ADVIR40
A Revista Advir (edição 40) é uma publicação da Associação de Docentes da UERJ.
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Advir – Antes de lhe fazer uma pergunta em
relação a isso, sobre as alternativas que a gente
pode pensar em relação a um novo modo de vida
para a classe trabalhadora, eu queria ainda voltar
ao tema do livro, porque um dos elementos
que me chamou muito a atenção nessa questão
do trabalho uberizado é o componente do controle,
do monitoramento dos trabalhadores.
Acho que o trabalho nunca foi tão estritamente
controlado como agora, por essa via informacional
digital. Hoje você pode saber os passos dados
pelo trabalhador, quanto ele produz, o que
O que essas
grandes
empresas estão
fazendo é
eliminar os
direitos da
classe
trabalhadora e
voltar a um
período de
escravidão
ele faz, onde ele está. Então, ao mesmo tempo em que isso se dá, a
exploração também acaba se tornando mais explícita para o próprio
trabalhador, porque o próprio aplicativo, muitas vezes, exemplifica as
horas trabalhadas, o quanto a empresa se apropriou, quanto do valor
foi destinado para empresa, enfim. Ao mesmo tempo, as contradições
parece que ficam mais perceptíveis também. E aí a pergunta vai no
seguinte sentido, porque, ao mesmo tempo que há essa facilidade técnica,
com toda essa informatização do trabalho digital e as possibilidades
mais concretas, por exemplo, de se avançar na definição de jornada
de trabalho mais coerente, na conta de descanso para o trabalhador,
ao mesmo tempo, a gente vê uma dificuldade de se impor normas para
regular esse trabalho nas plataformas. Então, nesse sentido, como você
vê a possibilidade de avançar em algum tipo de direito trabalhista imediato
para esse trabalhador uberizado, plataformizado, tendo em vista
que é uma realidade que a gente precisa também dar conta.
Ricardo Antunes – Perfeito. Primeira coisa: as plataformas dizem
que elas são empresas de tecnologia, o algoritmo delas mostra que elas
são empresas que se utilizam do trabalho aos milhares e, em alguns
casos, aos milhões. A Uber deve ter próximo aí de quatro milhões de
trabalhadores pelo mundo. Imagina quando você vai pra Índia, países
asiáticos, países europeus mais neoliberais, Estados Unidos, América
Latina. E tem uma coisa que é importante, o aplicativo... você usou a
palavra, ele exemplifica, mas ele esconde também. Esconde, porque a
empresa, quando diminui o salário dos trabalhadores, e na pandemia
diminuiu intensamente, ao mesmo tempo que aumentou o volume de
trabalho, ela não explicou o porquê, ela sabe o porquê, mas ela não
explica. Esse o trabalhador não tem nem para quem perguntar, porque
o trabalhador não tem uma via de acesso para a empresa ou seu setor
de Recursos Humanos para perguntar por que ele ganhava dois mil,
trabalhava 14, 12 horas por dia e agora está trabalhando 14 horas por
dia e está ganhando 1.500. Ele não tem como saber isso. Agora, os
algoritmos, como a gente mostra no livro, são 19 capítulos, quatro co-
Advir • dezembro de 2020 • 45