ADVIR40
A Revista Advir (edição 40) é uma publicação da Associação de Docentes da UERJ.
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Mães
trabalhadoras
com filhos
pequenos estão
em condições de
absoluta
precariedade
para realização
do home office
Os efeitos da maternidade na trajetória acadêmica e na produção
científica de mulheres já existiam antes da pandemia do COVID-19 2 , 3 .
Entretanto, neste período as desigualdades de gênero nesse campo profissional,
como em muitos outros, foram e, provavelmente, continuarão
sendo significativamente aprofundadas. Não à toa, neste contexto,
um conjunto de mulheres docentes da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ), de diferentes cursos e institutos, criou um Grupo de
Trabalho que, desde junho, tem se reunido e mobilizado a sua comunidade
acadêmica para refletir e, principalmente, construir respostas
institucionais capazes de atenuar os impactos
tanto da crise sanitária quanto de desigualdades
pré-existentes que foram intensificadas e escancaradas
no contexto atual.
É evidente que as mulheres mães trabalhadoras
com filhos pequenos estão em condições
de absoluta precariedade para realização do
home office/trabalho remoto – que, claro, é uma
forma de trabalho que já traz em si privilégios
de classe, mas nem por isso deixa de ser atravessada
por profundas desigualdades de gênero.
Assim, não dá mais para escamotear a maternidade
como parte constitutiva das identidades
e das vidas de muitas mulheres cientistas
e ignorar a interpenetração de nossos trabalhos
reprodutivos e produtivos. Em cada fala
interrompida ou ruídos de crianças ao fundo de reuniões ou aulas remotas,
é denunciada a fragilidade da fictícia separação entre público e
privado, do mundo do trabalho e do espaço da casa, do trabalho produtivo
e reprodutivo, tornando mais visível do que nunca a
interpenetração e interdependência entre estes espaços e atividades.
A urgência das demandas do GT é fundamentada em dados de pesquisas
recentes, como a realizada pelo grupo Parent in Science, envolvendo
15.000 pesquisadoras/es brasileiras/ros 4 , 5 . Os resultados foram
alarmantes: entre as mulheres docentes, apenas 4,1% daquelas com filhos
afirmaram estar conseguindo trabalhar remotamente no início da
pandemia. Entre as pós-graduadas o número era ainda menor, apenas
2,2%. Vale notar que este não é um fenômeno nacional. Pesquisas e
revistas científicas no mundo todo relataram uma notável queda na
submissão de artigos por mulheres. Por outro lado, ironicamente, os
dados disponíveis também revelam que no mesmo período os homens
aumentaram sua produção, segundo algumas pesquisas, por serem
menos interrompidos no home office, ao contrário das mulheres 6 , 7 .
As disparidades de gênero na ciência não são, no entanto, uma novidade
do momento atual. Dados do CNPq mostram que, apesar de as
Advir • dezembro de 2020 • 18