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Três

Couro nos seus lábios

Numa noite qualquer, em 1986, estava em casa, chapado, com minha garota, quando o telefone tocou — de novo.

Aborrecido, atendi. Ouvi bipes. Estavam ligando de um orelhão.

“Oi, Mick! É o Lars!”

Fiz uma pausa enquanto vasculhava a mente atrás de um rosto que combinasse com o nome.

“... do Metallica!”

Ah... sim, Lars. Como ele teria conseguido meu número?

“Oi, Lars. Tudo bem?”

“Sim, beleza...”

Aí rolou a lenga-lenga de sempre em que escutava como ele e a banda estavam se dando bem. Ele falava sobre shows que

foram “impressionantes”. Que algumas pessoas eram uns “cuzões do caralho” ou, com mais frequência, “gente boa pra

caralho”. Ele falava de cervejas, móveis que quebraram e foram jogados pela janela, risos em todo canto, farras sem fim,

inevitáveis. Enquanto ele seguia nessa toada naquele sotaque dinarmaquês-americano bagunçado, ouvi ao fundo o

inconfundível som de um pub bombando.

Aí então ele chegou aonde queria. “Escute, estava pensando, não tenho onde ficar hoje...”

Sabia que era uma mentira ou inverdade. Todo mundo sabia que quando Lars ficava em Londres naquela época, ficava

na casa chique do novo empresário, mas ele queria alguma coisa, e eu já estava sacando o que era.

“Escute, eu estava pensando, será que posso ir até sua casa, quem sabe dormir no sofá?”

Claro que não. Naquela noite não. Queria ficar sossegado. Só que não conseguia me expressar...

“... quem sabe a gente toma umas cervejas, fica de bobeira... que tal?”

Olhei para minha namorada, e ela murmurou “não”. Ela já havia cometido o erro de dar de ombros e dizer “sim” muitas

vezes antes.

“... quem sabe ver um show. Sabe o que tem hoje? A gente podia se encontrar na Wardour Street, no Ship. Na verdade, é

onde estou agora...”

Finalmente — finalmente — vi uma brecha e comecei a contar uma história desanimada sobre uma matéria que precisava

terminar e, talvez, semana que vem ou outro dia, quem sabe, pois, devia encarar os fatos, sempre haveria uma próxima vez

para alguém como Lars.

“Quê?”, ele disse, não caindo na conversa. “Não quer que eu vá aí?”

“Não”, respondi, “é claro que quero. Seria ótimo. É que...”

“Puxa vida! Mas eu não tenho onde ficar.”

“Pensei que estivesse hospedado na casa do Peter.”

“Estou, mas é chato pra cacete. Eu preciso sair, tomar umas, mudar de ares. E aí, o que me diz?”

Ouvi os bipes de novo, e ele depositou mais uma moeda. Só que eu me adiantei. “Escute, hoje não dá mesmo. Foi muito

bom falar com você, cara. Da próxima vez...”

“Beleza”, ele disse, nem um pouco convencido. E então a linha ficou muda. Ufa. Foi por pouco. Quer dizer, o cara era

bacana, do bem, mas nunca fechava a matraca. Voltei a me deitar no sofá, enrolei um e tentei esquecer...

Lançada em junho de 1982, a primeira edição limitada do monumental álbum Metal massacre,

orquestrado por Brian Slagel, mudou tudo para Lars Ulrich e James Hetfield. Antes dela, eles

eram apenas dois adolescentes com a ideia de montar uma banda de rock. Depois dela, eram

uma entidade, algo a ser levado em consideração, algo chamado Metallica — ou, na verdade,

“Mettallica”, como apareceu na capa e no selo da tiragem original. Lars e James não sabiam se

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