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acontecendo”, revelaria James mais tarde. Chegar da escola e notar que faltavam coisas do pai

— levadas por Virgil enquanto os filhos não estavam para causar o mínimo de comoção — não

aliviava o choque, somente aguçava a dor e a sensação de traição. “Era tudo meio escondido.

Este é um grande defeito de caráter que ainda carrego: acho que todo mundo está escondendo

alguma coisa de mim.”

Na escola, antes de o pai sumir, James contou que era um “aluno bem mediano. Bastante

quieto, reservado, que cumpria as obrigações, depois ia para casa se divertir e brincar, com

qualquer coisa”. Amante de esportes, os únicos empecilhos, segundo ele, eram as

consequências da obediência rigorosa dos pais ao sistema de crenças da Ciência Cristã. Um

nome inadequado, visto que a religião proíbe seus seguidores de ter qualquer relação prática

com a ciência, incluindo, o pior, a medicina moderna, seja tomando aspirina para dor de

cabeça ou recebendo tratamento hospitalar por causa de um acidente ou doença fatal. Uma

dessas novas religiões norte-americanas nascidas no século XIX que ninguém mais neste

planeta levaria a sério, ela ainda exerce grande domínio em certos segmentos da classe

trabalhadora dos Estados Unidos. E James ainda suspira fundo quando pedem para falar a

respeito. “Não tinha impacto na escola. Eles não tinham escolas próprias nem era como

estudar numa escola católica. Mas, certamente, me afetou. Afetou mais a mim do que à minha

irmã e irmãos, pois eu... Sei lá, acho que encarei como algo pessoal.” Ele fez uma pausa,

escolhendo as palavras. “Nossos pais não nos levavam ao médico. Basicamente dependíamos

do poder espiritual da religião para nos curar ou nos proteger de doenças ou machucados. Por

causa disso, na escola, a pedido dos meus pais, eu não podia participar das aulas de saúde, para

aprender sobre o corpo, para conhecer as doenças e questões afins. E, por exemplo, se eu

tentasse entrar no time de futebol americano, era preciso ir ao médico, levar um atestado... Eu

tinha de explicar ao treinador que nossa religião não permitia. Então eu me sentia excluído...

Um pária. As crianças riam disso, e eu encarava como algo pessoal. Um dos lances mais

traumáticos para mim era [quando] a aula de saúde começava e eu ficava de pé no corredor, o

que era quase um outro tipo de castigo. Ei, você foi mau, terá de ir à diretoria ou ficar na porta

da sala. Então, quem passava me olhava como se eu fosse um marginal, entende?”

Era duro, mas segundo ele isso também ajudou a formar sua personalidade. Não que

James tivesse essa compreensão naquela época. “Quando se é jovem você quer ser igual a todo

mundo, não quer ser diferente, mas vejo a singularidade disso agora, o que me ajudou a aceitar

e adotar minha individualidade.” Para James, foram essas experiências difíceis na infância, de

sempre ser o estranho da escola, que criaram sua capacidade de não andar em bando, de

sempre ficar meio distante do resto do grupo. “Ajudou a traçar meu próprio caminho, falo até

do aspecto espiritual; quando se é criança não dá para compreender o conceito de

espiritualidade. Era um tipo de conceito muito adulto e, para mim, não ir ao médico era

estranho. Tudo que via eram as pessoas na igreja com ossos quebrados e que eles estavam se

curando da maneira errada — isso não fazia sentido para mim. Então, quando eu falava essas

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