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E & M MZ Edição_35 MARÇO 2021

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NAÇÃO<br />

“VAMOS AJUSTAR OS ORÇAMENTOS<br />

E MUDAR A BASE DE APRENDIZAGEM”<br />

O Reitor da Universidade Pedagógica e antigo Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano,<br />

Jorge Ferrão, tem publicado reflexões sobre as profissões do futuro e sabe onde estão os pontos<br />

críticos da transformação. Defende mudanças na academia e na postura de toda a sociedade<br />

Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.<br />

não haverá volta a dar<br />

que não inclua encarar a<br />

educação de uma forma<br />

diferente da actual, com<br />

novos investimentos em<br />

tecnologia e colocando<br />

os jovens na vanguarda do processo<br />

de mudança. Jorge Ferrão é uma das<br />

figuras de consenso para falar dos<br />

processos e modelos de formação de<br />

pessoas em Moçambique, e está convencido<br />

de que é possível acelerar a<br />

migração para as profissões do futuro,<br />

mas avisa que não nos será barato.<br />

A 4ª Revolução Industrial está a<br />

mudar a forma de estar da sociedade<br />

global. No trabalho, com a evolução<br />

tecnológica, assiste-se ao surgimento<br />

de profissões que eram há<br />

pouco tempo impensáveis. Que posição<br />

atribui a Moçambique no contexto<br />

global em relação a esta nova<br />

tendência?<br />

O impacto das sociedades de conhecimento<br />

coloca as competências tecnológicas<br />

e digitais como os activos mais<br />

importantes. Seguir as novas tecnologias<br />

e os efeitos da revolução científica<br />

e tecnológica evitará que sejamos<br />

marginalizados e esquecidos pelo tempo.<br />

Os nexos que se estabelecem sobre<br />

as profissões do futuro e a 4ª Revolução<br />

Científica e Tecnológica assumem, na<br />

contemporaneidade, proporções que<br />

se estendem muito para lá de visões<br />

futuristas ou profecias. A segunda metade<br />

do século XXI aponta para cenários<br />

verdadeiramente desafiadores,<br />

e que obrigarão as sociedades a um<br />

posicionamento geoestratégico. A Inteligência<br />

Artificial e a robótica associadas<br />

à tecnologia 5G e 6G vão, em definitivo,<br />

alterar o mundo e teremos de<br />

nos preparar para entrar para esse<br />

mercado de trabalho tão competitivo.<br />

Um pouco pelo mundo, novas profissões<br />

têm ganhado espaço. Muito brevemente,<br />

serão os postos de trabalho<br />

mais disponíveis, com salários mais<br />

competitivos e preferenciais.<br />

As competências necessárias para estas<br />

novas funções podem ser radicalmente<br />

diferentes daquelas que vão desaparecer<br />

e das quais os investimentos<br />

actuais deverão ser realizados.<br />

Se, por um lado, não existem dúvidas<br />

sobre determinadas profissões tradicionais<br />

e, até as mais regulamentadas,<br />

como economia, veterinária, direito,<br />

engenharias, medicinas, etc., por<br />

outro observam-se novas e inovadoras<br />

categorias, tais como segurança<br />

cibernética, técnicos de impressoras<br />

3D, gestores de nuvens (icloud), produtores<br />

de blogs e até pilotos de drones.<br />

Há muito que se fala da necessidade<br />

de melhorar a qualidade de formação<br />

de pessoas em Moçambique,<br />

a todos os níveis, desde o primário<br />

ao superior. Mas o País tem uma<br />

longa estrada por percorrer para<br />

ser capaz de formar os chamados<br />

profissionais do futuro. Por onde<br />

começar?<br />

Estas profissões do futuro impõem novos<br />

desafios às instituições de ensino<br />

Admitamos que os progressos e as reformas curriculares nas instituições<br />

de ensino em Moçambique registaram mudanças significativas, porém,<br />

estas têm acontecido de uma forma lenta, hesitante e pouco ousada<br />

e às universidades, em particular.<br />

Evidentemente que as universidades<br />

precisam de se reajustar e definir<br />

cursos que priorizem competências<br />

para as áreas tecnológicas e, em consonância<br />

com os novos empregos que<br />

serão gerados, com requisitos muito<br />

mais exigentes, terão de manter a<br />

sua função de investigação e docência<br />

que, na prática, são a sua essência. Porém,<br />

sem optarem apenas pelo modelo<br />

de diplomas, como se tem verificado<br />

em diferentes situações. Será um<br />

risco fatal, porém, se vivermos alterando<br />

cursos a cada instante, quer pelo<br />

surgimento de uma nova indústria,<br />

quer por um novo recurso. Formar capital<br />

humano exige algum tempo e a<br />

garantia de que estaremos a prover<br />

uma base de raciocínio e questionamento.<br />

Esse é o nosso papel. Ensinar a<br />

pensar, a ter opções e a questionar. Isto<br />

representa mais de 75% do futuro trabalho<br />

profissional.<br />

Que modelos de formação há no<br />

mundo que melhor podem servir a<br />

Moçambique e provocar uma mudança<br />

efectiva?<br />

Os modelos de formação não são standards.<br />

Eles respondem à demanda nacional<br />

e a capacidades locais. Portanto,<br />

não nos serve de nada copiar, copiar<br />

e repetir aquilo que os outros já fizeram.<br />

O surgimento da indústria de gás<br />

e petróleo já obrigou a criação de novos<br />

cursos e formação técnico-profissional.<br />

Ainda assim, teremos de aprender<br />

destas tecnologias e aperfeiçoar<br />

a formação que provemos aos nossos<br />

graduados.<br />

A 4ª Revolução Industrial é impulsionada<br />

por três categorias distintas: a física,<br />

a digital e a biológica. Na categoria<br />

física terá os veículos autónomos e<br />

30<br />

www.economiaemercado.co.mz | Março <strong>2021</strong>

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