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E & M MZ Edição_35 MARÇO 2021

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NAÇÃO<br />

ÁFRICA, UM CAMPO DE BATALHA ENTRE<br />

A DIFICULDADE E A OPORTUNIDADE<br />

A experiência africana com rápida disseminação de meios tecnológicos e startups confere vantagens<br />

que animam os analistas, mesmo com a prevalência de problemas estruturais ao nível das economias<br />

Texto Celso Chambisso • Fotografia Shutterstock<br />

l<br />

á fora, nos países desenvolvidos,<br />

a velocidade de mudança<br />

é brutal. As profissões que<br />

mais cresceram – e que já se<br />

previa que crescessem, mas<br />

que foram aceleradas pela<br />

pandemia do novo coronavírus – são<br />

as ′datificadas‛. Os gráficos das pessoas<br />

que estão a ficar fora do mercado de<br />

trabalho indicam que são as que não<br />

estão no contexto tecnológico e que exigem<br />

exposição física.<br />

João Gomes, partner da Jason Moçambique,<br />

não avança números<br />

definitivos, mas observa que o mercado<br />

evoluiu de tal modo que “nas<br />

principais cidades dos Estados Unidos,<br />

por exemplo, o metro quadrado de<br />

escritórios, que há poucos anos era extremamente<br />

caro, já está barato. Isto<br />

porque os escritórios foram literalmente<br />

abandonados e estão vazios.<br />

Isto significa que o elemento físico do<br />

trabalho está a desaparecer”. Esta é<br />

uma lógica comum às economias mais<br />

desenvolvidas e capazes de prover infra-estrutura<br />

tecnológica que permite<br />

a transição (digital) para o trabalho do<br />

futuro. E em África, como estamos?<br />

A pobreza como trampolim<br />

“Fazer das fraquezas forças”. Eis um<br />

lugar comum que encontra, no actual<br />

contexto, um lugar bem particular,<br />

premissa que fica literalmente subentendida<br />

no relatório do Banco Mundial<br />

sobre “O Futuro do Trabalho em África”,<br />

desenvolvido em meados de 2019<br />

por Mark Dutz, Jieun Choi e Zainab Usman.<br />

Ou seja, não obstante o facto de<br />

quase todos os países africanos atravessarem<br />

verdadeiros “desertos” que<br />

os separam deste novo mundo digital,<br />

há condições, e aliás “boas condições”,<br />

para os poder ultrapassar. Será? Vejamos:<br />

No documento, os especialistas<br />

começam por descrever as condições<br />

do continente, obviamente desfavoráveis<br />

à possibilidade de sonhar com<br />

progressos rápidos rumo ao trabalho<br />

do futuro. Caracterizam a África<br />

Subsaariana por uma diversidade de<br />

factores limitativos e, até, impeditivos<br />

da adopção das tecnologias digitais:<br />

Níveis baixos de capital humano para<br />

uma população jovem e em rápido<br />

crescimento; mais de 60% da força de<br />

trabalho composta por adultos mal<br />

equipados; sector informal particularmente<br />

vasto e distinto do de outras regiões<br />

em desenvolvimento em termos<br />

de dimensão e composição; sistemas<br />

de protecção social insuficientes e ineficazes,<br />

com oito em cada dez africanos<br />

sem cobertura por qualquer rede de<br />

segurança social.<br />

Tudo isto, num cenário de disrupção<br />

repentina provocado pela pandemia,<br />

a que se juntam os choques climáticos,<br />

a aceleração da integração económica<br />

e as transições demográficas, criará<br />

necessidades acrescidas de protecção<br />

social.<br />

E o contexto não fica selado sem referir<br />

a fraca rede de infra-estrutura de<br />

34<br />

www.economiaemercado.co.mz | Março <strong>2021</strong>

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