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Um

O príncipe

Foi um momento tão inesperado e bizarro que, anos depois, eu me perguntava se aquilo realmente tinha acontecido ou se

era uma falsa memória produzida pelo trauma. Mas ainda me lembro de Lars descendo de muletas a escada do Hammersmith

Odeon.

Não me lembro do show — de quem era ou qual foi —, mas só do momento em que ele cambaleou escada abaixo no

maior gás, me chamando: “Ei, Mick, seu puto! O que está pegando?”.

As portas da frente já estavam trancadas, e os fãs tinham ido embora havia muito tempo, por isso só consegui pensar que

ele ficara tomando drinques pós-show como eu, fazendo hora até de madrugada no bar dos bastidores, e agora estava

procurando um táxi para voltar para casa. Porém, eu não o tinha visto. No estado mental em que me encontrava, meu campo

de visão estava limitado, apertava tanto os olhos que até doía. Era a primeira vez que eu saía desde que minha mãe havia

morrido semanas antes. Mais jovem do que sou agora, ela fora derrotada por um câncer no cérebro, e o final, embora

relativamente repentino, fora precedido por circunstâncias muito duras, excruciantes para ela, deploráveis para nós que a

acompanhavámos.

Lars desceu os degraus num instante e aproximou o rosto do meu. “Oi”, ele disse. Fiz alguma brincadeira sobre as muletas.

“É por causa do dedo do pé”, ele respondeu, embora fosse uma notícia tão velha que nem merecia ser mencionada. Devo ter

parecido confuso. “Eu quebrei.” Eu o encarei. “No acidente”, ele acrescentou, impaciente.

Eu estava acostumado com astros do rock, mesmo com aqueles que ainda não eram famosos, como Lars, que esperavam

que você soubesse de todos os detalhes de seu trabalho e se mostrasse fascinado com eles. Mas mesmo assim... Dedo do pé

quebrado? Acidente? Que acidente?

Mas ele não queria falar disso. Lars veio saber se eu também tinha ido ver o show deles.

Novamente, fiquei perplexo. Ele sacou na hora. “Quando tocamos aqui, panaca!” Ah, agora eu entendi. O Metallica

também tinha tocado recentemente no Hammersmith Odeon. Como seu mais novo defensor na imprensa roqueira britânica,

fazia sentido que ele esperasse me ver na primeira vez em que a banda fosse a atração principal numa casa de prestígio.

Porém, estava na cara que eu não tinha ido. Na verdade, eu devia estar no hospital, ou indo ou voltando de lá. Era isso ou eu

tinha estado no inferno.

Só que naquela hora eu não sabia transformar aquilo em palavras. Mal conseguia explicar para mim mesmo, que dirá

para outra pessoa. Eu tinha 28 anos, e meu mundo, ao mesmo tempo, diminuíra e se expandira de um jeito que ainda lutava

para entender. Ele estava com 22 anos e não tinha o menor interesse naquilo. A única coisa que importava era o Metallica,

seu puto!

“Não”, respondi, cansado demais para tentar mentir. “Foi bom?”

“Quê?”, ele explodiu? “Se foi bom? Você não viu?” Ele me olhou com um ar de decepção associada a raiva e choque. “Sim,

foi bom pra caralho! Você perdeu um puta show! Os ingressos esgotaram, e os fãs enlouqueceram!”

“Ah, que legal. Desculpe não ter visto, cara.”

Seus olhos ultrajados estudaram os meus. Um garoto precoce se transformando rapidamente num homem, Lars devia estar

apaixonado demais pelo Metallica e pelo barato que estava vivendo para se distanciar e pensar nos outros, mas ele não era

idiota, e naquela hora deve ter sacado alguma coisa na minha cara — sem saber exatamente o que era, o bastante para

perdoar aquela mancada, mas não para esquecê-la, não num futuro próximo —, pois mudou de assunto e, depois de zoar

mais um pouco, foi embora mancando, ainda descontente comigo, mas não tão ofendido, ao menos era isso que eu esperava.

Ele e seu dedo quebrado do pé...

Vi como ele desaparecia na noite, acompanhado pelo guarda-costas, à procura de carona para casa ou seja lá para onde

estivesse indo.

Acidente, pensei, que acidente?

Quando James Hetfield conheceu Lars Ulrich, sacou qual era a dele na hora. “Um riquinho”,

pensou com seus botões. Você conhece o tipo: um cara que tem tudo, o filho único que

desconhece um “não”. E ele era assim. Nascido numa casa do tamanho de um castelo, na

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