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DEZEMBRO_digital

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Meu amigo, lembro-me perfeitamente desse momento, se

bem que já não me recordo das palavras. Era mesmo pequenino,

mas se tu dizes é porque é mesmo verdade.

Foi muito difícil chegar ao estrelato, sendo um artista minhoto

longe de Lisboa?

Karter Mendes . Braga

Como já disse, Portugal não é só Lisboa. Temos todo um restante

continente, ilhas e portugueses espalhados pelos 4 cantos

do mundo, que são sinónimo de grande qualidade. Infelizmente,

parece-me que depois do 25 de Abril, e ao contrário

do que seria espectável, Portugal tornou-se muito mais num

“Portugal é Lisboa e o resto é paisagem”. Todo o sucesso que

tive até hoje o devo aos de “fora de Lisboa”.

De onde vem essa energia toda? Esses saltos únicos?

Armindo Alves . Zurique

Esta é muito fácil, quando me levaste a tocar em Zurique,

já nem sei quantas vezes, a energia veio toda de Portugal.

Eheheheheheh. Estes saltos são uma inspiração / cópia do

que se faz no meu rico heavy metal. Não fui eu quem inventou

este salto. Mas assumo que fui eu quem o introduziu na

música tradicional. Entre muitas outras coisas que trouxe

para o mundo espetáculo, e que hoje vejo a ser copiadas. Mas

cópias muito mal feitinhas. Eheheheheheheh

O que é mais feliz para o amigo: ter amigos, ter dinheiro,

cantar sempre até que a voz lhe doa, ou viver descontraidamente

no mundo dos vivos?

Francisco Rosa . Barcelos

Fora dos palcos estás sempre a comer em público. É fome,

nervosismo, ou a ténia? Nos espectáculos estás sempre

“electrizado”. O que ingeres para teres essa “pica”, é com,

ou sem receita médica?

Manuel Araújo. Braga

Tantas e tantas vezes que saio à rua e vou a comer alguma

coisa, ou uma peça de fruta, ou uma sandes… já é normal

em mim. E os amigos já nem me conseguem ver sem ser

dessa maneira. Eheheheheheh. Em tempos já foi ténia,

agora é mais… apetite voraz. Nos espetáculos estou sempre

“electrizado” porque é o amor ao que faço que me deixa

naquele estado, portanto, é produto natural e sem receita.

Eheheheheheheh

Tens inúmeras músicas que poderiam dar mega sucessos.

Porque é que nunca aconteceu? O que faltou?

– Silvestre Mota. Panóias

Músicas para serem um mega sucesso, a tal coisa que dizem

me está a faltar, tenho eu muitas, não tenho é igualdade de

oportunidades na rádios nacionais e nas televisões para

fazer delas um hit. Um sucesso é feito de muita insistência.

Há que encher os ouvidos do público. E como só um programa

ou outro de televisão aposta em mim, é extremamente

difícil chegar lá.

Óbito

O medo das classes médias

Tenho amigos, algum dinheiro, e canto mesmo quando

a voz me doí, mas tudo isto com muita descontração.

Ehehehehehehehehe

Carlos Matos Gomes

O que levará que duas figuras risíveis, que em princípio

deveriam provocar o riso e o desprezo devido

aos bufões, a ter seguidores, a ser-lhes dado atenção

como se fossem seres humanos respeitáveis, dotados

de valores, de um discurso coerente?

O facto de Ventura e de Rangel aparecerem nos

órgãos de comunicação e perante nós – Nós – a comunidade

que anda por escolas, fábricas, hospitais,

universidades, igrejas, cinemas, teatros, museus, que

lavra, tece, conduz comboios, aviões, autocarros, que

entra numa livraria, que diz bom dia, obrigado, faz

favor dar atenção e levar a sério estas duas figuras

de pechisbeque, de aceitar que se apresentem como

candidatos a serem os seus dirigentes, a intervir nas

suas – nossas – vidas é para mim um mistério e, assumo,

uma vergonha.

Haverá uma explicação para estas aberrações merecerem

um segundo de atenção, um cagagésimo de

respeito e crédito?

Há, e não é uma bom motivo. A explicação chama-se

medo!

O jornal El País de hoje contem uma artigo de Joaquin

Estefania que explica estes comportamentos

em que os mais abjetos seres de entre nós podem

ser tomados como remédio e salvação.

Vivemos um momento da história (como outros) em

que se perdeu o “princípio da esperança” e se instalou

o medo e a incerteza. Como consequência as

classes médias enfrentam a realidade assustadas

como um rebanho perante uma trovoada. A indefinição

do conceito de “classes medias”, permite que

todos os que não pertencem aos extremos sociais se

sintam temerosos pelos estragos provocados pela

crise que vem, recorde-se, de 2008 e do escândalo

do Lhemann Brothers.

A filósofa Hannah Arendt, no livro “Homens em tempos

de escuridão” escreveu que o mundo se torna

negro quando os cidadãos deixam de partilhar sentimentos

de responsabilidade coletiva e apenas se

preocupam com os seus interesses individuais, quando

perdem por completo a confiança na política e

voltam as costas a tudo o que diz respeito à esfera

pública. Quando a população manifesta desconfiança

e receio nas instituições democráticas e o individualismo

alcança cumes sem precedentes.

Os Venturas, os Rangel surgem deste medo e deste

individualismo extremo.

Vivemos numa sociedade doente quando monos

como estes surgem no espaço público a vender banha

de cobra e têm compradores.

https://elpais.com/.../el-miedo-de-las-clases-medias.

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