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NAÇÃO<br />
ÁFRICA, UM CAMPO DE BATALHA ENTRE<br />
A DIFICULDADE E A OPORTUNIDADE<br />
A experiência africana com rápida disseminação de meios tecnológicos e startups confere vantagens<br />
que animam os analistas, mesmo com a prevalência de problemas estruturais ao nível das economias<br />
Texto Celso Chambisso • Fotografia Shutterstock<br />
l<br />
á fora, nos países desenvolvidos,<br />
a velocidade de mudança<br />
é brutal. As profissões que<br />
mais cresceram – e que já se<br />
previa que crescessem, mas<br />
que foram aceleradas pela<br />
pandemia do novo coronavírus – são<br />
as ′datificadas‛. Os gráficos das pessoas<br />
que estão a ficar fora do mercado de<br />
trabalho indicam que são as que não<br />
estão no contexto tecnológico e que exigem<br />
exposição física.<br />
João Gomes, partner da Jason Moçambique,<br />
não avança números<br />
definitivos, mas observa que o mercado<br />
evoluiu de tal modo que “nas<br />
principais cidades dos Estados Unidos,<br />
por exemplo, o metro quadrado de<br />
escritórios, que há poucos anos era extremamente<br />
caro, já está barato. Isto<br />
porque os escritórios foram literalmente<br />
abandonados e estão vazios.<br />
Isto significa que o elemento físico do<br />
trabalho está a desaparecer”. Esta é<br />
uma lógica comum às economias mais<br />
desenvolvidas e capazes de prover infra-estrutura<br />
tecnológica que permite<br />
a transição (digital) para o trabalho do<br />
futuro. E em África, como estamos?<br />
A pobreza como trampolim<br />
“Fazer das fraquezas forças”. Eis um<br />
lugar comum que encontra, no actual<br />
contexto, um lugar bem particular,<br />
premissa que fica literalmente subentendida<br />
no relatório do Banco Mundial<br />
sobre “O Futuro do Trabalho em África”,<br />
desenvolvido em meados de 2019<br />
por Mark Dutz, Jieun Choi e Zainab Usman.<br />
Ou seja, não obstante o facto de<br />
quase todos os países africanos atravessarem<br />
verdadeiros “desertos” que<br />
os separam deste novo mundo digital,<br />
há condições, e aliás “boas condições”,<br />
para os poder ultrapassar. Será? Vejamos:<br />
No documento, os especialistas<br />
começam por descrever as condições<br />
do continente, obviamente desfavoráveis<br />
à possibilidade de sonhar com<br />
progressos rápidos rumo ao trabalho<br />
do futuro. Caracterizam a África<br />
Subsaariana por uma diversidade de<br />
factores limitativos e, até, impeditivos<br />
da adopção das tecnologias digitais:<br />
Níveis baixos de capital humano para<br />
uma população jovem e em rápido<br />
crescimento; mais de 60% da força de<br />
trabalho composta por adultos mal<br />
equipados; sector informal particularmente<br />
vasto e distinto do de outras regiões<br />
em desenvolvimento em termos<br />
de dimensão e composição; sistemas<br />
de protecção social insuficientes e ineficazes,<br />
com oito em cada dez africanos<br />
sem cobertura por qualquer rede de<br />
segurança social.<br />
Tudo isto, num cenário de disrupção<br />
repentina provocado pela pandemia,<br />
a que se juntam os choques climáticos,<br />
a aceleração da integração económica<br />
e as transições demográficas, criará<br />
necessidades acrescidas de protecção<br />
social.<br />
E o contexto não fica selado sem referir<br />
a fraca rede de infra-estrutura de<br />
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www.economiaemercado.co.mz | Março <strong>2021</strong>