiperlipasemia<br />
não foi associada a um<br />
fenótipo de COVID-19 grave ou mau<br />
prognóstico. (47)<br />
É relevante monitorar possível lesão<br />
pancreática causada pelo SARS-<br />
-CoV-2, primeiro pela alta expressão<br />
de ACE-2 no pâncreas; segundo, pela<br />
considerável proporção de pacientes<br />
com COVID-19 com lesão pancreática;<br />
e, terceiro, porque as consequências<br />
da lesão pancreática podem<br />
ser potencialmente graves, com exacerbação<br />
da inflamação sistêmica,<br />
acelerando a ocorrência da síndrome<br />
do desconforto respiratório agudo e<br />
possibilidade de evolução para pancreatite<br />
crônica. (45)<br />
Marcadores renais<br />
A ligação do SARS-CoV-2 ao receptor<br />
ACE-2 pode acabar ativando o sistema<br />
R-A-A e com isso aumentar a reabsorção<br />
tubular de sódio e água e, de forma<br />
passiva, reabsorver também a ureia. O<br />
próprio processo multi-inflamatório<br />
sistêmico presente em pacientes críticos<br />
com COVID-19 pode aumentar<br />
a reabsorção tubular da ureia e, consequentemente,<br />
aumentar a relação<br />
ureia/creatinina (U/C). Portanto, a<br />
relação U/C pode ser um marcador de<br />
prognóstico ou severidade de pacientes<br />
hospitalizados com COVID-19. (48,49)<br />
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<strong>Revista</strong> NewsLab | Out/Nov 2020