HEALTH-TECHS 46 www.economiaemercado.co.mz | Março <strong>2021</strong>
POWERED BY Os desafios das Megacidades de África Face às Mudanças Climáticas Com sérios problemas de saneamento do meio, as cidades africanas têm se debatido com enormes dificuldades de os solucionar. Afinal, quando foram projectadas não se equacionavam eventos que hoje experimentam, desde a pressão populacional até às mudaças climáticas TEXTO Rui Trindade • FOTOGRAFIA D.R. Com os seus 24 milhões de habitantes, Lagos, na Nigéria, é uma das grandes mega-cidades de África. E as projecções mais recentes indicam que essa população irá continuar a crescer até ao final deste século. Se a gestão urbana já hoje é considerada caótica e disfuncional ao extremo, os especialistas temem que a contínua pressão demográfica que se perspectiva venha a tornar a cidade ingovernável. A não ser que medidas radicais venham a ser implementadas. Durante a epóca das chuvas, a cidade fica praticamente intransitável. Isso deve- -se, em grande parte, à incapacidade para lidar, de forma eficiente, com as 10 mil toneladas de lixo produzidas todos os dias Um exemplo do tipo de projectos que estão a ser avaliados... designa-se “arquitectura flutuante” e que acabam por impedir o escoamento das águas inundando vastas zonas de Lagos. Este problema crónico pode vir a agravar-se substancialmente com o processo da mudança climática em curso. Embora os estudos indiquem que as chuvas tenderão a ser menos frequentes nas próximas décadas, a sua intensidade, porém, será muito mais elevada e violenta. Para complicar ainda mais a situação, os mesmos estudos sublinham que, se o aquecimento global for além dos dois graus centígrados, a subida das águas costeiras ultrapassará, em 2100, os 90 centímetros inundando partes da cidade de forma definitiva (uma situação que ameaça igualmente, entre outras, cidades como Accra, no Gana, Durban, na África do Sul, Luanda, em Angola, e Maputo, em Moçambique). Antecipando a possibilidade de um cenário deste tipo se materializar, as autoridades têm vindo a considerar vários tipos de soluções cujo foco se centra sobretudo em encontrar formas de mitigar o impacto das mudanças climáticas e adaptar o território à nova realidade em perspectiva. Um exemplo do tipo de projectos que estão a ser avaliados enquadra- -se no que se pode designar de “arquitectura flutuante”e tem tomado, como ponto de partida, o bairro de Makoko. Conhecido como a “Veneza de África”, o Makoko é uma gigantesca e labiríntica favela flutuante cujas habitações assentam em palafitas, sendo que a circulação se faz usando canoas. Foi no Makoko que, há alguns anos, o arquitecto Kunlé Adeyemi concebeu o protótipo de uma “escola flutuante” (The Makoko Floating School) cujo design, original e inovador, se tornou rapidamente num modelo de referência enquanto solução para outras cidades costeiras. Réplicas foram testadas inclusive em cidades europeias como Veneza (Itália) e Brugges (Bélgica). E, mais recentemente, em Cabo Verde, no Mindelo, Kunlé Adeyemi concebeu, no âmbito da iniciativa African Water Cities Project, desenvolvida pelo seu atelier de arquitectura, uma estrutura flutuante semelhante à projectada no Makoko. Apesar de a “escola flutuante” do Makoko ter sido afectada gravemente pelos temporais www.economiaemercado.co.mz | Março <strong>2021</strong> 47