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oliberal.com

integravam o bloco soviético, incluindo a

Estónia e a Letónia, que fazem fronteira, a

leste, com o estado russo. Neste contexto,

a intenção de integrar a Ucrânia na aliança

militar ocidental foi a gota de água que fez

transbordar um copo que há muito tinha

vindo a ser, sem necessidade, preenchido.

Mais do que a riqueza agrícola e mineral daquele

país, que tem a capacidade para alimentar

seiscentos milhões de pessoas, foi

a possibilidade de ver armas e tropas ocidentais

a meia dúzia de quilómetros do seu

território, algo que nem ocorreu durante a

Guerra Fria, que contribuiu para a resposta

russa, a qual qualquer um poderia prever,

por muito básico que fosse o seu conhecimento

de política mundial. Os brasileiros

usam a expressão ‘cutucar a onça com vara

curta’ – e a mesma cai que nem uma luva

no contexto da Europa de Leste, onde americanos

e europeus têm andado, há muito,

a interferir na política dos estados que lá

existem de uma maneira que nunca teriam

aceite que a Rússia fizesse junto dos seus

vizinhos. Por exemplo, nem o México, nem a

Irlanda, são membros da NATO. Que fariam

americanos e europeus se os russos lá colocassem

as suas armas e os seus exércitos?

Ficariam impávidos e serenos? A julgar pelo

que se passou em Outubro de 1962, quando

a União Soviética colocou mísseis em

Cuba, a resposta talvez fosse uma crise nuclear,

pois foi exactamente isso que então

se passou. Não nos esqueçamos da História!.

Para agravar a trapalhada, europeus e

americanos continuam a provar que andam

a navegar à vista no complexo mundo da

política internacional. Depois de terem criado

expectativas de protecção ao povo ucraniano,

ficaram sentados nos seus gabinetes

quando armas russas caíram sobre aquele

território. Ninguém avançou, ninguém pegou

em armas. Pelo contrário, impuseram

sanções económicas (facilmente contornáveis)

e ergueram vozes em coro, como se o

exército russo, um dos mais poderosos do

mundo, fosse contido com páginas de jornal,

protestos na porta de embaixadas ou

declarações de senhores com gravata em

frente às câmaras da domesticada imprensa

ocidental. Faltou-lhes honrar palavra.

Faltou-lhes humanismo. Nem tínhamos esquecido

o pântano que americanos e europeus

criaram no Afeganistão, fugindo com a

cauda entre as pernas e deixando para trás

crianças, mulheres, jornalistas e um enorme

arsenal que os talibãs hoje usam para impor

a sua violência e obscurantismo, fomos deparados

com a crise ucraniana, resultante,

em grande escala, de líderes ocidentais que

não percebem como funciona a arena internacional,

não cumprem as suas promessas

e não defendem aqueles que prometem

ajudar. Já vimos este filme. Não acaba bem.

E quem sofre não são os tais senhores e as

senhoras que produzem inócuas declarações

que enchem os telejornais. Quem sofre

são aqueles que ficaram presos nos abrigos

subterrâneos de Kiev, que fugiram da sua

terra com a sua vida dentro de uma mala,

que viram as suas famílias quebradas, que

viram os seus mais queridos serem mortos.

São eles as verdadeiras e maiores vítimas

de um Ocidente sem noção, sem rumo, sem

moral, sem ética e sem vergonha. s

saber abril 2022

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