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SAMA2020

Espaço Óbito

A Humanização da

Administração Pública

Ground zero – O impacto

O conceito base do Espaço Óbito surge pela

primeira vez no âmbito dos programas

Justiça + Próxima e Simplex 2017, em

resposta às necessidades manifestadas por

vários cidadãos: um projeto que encerrasse

um modelo de atendimento integrado da

Administração Pública (AP), mais próximo e

mais humano.

Recordo-me perfeitamente da primeira

abordagem à ideia, aquando de uma ação para

apresentação do conceito, promovida pelo MJ

– GSEJ e pelo LabX da AMA, em que estavam

presentes representantes institucionais e

técnicos das entidades que se pretendiam

envolver no projeto: Instituto dos Registos

e do Notariado, Autoridade Tributária,

Instituto da Segurança Social, Caixa Geral de

Aposentações, ADSE e Banco de Portugal.

Recordo-me da estupefação e descrédito

revelados pelas expressões faciais da

generalidade dos interlocutores presentes,

do sorriso complacente e paternalista que

trocámos entre nós, técnicos de uma AP

espartilhada por natureza e com estreitos

canais comunicantes, sob rígidas regras de

não ingerência, hermeticamente fechados

nos parâmetros de intervenção singular –

convictos de que naquela disciplina de limites

residia a ordem superior de toda a intervenção

do Estado.

Disseram-nos que se pretendia, num

momento especialmente fragilizante da

existência humana, a integração numa

única frente de atendimento de todos os

serviços públicos e privados, com os quais

se impõe a interação dos cidadãos aquando

do evento óbito, ou seja, num balcão único,

sem indexação específica a um organismo

concreto do Estado, os utentes poderiam dar

entrada, direta ou indiretamente, de todos os

pedidos e documentação necessários para o

cumprimento das suas obrigações e acesso aos

seus direitos aquando da morte de um familiar

ou pessoa próxima.

Admito que a reação primeira e imediata,

penso que transversal a todos os presentes,

foi a de que estávamos perante um lirismo

ideológico, sem qualquer possibilidade de

tradução na realidade da AP, presente ou

futura.

Secretamente, ocorreu-nos ainda que, para

além de lírica, era uma ideia potencialmente

perigosa, porquanto desafiante das firmes

«baias» da AP e da ordem coerente e

confortável desta definição milenar – cada

um de nós sabia o que fazia e como o fazer e

nenhum outro organismo poderia fazer o que

fazíamos, sem incorrer em esbulho violento

e grosseiro das competências alheias, com

consequentes erros técnicos de gravidade

incalculável.

Para piorar o estado de pânico generalizado

dos técnicos presentes, o projeto inicial

seria desenvolvido e posteriormente

acompanhado por um novo organismo, um

laboratório alojado na estrutura da AMA,

cuja label de apresentação era «metodologia

de experimentação». Uma equipa muito

jovem, onde borbulhavam ideias, iniciativas

e dinâmicas, num frenesim criativo a que

assistíamos num silêncio estupefacto e

descrente.

LabX: «les enfants terribles» – A metodologia

da experimentação

O projeto fundava-se na pretensão de uma

resposta única e agregada do Estado e dos

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