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NAÇÃO<br />
“VAMOS AJUSTAR OS ORÇAMENTOS<br />
E MUDAR A BASE DE APRENDIZAGEM”<br />
O Reitor da Universidade Pedagógica e antigo Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano,<br />
Jorge Ferrão, tem publicado reflexões sobre as profissões do futuro e sabe onde estão os pontos<br />
críticos da transformação. Defende mudanças na academia e na postura de toda a sociedade<br />
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.<br />
não haverá volta a dar<br />
que não inclua encarar a<br />
educação de uma forma<br />
diferente da actual, com<br />
novos investimentos em<br />
tecnologia e colocando<br />
os jovens na vanguarda do processo<br />
de mudança. Jorge Ferrão é uma das<br />
figuras de consenso para falar dos<br />
processos e modelos de formação de<br />
pessoas em Moçambique, e está convencido<br />
de que é possível acelerar a<br />
migração para as profissões do futuro,<br />
mas avisa que não nos será barato.<br />
A 4ª Revolução Industrial está a<br />
mudar a forma de estar da sociedade<br />
global. No trabalho, com a evolução<br />
tecnológica, assiste-se ao surgimento<br />
de profissões que eram há<br />
pouco tempo impensáveis. Que posição<br />
atribui a Moçambique no contexto<br />
global em relação a esta nova<br />
tendência?<br />
O impacto das sociedades de conhecimento<br />
coloca as competências tecnológicas<br />
e digitais como os activos mais<br />
importantes. Seguir as novas tecnologias<br />
e os efeitos da revolução científica<br />
e tecnológica evitará que sejamos<br />
marginalizados e esquecidos pelo tempo.<br />
Os nexos que se estabelecem sobre<br />
as profissões do futuro e a 4ª Revolução<br />
Científica e Tecnológica assumem, na<br />
contemporaneidade, proporções que<br />
se estendem muito para lá de visões<br />
futuristas ou profecias. A segunda metade<br />
do século XXI aponta para cenários<br />
verdadeiramente desafiadores,<br />
e que obrigarão as sociedades a um<br />
posicionamento geoestratégico. A Inteligência<br />
Artificial e a robótica associadas<br />
à tecnologia 5G e 6G vão, em definitivo,<br />
alterar o mundo e teremos de<br />
nos preparar para entrar para esse<br />
mercado de trabalho tão competitivo.<br />
Um pouco pelo mundo, novas profissões<br />
têm ganhado espaço. Muito brevemente,<br />
serão os postos de trabalho<br />
mais disponíveis, com salários mais<br />
competitivos e preferenciais.<br />
As competências necessárias para estas<br />
novas funções podem ser radicalmente<br />
diferentes daquelas que vão desaparecer<br />
e das quais os investimentos<br />
actuais deverão ser realizados.<br />
Se, por um lado, não existem dúvidas<br />
sobre determinadas profissões tradicionais<br />
e, até as mais regulamentadas,<br />
como economia, veterinária, direito,<br />
engenharias, medicinas, etc., por<br />
outro observam-se novas e inovadoras<br />
categorias, tais como segurança<br />
cibernética, técnicos de impressoras<br />
3D, gestores de nuvens (icloud), produtores<br />
de blogs e até pilotos de drones.<br />
Há muito que se fala da necessidade<br />
de melhorar a qualidade de formação<br />
de pessoas em Moçambique,<br />
a todos os níveis, desde o primário<br />
ao superior. Mas o País tem uma<br />
longa estrada por percorrer para<br />
ser capaz de formar os chamados<br />
profissionais do futuro. Por onde<br />
começar?<br />
Estas profissões do futuro impõem novos<br />
desafios às instituições de ensino<br />
Admitamos que os progressos e as reformas curriculares nas instituições<br />
de ensino em Moçambique registaram mudanças significativas, porém,<br />
estas têm acontecido de uma forma lenta, hesitante e pouco ousada<br />
e às universidades, em particular.<br />
Evidentemente que as universidades<br />
precisam de se reajustar e definir<br />
cursos que priorizem competências<br />
para as áreas tecnológicas e, em consonância<br />
com os novos empregos que<br />
serão gerados, com requisitos muito<br />
mais exigentes, terão de manter a<br />
sua função de investigação e docência<br />
que, na prática, são a sua essência. Porém,<br />
sem optarem apenas pelo modelo<br />
de diplomas, como se tem verificado<br />
em diferentes situações. Será um<br />
risco fatal, porém, se vivermos alterando<br />
cursos a cada instante, quer pelo<br />
surgimento de uma nova indústria,<br />
quer por um novo recurso. Formar capital<br />
humano exige algum tempo e a<br />
garantia de que estaremos a prover<br />
uma base de raciocínio e questionamento.<br />
Esse é o nosso papel. Ensinar a<br />
pensar, a ter opções e a questionar. Isto<br />
representa mais de 75% do futuro trabalho<br />
profissional.<br />
Que modelos de formação há no<br />
mundo que melhor podem servir a<br />
Moçambique e provocar uma mudança<br />
efectiva?<br />
Os modelos de formação não são standards.<br />
Eles respondem à demanda nacional<br />
e a capacidades locais. Portanto,<br />
não nos serve de nada copiar, copiar<br />
e repetir aquilo que os outros já fizeram.<br />
O surgimento da indústria de gás<br />
e petróleo já obrigou a criação de novos<br />
cursos e formação técnico-profissional.<br />
Ainda assim, teremos de aprender<br />
destas tecnologias e aperfeiçoar<br />
a formação que provemos aos nossos<br />
graduados.<br />
A 4ª Revolução Industrial é impulsionada<br />
por três categorias distintas: a física,<br />
a digital e a biológica. Na categoria<br />
física terá os veículos autónomos e<br />
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www.economiaemercado.co.mz | Março <strong>2021</strong>