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A fotografia é cada vez
mais democrática no seu
acesso e produção. E,
por isto, acho cada vez
mais importante apostar
na literacia visual
a sua história. Atualmente, estou envolvida
num projeto de fotografia participativa com
comunidades piscatórias da Madeira, onde
vamos criar um arquivo digital com fotografias
já existentes e a produção de novas
imagens pelas próprias comunidades. Gosto
desta ideia de trabalhar com e para os arquivos.
Além disso, venho da Arqueologia.
Inevitavelmente, quando fotografo, tento
ser objectiva e neutra na captação mas tenho
em conta a subjetividade da própria
fotografia. Gosto de fotografar territórios
ou paisagens construídas. Onde fotografo
elementos da paisagem e arquitectura vernacular
sem uma visão romântica e idílica.
O que significa a Fotografia para si e
como é que esta se torna a sua profissão?
- A fotografia é uma ferramenta de partilha.
Tiramos fotografias para contar histórias, a
nossa história, de um ponto de vista pessoal.
No nível artístico e conceptual, para partilhar
o nosso ponto de vista, para fazer perguntas.
Acho que qualquer obra de arte se
não tiver esta componente não acrescenta
muito ao diálogo. A fotografia pode ser uma
ferramenta de registo de uma época quando
as imagens são contextualizadas. Tendo
sempre em conta a sua subjectividade. Comecei
o meu percurso na Arqueologia, aos
16 anos, onde tive aulas de fotografia. Quando
acabei o curso não tinha trabalho em arqueologia
na Madeira e, por acaso, consegui
em fotografia com o Miguel Perestrelo. Estudei
no Instituto Português de Fotografia, em
Lisboa, e mais tarde no Instituto Politécnico
de Tomar, onde me licenciei em Fotografia.
Antes de ir estudar para Lisboa, trabalhei
como assistente de dois fotógrafos e quando
acabei o curso trabalhei nas revistas
Fiesta! e Saber Madeira. Fui correspondente
para a agência Latin Photo durante uma viagem
que fiz ao Brasil, México e Guatemala,
onde tive contacto com várias comunidades
indígenas. Depois de estudar em Tomar,
dediquei-me à prática de alguns processos
históricos, ditos alternativos, e a dar aulas
de fotografia. Tenho feito um pouco de tudo
na fotografia, desde o fotojornalismo, arquitectura,
comida e produto etc. Também fiz
voluntariado no Museu Fox Talbot na Inglaterra
quando lá vivi.
Tem um fotógrafo/a de eleição?
- Tenho vários!. Walter Evans, pelo seu olhar
sobre a iconografia do lugar, a sua objectividade
e clareza, assim como o seu empenho
por documentar os efeitos da Grande
Depressão, no território rural americano. A
exposição “New Topographics: Photographs
of a Man-Altered Landscape” e os fotógrafos
participantes, cuja principal herança se
pode traduzir num corte com a fotografia
modernista, mais tradicional e idílica. Por
fim, o trabalho de Alec Soth que se encaixa
na tradição do documentário pessoal e no
espírito On the Road (Jack Kerouac) de nomes
como Robert Frank, William Eggleston
e Stephen Shore. Soth, em Sleeping by the
Mississipi, delimita o seu espaço de trabalho
à volta do rio Mississípi apesar de não ser o
seu assunto principal.
Quem ou o quê gostaria de vir a fotografar
- uma personalidade, um lugar…?
- Sempre tive muito interesse e curiosidade
nas comunidades indígenas. Por isso, se for
para escolher qualquer lugar no mundo,
seria a América Latina ou as ilhas do Pacífico.
Mais perto de casa, gostaria de trabalhar
com a comunidade Luso- Venezuelana
dentro da fotografia participativa. Também
nesta ideia de produção de um arquivo da
memória da nossa Migração.
Que desafios e dificuldades enfrentam os
fotógrafos na atualidade?
- As várias crises financeiras e desafios mundiais
que têm ocorrido nos últimos anos,
apresentam dificuldades para todos, incluindo
os fotógrafos. Muitas vezes, os trabalhos
são mal pagos e escassos. Por outro lado,
para os fotógrafos com formação, que poderiam
contribuir em publicações, arquivos
e museus, não encontram vagas suficientes
nestas instituições e empresas. s
Os fotógrafos
com formação, que
poderiam contribuir em
publicações, arquivos e
museus, não encontram
vagas suficientes
nestas instituições e
empresas
saber junho 2022
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